Gleisi: ‘Não é só revogar a reforma, mas rever toda a legislação para dar dignidade aos trabalhadores’

A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e deputada federal, Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio LULA da Silva | Sobreposição de imagens


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

É uma aberração que a pessoa não tenha assegurado sequer o direito ao salário mínimo, nem outros direitos trabalhistas“, afirma a presidente nacional do PT sobre os planos do próximo governo LULA

A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou em entrevista ao colunista Chico Alves que a revisão da reforma trabalhista faz parte dos planos da legenda na provável gestão LULA, a partir de 2023. A parlamentar chegou a afirmar que “tem que fazer uma ampla revisão” e que “não é só revogar a reforma; vai ter que rever toda a legislação do trabalho no sentido de dar dignidade aos trabalhadores; é uma aberração que a pessoa não tenha assegurado sequer o direito ao salário mínimo, nem outros direitos trabalhistas“.

De acordo com Gleisi, com a reforma trabalhista, iniciada pelo governo Temer e mantido, na sequência, pelo governo Bolsonaro, “houve o enfraquecimento da Justiça do Trabalho e do movimento sindical“. Isso “retirou dos trabalhadores as condições de reivindicar seus direitos“.

Assim, “um desempregado que hoje quiser fazer uma representação na Justiça, esses pensam várias vezes. Não vão ter dinheiro para pagar“. Além disso, “eles jogaram para tentar desmobilizar, desarticular o movimento dos trabalhadores e tirar as condições de fazer protesto” e “também quiseram criar uma grande massa de mão de obra disponível a custo barato, o mais barato possível”.

Na sequência, Gleisi afirmou que “a gente acha que tem que fazer uma ampla revisão, não é só revogar a reforma, né? Vai ter que rever toda a legislação do trabalho no sentido de dar dignidade aos trabalhadores”.

Perguntada por Chico Alves se a reforma trabalhista da Espanha inspirou LULA e Gleisi para fazerem “o mesmo por aqui“, a deputada respondeu que a discussão sobre o tema já estava sendo feita por sindicatos.

O LULA sempre foi muito dedicado a isso, afinal ele foi líder de sindical, presidente do sindicato. E agora eu acho que essa ação na Espanha acende uma luz maior, de possibilidade de fazer esse contraponto aqui no Brasil, voltar à carga com esse tema. Até porque a nossa reforma foi muito baseada na reforma trabalhista que os espanhóis fizeram lá“, disse Gleisi Hoffmann. “E lá o Pedro Sánchez fez um negócio legal, que foi formar uma comissão tripartite de governo, trabalhadores e empresários. A gente acha que tem que ser por aí“.

A parlamentar disse ainda que “LULA sempre fez isso, no governo ele tinha o “conselhão”, fazia essas reuniões com trabalhadores e empresários. Lá na Espanha eles conseguiram fazer uma revisão olhando para o resultado, olhando para as consequências da reforma. Estão chegando a termos interessantes“.

O PT sempre se colocou contra a reforma trabalhista. No partido, isso já está mais do que encaminhado e discutido“, disse. “Obviamente que um processo de discussão como esse da Espanha só seria possível no próximo governo. Aí nós vamos nos preparar para o debate“.

A revisão da reforma trabalhista é um dos compromissos do PT para o plano, para o programa que vai apresentar para o próximo governo“, afirmou.

A questão do trabalho intermitente” é “uma modalidade de precarização muito grande“, prosseguiu a deputada sobre o mesmo tema. “A questão do negociado sobre o legislado tem que ser revista. Os acordos coletivos também. Um acordo coletivo vale por um período e, se não tiver negociação fechada, antes a legislação previa que continuava aquele até um próximo. Agora não. Ele simplesmente deixa de existir. Isso deixa os trabalhadores numa situação muito vulnerável“.

Sobre o apoio no Congresso para a revisão da Reforma Trabalhista, Gleisi Hoffmann afirmou que “se houver uma boa articulação dos trabalhadores com o governo e com o setor empresarial, os parlamentares vão aceitar isso. O Congresso pode ter resistência, porque ele também é muito permeável ao lobby de todos os setores. Obviamente que os empresários farão pressão, os trabalhadores também. Mas claro que o governo tem uma força grande sobre as negociações, acho que isso ajuda bastante“.

O movimento sindical soltou uma nota exaltando o que está acontecendo na Espanha. A gente também pediu para a assessoria nossa fazer uma avaliação sobre tudo que eles estão discutindo lá. Os sindicatos vão chamar conversa também para começar um processo aqui mais organizado. Estava todo mundo muito desalentado com essa situação. E com o Bolsonaro não tem como encaminhar o assunto. Óbvio que isso no nosso possível governo estará colocado“, disse.

Mas aí nós temos que fazer agora o enfrentamento político, ganhar a eleição. Mas eu acho que essa situação da Espanha nos dá condições de começar desde já um processo”.

Por fim, Chico Alves pergunta a Gleisi se “essa questão em ano de eleição não vai criar uma dificuldade a mais para a candidatura de Lula” e a parlamentar afirma que “já criou, mas tem temas e assuntos que não se pode esconder“.

É preciso fazer um contrato com a sociedade, com o eleitor, senão depois você entra e não consegue fazer. Não dá para levar na enganação. As pessoas sabem a nossa posição. Isso não quer dizer que a gente vai ficar fechado a negociar uma revisão. Não. Por isso que eu estou te dizendo: o que a Espanha está fazendo, que é fazer uma comissão tripartite, é um caminho muito bom“.

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