Outra eventual indicação de Lula, a do subprocurador Paulo Gonet para a PGR, também aumenta as chances de que o atual Advogado-Geral da União se aposente na Corte daqui a mais de 30 anos
A eventual indicação, pelo Presidente da república Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do subprocurador Paulo Gonet para a PGR (Procuradoria-Geral da República) aumenta as chances do atual AGU (Advogado-Geral da União), Jorge Messias, ser também indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal) no lugar da agora aposentada ministra Rosa Weber, escreve a jornalista Malu Gaspar, no ‘Globo‘, em cujo texto afirma que essa é a avaliação de interlocutores do estadista.
Gonet é o candidato dos ministros da Corte, o decano Gilmar Mendes e o também presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes, que, lembra Gaspar, também trabalham pela indicação do ministro da Justiça e segurança Pública, Flávio Dino (PSB).
A jornalista diz que, apesar de não haver nenhuma relação de dependência entre os dois cargos, a coincidência temporal entre as duas escolhas produziu uma simbiose política que deve levar o presidente Lula a tentar equilibrar o peso de cada grupo contemplado nas indicações.
Gaspar exemplifica sua argumentação mostrando que Gonet chegou a ser considerado favorito para a PGR logo após Augusto Aras encerrar seu mandato, no final de setembro, mas foi perdendo força, entre outras razões, porque Lula passou a ter Dino como preferido para o Supremo e não queria entregar poder demais a Gilmar e Moraes nomeando seus candidatos para os dois postos.
A jornalista diz ainda que, desde então, Lula chegou a conversar com outros candidatos, como os subprocuradores Antonio Carlos Bigonha e Aurélio Rios, mais alinhados ao PT. Nos últimos dias, interlocutores próximos do presidente diziam inclusive que Rios parecia ter mais força.
Assim, Gonet foi sendo reabilitado à medida que Flávio Dino viu suas chances derreterem, escreve Malu Gaspar, depois que o “Estadão” publicou que a mulher de um dos líderes de uma das maiores facções criminosas do Brasil no Amazonas foi recebida em duas ocasiões no ministério por secretários de sua pasta.
Percebendo o movimento de Lula, conta a jornalista, várias alas do PT que estavam engajadas na campanha pelo subprocurador Antonio Carlos Bigonha passaram a concentrar esforços no lobby por Messias para o STF, considerado um cargo mais estratégico, além de praticamente vitalício – os indicados podem atuar na Suprema Corte até completarem 75 anos.
Gaspar faz as contas e excreve: Isso significa que se Messias (43 anos) for escolhido, ele poderá ficar no STF até 2055. Já o mandato de Gonet valerá por dois anos, podendo ser reconduzido por mais dois.
A jornalista rotula Messias um petista que há até pouco tempo era visto como uma “segunda opção” de Lula para o Supremo, por ser mais jovem e supostamente ter menos “estatura” para a Corte.
De perfil discreto e conciliatório, em contraposição à postura beligerante e midiática de Dino, o advogado-geral da União tem o apoio de parlamentares do PT de São Paulo, do senador Jaques Wagner (PT-BA), de quem foi chefe de gabinete, e do Prerrogativas, influente grupo de advogados próximo de Lula, lembra a jornalista.
Um dos argumentos usados em defesa de Messias é o fato de que, justamente por ser mais jovem e menos autônomo em relação ao presidente do que Dino, o advogado-geral da União no STF seria mais grato a Lula e mais propenso a “cumprir missões” em nome do presidente, diz a jornalista, que prossegue:
Outro argumento dos petistas, já relatado pelo blog, é o de que, como Messias é evangélico da Igreja Batista, sua eventual indicação daria a Lula a oportunidade de fazer um aceno a um eleitorado que aderiu a Bolsonaro – além de neutralizar uma possível ofensiva da oposição, que se veria constrangida a endossar um evangélico para o Supremo.
Por outro lado, a indicação de Gonet agradaria Gilmar Mendes, que já foi seu sócio no Instituto de Direito Público, e Moraes, que tenta emplacar no Ministério Público Federal (MPF) um aliado para atuar em sintonia com a Polícia Federal e o seu gabinete nos inquéritos das joias sauditas, a fraude na carteira de vacinação de Bolsonaro e a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, avalia Gaspar.
Gonet já provou ao todo poderoso ministro do Supremo que pode ser esse aliado quando estava no TSE, rabisca a jornalista, que concluiu:
Como vice-procurador-geral eleitoral, Gonet defendeu a condenação de Jair Bolsonaro na ação que levou à inelegibilidade do ex-presidente por promover uma reunião com embaixadores repleta de ataques ao sistema eletrônico de votação.