The Economist: “Com a posse de Lula, as perspectivas econômicas do Brasil estão melhorando”

Mas ele ainda tem muito trabalho pela frente: a inflação está alta e as taxas de dívida e pobreza estão subindo“, resume o principal jornal europeu sobre o cenário econômico mundial

O diário de notícias inglês The Economist, principal jornal europeu sobre o cenário econômico mundial, afirma, em edição que foi ao ar na quinta-feira (26/1), que o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência do Brasilparece inoportuno“. A mídia lembra que “em 2002“, o fundador de seu próprio partido “herdou uma economia que acabara de passar por profundas reformas”. 

Lula governou com competência, mas foi amparado por forças globais amigas: demanda crescente pelas exportações brasileiras de commodities, baixas taxas de juros globais e dólar em queda. Ele deixou o cargo em 2010, tendo presidido um crescimento médio anual de 4,5%, um aumento de 50% na renda média brasileira e uma forte queda no desemprego, pobreza e dívida pública“, inicia o jornal.

O The Economist diz que “poucos pensaram que a segunda passagem de Lula como presidente” que na verdade é a terceira gestão do homem que deixou a Presidência do Brasil com 87% de aprovação, naquele ano, “seria tão afortunada“. O texto afirma que o atual chefe do Executivoherda uma economia pouco mais rica do que aquela que legou à sua sucessora, Dilma Rousseff“, prossegue.

“A economia ainda carrega as cicatrizes da pandemia, que matou quase 1 milhão de brasileiros e derrubou 4% do PIB. A dívida bruta do governo agora está em 88% do PIB – um nível impressionante para um mercado emergente com histórico de crises macroeconômicas – enquanto a inflação está bem acima da meta do banco central“, diz o texto.

O jornal inglês passa a atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro, referindo-se a ele como “antecessor trumpista [simpatizante do ex-presidente dos EUA, Donald Trump] após afirmar que é “desconcertante” o fato de que Lula agora “assume as rédeas de um país que sofreu sérios danos ao meio ambiente e às instituições democráticas“.

Lula realmente tem trabalho pela frente“, diz a mídia. “O Brasil precisa urgentemente de investimentos em sua infraestrutura, além de gastos com educação para capacitar trabalhadores brasileiros para melhores empregos e compensar o aprendizado perdido durante a pandemia. A floresta amazônica, cuja saúde depende de esforços para fortalecer e fazer cumprir as regras contra o desmatamento, exigirá mais gastos”.

Assim será a pobreza; disparou durante a pandemia, depois de cair durante grande parte da década de 2010. Promulgar políticas para atender a essas necessidades significa não apenas manter a unidade na coalizão do Congresso liderada pelo PT, mas também dominar a difícil aritmética orçamentária“, afirma o texto.

O jornal lembra que “os planos de gastos deste ano ameaçavam ultrapassar o teto de crescimento orçamentário anual introduzido em 2016. Para contornar esse possível obstáculo, Lula ajudou a encaminhar uma emenda constitucional ao Congresso em dezembro, antes de sua posse, isentando alguns gastos do teto. Mas isso traz seu próprio risco: minar a confiança dos investidores no compromisso do Brasil com um orçamento sólido“.

Reconhecendo isso“, prossegue o The Economist, “o governo Lula traçou um plano para aumentar a arrecadação de impostos e cortar gastos. Mas alcançar a reforma orçamentária será um desafio legislativo. O Brasil, portanto, permanece vulnerável se o sentimento do investidor for prejudicado por um crescimento fraco, um prognóstico econômico global mais sombrio ou algum outro choque“.

Para a mídia, “parece um mau momento para Lula retomar a presidência“, pois “este ano parecia destinado a ser difícil para grande parte da economia global, já que muitos países aumentaram as taxas de juros para combater a alta inflação e a economia da China continuou a vacilar sob o colapso do mercado imobiliário e severas restrições ambiciosas. Mesmo recentemente, muitos economistas alertavam que uma recessão global poderia estar chegando. A combinação de fraco crescimento global, queda dos preços das commodities e aumento das taxas de juros pode facilmente levar o Brasil à crise.

No entanto, apenas algumas semanas após o início do mandato de Lula, seu momento não parece tão infeliz, afinal. Em grande parte do mundo, as taxas de inflação estão caindo, muitas vezes mais rápido do que o previsto alguns meses atrás. A economia global também parece mais resiliente. Nem a América nem a Europa estão em recessão ainda e, embora o crescimento econômico da China em 2022 tenha decepcionado em apenas 3%, o relaxamento de sua política de cobiça zero e as restrições ao investimento no mercado imobiliário podem pressagiar uma recuperação. Funcionários do FMI sugeriram que as novas previsões a serem divulgadas no final de janeiro mostrarão uma revisão para cima do crescimento global”, diz o texto.

“Para o The Economist, “essas melhores perspectivas parecem estabelecer um piso para os preços das commodities. Os altos preços do petróleo, da soja e de outras exportações brasileiras ajudam a explicar o crescimento nos últimos dois anos, que foi mais rápido do que muitos imaginam. o PIB aumentou quase 5% em 2021 e quase 3% em 2022. Os preços das commodities caíram dos picos alcançados nos meses seguintes à invasão da Ucrânia pela Rússia, mas permanecem bem acima dos níveis pré-pandêmicos. Os preços altos também podem persistir, se a demanda global aumentar, enquanto as interrupções na oferta – de guerra, mudança climática e fratura do sistema comercial global – continuam. O Brasil está bem posicionado para se beneficiar; além de petróleo e soja, ajudou a preencher o déficit causado pela redução dos embarques de milho da Ucrânia, tornando-se um dos principais exportadores mundiais.

“Enquanto isso, as expectativas mais baixas de inflação no mundo rico, e especialmente nos Estados Unidos, significam que as taxas de juros provavelmente não subirão tanto quanto se temia este ano e contribuíram para uma queda no valor do dólar. Isso aliviou a pressão sobre as economias de todo o mundo, incluindo o Brasil, onde o rendimento dos títulos de dez anos inicialmente caiu quase um ponto percentual. A inflação brasileira também caiu, de um pico no ano passado de mais de 12% para apenas 5,8% em dezembro”, prossegue o The Economist.

Isso ainda está bem acima da meta do banco central para 2023 de 3,25%, e o núcleo da inflação, excluindo itens mais voláteis, diminuiu mais lentamente. Mas quedas na inflação brasileira, combinadas com condições financeiras mais fáceis globalmente, podem eventualmente permitir que o banco central do Brasil reduza sua taxa básica de juros, dolorosamente alta em 13,75%. A agressiva campanha de aumento de juros do banco central, iniciada em 2021, ajudou a conter a inflação e a manter a confiança dos mercados. Mas as altas taxas aumentaram os custos dos empréstimos do governo e reduziram o que poderia, em um período de alta dos preços das commodities, ter sido uma retomada do investimento”, explica o jornal.

Uma demanda saudável por commodities e condições financeiras mais benignas ajudam. Mas eles fazem pouco para corrigir problemas estruturais subjacentes. A economia do Brasil precisa de uma reforma mais abrangente. O novo governo, no entanto, admitiu que terá que ser mais cuidadoso do que poderia ter sido, para evitar mais agitação política. Um esforço para reduzir as barreiras comerciais oferece espaço para progresso e pode ser especialmente benéfico, dado o interesse global na diversificação da cadeia de suprimentos”, prossegue.

Um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, um bloco comercial de grandes economias sul-americanas, que foi retido por preocupações europeias com o desmatamento da Amazônia, pode ser revivido agora que Bolsonaro se foi. Mas uma reforma séria exigiria um grande empurrão de Lula, que parece ter outras prioridades – embora em um artigo conjunto em 22 de janeiro ele e Alberto Fernández, presidente da Argentina, tenham prometido uma integração econômica mais profunda, incluindo o trabalho em direção a uma moeda comum”, argumenta a mídia inglesa.

Nem a virada na sorte global torna fácil a segunda [na verdade a terceira] presidência de Lula. As previsões atuais sugerem que a economia do Brasil crescerá apenas 1% em 2023, portanto, mesmo um desempenho impressionante das projeções se compararia modestamente com a média durante o primeiro mandato de Lula“, diz o The Economist.

Também é mais fácil ver como as coisas podem dar errado no futuro próximo do que nos anos 2000, devido a choques inesperados na economia global ou problemas domésticos. Lula pode muito bem vir a se arrepender de sua decisão de tentar governar mais uma vez. Mas também está ficando mais fácil ver como ele pode polir ainda mais sua reputação de timing excepcionalmente bom”, pontua a mídia.

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