Lula será ‘uma espécie de mediador na relação entre EUA e Venezuela’: Encontro com Biden só ocorre após a posse

O Presidente eleito se reuniu, nesta segunda em Brasília, com o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, o diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental, Juan Gonzalez, e o funcionário sênior do Departamento de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental, Ricardo Zúniga

[Lula] “valorizou muito o fato de que o convite [feito por Joe Biden para uma visita aos EUA antes da posse] foi feito dessa maneira, mas [indicou] que talvez não desse antes da posse“, afirmou o ex-chanceler Celso Amorim após, em uma reunião em Brasília, nesta segunda-feira (5/12), o presidente eleito indicar aos representantes do presidente dos EUA, dentre eles o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, que talvez não haja tempo hábil, como inicialmente era planejado.

Lula falou da importância de ter contato real, reconhecer as realidades, lembrou experiência do passado, do diálogo“, disse Amorim. Fontes do governo eleito indicam que, com a eleição do fundador do PT, há expectativa de recomposição imediata das relações entre Brasília e Caracas e que Lula seja uma espécie de mediador na relação entre EUA e Venezuela.

O americano fez questão de frisar que Biden estava disposto a receber Lula até antes do início de seu terceiro mandato como presidente, em 1º de janeiro. Contudo, amorim completou dizendo que “Lula acha que dá para ir logo no início do ano, já numa visita oficial como presidente. Isso foi, digamos assim, a motivação principal do encontro“.

Os enviados de Biden eram, além de Sullivan, o diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental, Juan Gonzalez, e o funcionário sênior do Departamento de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental, Ricardo Zúniga. Os brasileiros com Lula eram, além de Amorim, o ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad e o procurador da Fazenda Nacional, Jorge Messias. A pauta do encontro teve temas regionais e globais abrangentes, inculindo a Venezuela, o Haiti e o clima e guerra na Ucrânia, conforme noticiou O Globo.

Para o novo goveno Lula, temas que envolvem a Venezuela são uma das questões emergenciais que precisavam começar a ser conversadas com a administração de Joe Biden antes da posse. “O governo eleito foi claro: a solução só pode ser política e pelo diálogo. Sanções e planos de invasão, como se pensou no passado, não funcionam. Pensar em derrubar o governo Maduro não é o caminho”, teria afirmado uma fonte do jornal, em referência à abordagem adotada durante o governo de Donald Trump (2017-2021) em relação a Caracas.

O ex-ministro Amorim disse ainda que na reunião “falou-se de Venezuela, necessidade de encontrar uma solução. Sem entrar em muitos detalhes, Lula recordou o Grupo de Amigos da Venezuela, a participação dos EUA na época do [ex-secretário de Estado dos EUA] Colin Powell e a necessidade de que haja uma eleição que possa ser considerada justa e que aceitarão quem for o ganhador“.

No encontro também foi abordada a posição do governo eleito sobre a crise no Haiti e a eventual possibilidade, como defende a Casa Branca, de que seja enviada uma força internacional ao país. “Não vamos nos envolver em intervenções militares, mas iniciativas humanitárias sim, neste caso o Brasil vai colaborar, como já colaborou no passado“, disse uma das fontes consultadas.

Amorim diz que “o próprio presidente Lula lembrou o empenho que o Brasil teve no passado na questão do Haiti, enfrentando, às vezes, até mesmo oposição interna, e a preocupação que ele tem. Aparentemente, a situação hoje é muito pior do que era há 14, 15 anos. E o Jake Sullivan, não vou entrar em detalhes, (…) falou dessa preocupação. Mas não fez nenhum pedido específico ao Brasil. Foi mencionado a possibilidade de uma força multinacional, mas ele não citou com entusiasmo.

De acordo com o ex-chanceler, Lula manifestou interesse em realizar uma reunião de cúpula dos países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e com os presidentes amazônicos logo no início de 2023.

Também, a guerra entre Rússia e Ucrânia também estava na pauta do governo eleito. O recado brasileiro era de que “se trata de um conflito muito grave, no coração da Europa, e que pode escalar para um conflito nuclear. A busca pela paz é urgente e não adianta buscar culpados, deve existir um movimento pelo fim das hostilidades e uma saída negociada”. Uma posição muito menos anti-Rússia do que esperavam os americanos, e, também, os europeus.

Outro tema importante relatado por Amorim: “Falaram muito de clima. A mudança climática como uma das grandes ameaças no mundo. E que Brasil Estados Unidos podem ter uma importância muito grande. Não discutiram formas específicas, mas a necessidade de engajamento nos dois países na questão do combate ao aquecimento global.

    Lula também conversou sobre a necessidade de se fortalecer a democracia nos dois países e reforçou que isso deve ser feito com diálogo: “Jack Sullivan acentuou a importância da eleição democrática com a vitória de Lula, como isso foi importante para democracia no Brasil, na região e no mundo“, disse Amorim. “Conversa longa, durou quase duas horas. Entremeada por histórias e exemplos do passado. E a importância da relação entre Brasil e Estados Unidos para a paz e democracia para o nosso hemisfério“.

    “O presidente Lula falou da importância de manter o Atlântico Sul como uma região de paz e segurança. Neste contexto, falou-se sobre relação trilateral, como países menos desenvolvidos na África e Caribe“, finalizou o ex-chanceler brasileiro.

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