Mandetta culpa Eduardo Bolsonaro, Ernesto Araújo e influência de Trump por dificuldade de negociar insumos com a China

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em depoimento na CPI da Pandemia | Imagem reprodução

O ex-ministro da Saúde também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro queria que a Anvisa alterasse a bula da cloroquina, droga sem eficácia, para incluir indicação para tratamento da Covid – O senador Renan Calheiros classificou como “GRAVES” revelações em depoimento “ESCLARECEDOR” sobre Bolsonaro

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), em depoimento ao vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e o Ministério das Relações Exteriores, ainda sob a gestão de Ernesto Araújo, foram os principais responsáveis pelas dificuldades que o governo brasileiro teve ao tentar negociar insumos com a China, no início da pandemia, bem como deu a entender que existia uma forte influência do ex-presidente americano, Donald Trump.

“Eu tinha dificuldades, por exemplo, nas relações com a China. Eu tinha um Ministério de Relações Exteriores que eu precisava muito porque eu era dependente de insumos que estavam na China, insumos que eu tinha que trazer para dentro do Brasil. Então, era mais do que necessário que nós tivéssemos um bom diálogo com a China. Tinha dificuldade com o ministro de Relações Exteriores. O outro filho do Presidente que é deputado, o Eduardo, tinha rotas de colisão com a China, através do Twitter, mal-estar”.

“Eu fui até certo dia ao Palácio do Planalto, e eles estavam todos lá, os três filhos do presidente, e mais assessores que são assessores de comunicação. Disse a eles: ‘Olha, eu preciso conversar com o embaixador da China, eu preciso que ele nos ajude, pedir uma reunião com ele. Posso trazer aqui?’. ‘Não, aqui não’. Acabei fazendo por telefone. Eu ia fazer essa reunião na Opas, que é um mecanismo internacional. Isso era difícil”.

“No início [da pandemia], há uma viagem do presidente para a Flórida, e ele encontra o presidente Trump. Era um momento em que o Trump chamava o vírus de vírus chinês, havia um mal-estar da China com os Estados Unidos, e aqui, de alguma maneira, fazia-se esse tipo de conflitos com a China, que eu achava, naquele momento, que dificultava muito a boa vontade. Por isso eu fui até a Embaixada [da China], por isso eu liguei pedindo pessoalmente que eles ajudassem”.

Luiz Henrique Mandetta também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro queria que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) alterasse a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado no tratamento da Covid-19, mas o pedido foi negado pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres.

“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca tinha conhecido. Quer dizer, ele tinha esse assessoramento paralelo”.

“Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, Barra Torres, que disse não.”

Após estas e outras declarações de Mandetta, o senador Renan Calheiros afirmou à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, que as revelações são “GRAVES” e o depoimento foi ‘esclarecedor’ sobre Bolsonaro.

“O depoimento mostrou que houve aconselhamento paralelo na Covid, adoção da cloroquina ao arrepio do Ministério [da Saúde], participação de Carlos Bolsonaro [vereador do Rio e filho do presidente] em reuniões (por que?) e alerta sobre 180 mil mortes”

“Bolsonaro divergiu das orientações científicas, no isolamento e na cloroquina. Foi um depoimento importante na minha opinião para clarear exatamente o que ocorreu naquele momento inicial da pandemia”.

“Também é relevante a informação de que Mandetta viu um decreto para mudar a bula e recomendar a cloroquina”


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