Royal King, um especialista britânico em sistemas carcerários, explica por quê no Brasil os presos controlam as cadeias.
O governo não se importa com uma solução para a problemática do crime que se enraizou na sociedade, mas apenas em prender os criminosos. E se não se importa com isso fora dos sistemas prisionais como será dentro de cada uma das celas? Os detentos são totalmente dependentes de seus familiares, pois as prisões têm poucos recursos do Estado. Assim, tudo o que entra vai para as mãos do PCC ou outra facção para controle e redistribuição interna como numa espécie de sistema socialista. O PCC existe devido à ausência do Governo. Se o Estado garantisse condições mínimas, o sistema teria alguma legitimidade.
Nas afirmações de King está o fato de que os agentes carcerários são tão mal treinados e pagos que eles não conseguem impor a lei sem a ajuda da classe do cárcere, que representa uma proporção de 200 por guarda contra 50 para um grupo de 5 na Inglaterra, onde o sistema funciona eficazmente. Mesmo assim os representantes dos complexos prisionais do mundo inteiro afirmam que 50% dos detentos não precisava estar enjaulado por não apresentar perigo à sociedade. Roy afirma que há unanimidade entre os diretores quando concordam que muitas pessoas poderiam estar inscritas em algum programa de reintegração. Mas o que acontece comumente é que o preso acaba tendo sua personalidade piorada e muitos acabam por integrar as grandes redes criminosas à partir da cadeia. É como ver as ervas daninhas de um jardim e poda-las ao invés de arranca-las.
Roy King ingressou no Instituto de Criminalística da Universidade de Cambridge em 2003 onde foi Professor de Criminologia e Justiça Criminal e onde fundou o Centro de Criminologia Comparariva e Justiça Criminal. Roy publicou vários livros com os temas: Nascimento de uma prisão, Fim de uma era, O Futuro do Sistema Prisional , e O estado de nossas prisões, bem como inúmeros artigos, capítulos de livros e trabalhos apresentados em congressos principalmente em prisões. Seus interesses de pesquisa atuais têm como tema a Custódia, a Segurança Super Máxima ao redor do mundo e sistemas de gestão de prisioneiros difíceis e perigosos . Ele realizou uma pesquisa comparativa sobre as prisões na Grã-Bretanha, Estados Unidos, Europa, Rússia e Brasil. Ele já atuou como consultor para a Anistia Internacional sobre as investigações sobre as condições no corredor da morte nos Estados Unidos e em prisões , delegacias de polícia e instituições juvenis no Brasil. Ele já trabalhou com o Conselho da Europa, União Europeia, Comitês da Holanda e outros órgãos. Atuou na reforma das prisões na Rússia e várias ex-repúblicas soviéticas. Atuou na Embaixada Britânica em um grande projeto de mudança no sistema prisional de São Paulo. Foi membro fundador do Conselho de Liberdade Condicional para a Inglaterra e País de Gales. Serviu dois mandatos como membro criminologista. Foi membro do Comitê de Revisão da Prisão e Controle de Serviços e, posteriormente, do Grupo Consultivo para presos perigosos. Atuou como consultor acadêmico para o Grupo de Trabalho dos Serviços Prisionais.
Síntese evolutiva da reportagem da revista fonte Isto É março.