Restos humanos que seriam de Dom Phillips e Bruno Araújo são encontrados e PF aguarda perícia

Motivação da barbárie teria sido a pesca ilegal do pirarucu na região, de acordo com agente da Instituição ouvido por jornal

A Polícia Federal encontrou restos humanos que seriam do jornalista do The Guardian, Dom Phillips, e do indigenista Bruno Araújo Pereira, que foram executados e estavam desaparecidos desde 5 de junho. Novos suspeitos que teriam participado do assassinato estão sendo procurados.

No local onde estavam sendo feitas as escavações foram encontrados restos humanos, que foram encaminhados para perícia. A informação foi confirmada nas redes sociais pelo ministro da Justiça, Anderson Torres.

Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, de 41 anos, pescador ilegal, revelou aos policiais que chegou a ouvir os disparos que tiraram a vida de Dom e Bruno. Ele negou que tenha participado diretamente das execuções:

De acordo com transcrição do portal de notícias Metrópoles, uma fonte da PF afirmou que Pelado “falou que, quando chegou no local, o indigenista e o jornalista já estavam mortos. Logo depois, os corpos foram parcialmente carbonizados, mas ainda poderiam ser identificados. Seu envolvimento mais efetivo teria sido ao enterrar as vítimas”.

A perícia também vai determinar a causa da morte e a arma utilizada no crime. Em outra publicação sobre o caso, na Folha de S. Paulo, Pelado disse à PF que as mortes ocorreram com disparo de arma de fogo.

O Superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, afirmou que os restos humanos foram encontrados a 3,1 km por mata adentro e que não teria sido possível, nesse período de tempo, sem a confissão de Pelado.

Em sendo comprovados que os remanescentes são relacionados ao Dom Phillips e ao Bruno Pereira, serão entregues à família“, disse o delegado, em entrevista coletiva de imprensa realizada em Manaus.

Ontem [14/6] à noite, o primeiro preso [Pelado], no final da noite, resolveu confessar a prática criminosa. Ele narra com detalhes e aponta o local onde havia enterrado os corpos. Saímos cedo ao local [nesta quarta-feira (15/6)] e lá houve demora porque realizamos a reconstituição do crime. Depois fomos ao local onde ele disse que havia enterrado os corpos e onde havia afundado a embarcação“, relatou.

As autoridades que participaram da entrevista disseram ainda que novas prisões podem ocorrer. “Todos os esforços foram empregados. Nossa missão precípua desde o início era encontrá-los com vida. Infelizmente trazemos essa triste notícia“, disse o delegado da Polícia Civil, Guilherme Torres.

Ele afirmou que a força-tarefa não terminará nesta quarta e que não descarta a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. “Hoje, podemos dizer que um grande passo foi dado neste caso hediondo. Um crime brutal“.

A embarcação com policiais federais subiu o rio Itaquaí, percorrido por Pereira e Phillips, pouco antes das 13h (15h no horário de Brasília).

O outro suspeito conhecido, Oseney de Oliveira, o Do Santos, preso na terça (14), permaneceu em Atalaia nesta quarta para a audiência de custódia. Ele é irmão de Pelado. A PF disse que ele nega ter participado do crime.

O superintendente da PF do Amazonas disse que há indícios de participação de uma terceira pessoa.

Os irmãos vivem na comunidade São Gabriel, onde moram ribeirinhos que sobrevivem da pesca e da agricultura tradicional.

Na última sexta (10), a PF divulgou que também havia encontrado o que poderia ser vestígios de material genético humano na região do rio Itaquaí, mas ainda aguarda o resultado da perícia.

Os investigadores falaram na ocasião em material “aparentemente humano” nas proximidades do porto de Atalaia do Norte.

Após a coletiva de imprensa em Manaus, a esposa de Phillips, Alessandra Sampaio, disse que o “desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro” de seu marido e Pereira.

“Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor”, disse Alessandra, em um comunicado. Ela afirmou ainda que, agora, tem início agora uma jornada por justiça.

“Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível”, afirmou.

As buscas por vestígios de Pereira e Phillips estavam concentradas num trecho do rio entre São Gabriel e a comunidade Cachoeira.

Durante as buscas pelo indigenista e pelo jornalista, as equipes de buscas conseguiram localizar uma mochila, roupas e um documento pessoal do indigenista.

A investigação aponta, até agora, a pesca e a caça ilegal na região —e os conflitos decorrentes das atividades ilegais— como pano de fundo do suposto crime.

De acordo com o policial civil Alex Perez, que comanda a delegacia em Atalaia do Norte, duas testemunhas “colocaram” Pelado “no local do suposto crime”.

A Polícia Civil do Amazonas realizou na terça buscas na comunidade São Gabriel. Na operação, foi apreendido um remo. A PF também disse em nota que alguns cartuchos de arma de fogo foram apreendidos, mas não especificou onde eles estavam.

No domingo (12), mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas encontraram uma mochila e outros pertences pessoais do jornalista e do indigenista. Os objetos estavam amarrados numa árvore submersa, no rio Itaquaí, o que indica, segundo os bombeiros, intenção de ocultamento.

​Policiais também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.

Se for confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.

Pereira e Phillips faziam uma viagem pela região próxima ao território indígena, o segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do Amazonas.

A região do desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena.

Há relatos de tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por parte de pescadores ilegais. O cenário de conflitos levou a um reforço da vigilância empreendida pelos próprios indígenas, a partir de uma iniciativa da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

Pereira é servidor federal licenciado da Funai e prestava serviço à Univaja. Ele atuava como um fomentador da vigilância indígena.

A reserva indígena no Vale do Javari frequentemente é invadida por pescadores irregulares. Criminosos faturam cerca de R$ 100 por cada quilo de pescado vendido.

Comente

Comente

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Descubra mais sobre

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading