O Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, caminha ao lado do presidente da República de Angola, João Lourenço, no sábado (26/8) | Foto de Contreiras PIPA / Edições Novembro / via Jornal de Angola
O chefe de Estado angolano comemorou a primeira visita de Lula a um país africano, após a XV Cúpula dos BRICS, desde que tomou posse em Janeiro, e defendeu o reforço dos investimentos brasileiros em Angola, assim como dos angolanos no Brasil
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, discursou por ocasião da visita do Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando afirmou que a cooperação entre os dois países deve ser incrementada com acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos brasileiros.
“Recebemo-lo a si e à delegação que o acompanha de braços abertos, ansiosos em abordar questões de interesse comum, delinear as perspectivas para o futuro e criar bases concretas para uma cooperação mais sólida e pujante”, afirmou Lourenço, conforme transcrição no ‘Jornal de Angola‘.
O africano atribuiu “grande simbolismo” à visita do estadista brasileiro ao país, diz a publicação.
O presidente de Angola também lembrou que é a primeira visita de Lula a um país africano, após a XV Cúpula dos BRICS, desde que tomou posse em Janeiro.
“O gesto demonstra a importância que os dois países atribuem à relação entre si, tendo em conta as afinidades culturais históricas”, afirmou Lourenço.
Segundo o líder do país, Angola está pronta para desenvolver relações de cooperação econômica, técnica e científica com todas as Nações do planeta, incluindo o Brasil, que tem semelhanças na língua, cultura, hábitos e costumes, além do clima tropical pertinente a ambos.
Lourenço também disse que o Brasil está em vias de desenvolvimento e tem grande potencial em recursos naturais (terra, água, florestas e uma gama diversificada de minérios).
“A nossa luta comum é a de dar melhor aproveitamento possível do grande potencial existente, transformá-lo em riqueza real para o benefício dos dois povos, com vista à redução da pobreza, analfabetismo, fome e miséria”, disse o presidente Lourenço.
Ele acrescentou que o Brasil “se coloca aos olhos de Angola” na condição de um “aliado natural”, no contexto dos esforços que estão a ser envidados para “romper” o ciclo de subdesenvolvimento em que se encontram os dois países.
O Presidente de Angola defendeu também a revitalização do programa de parceria estratégica, rubricado em 2010, como forma de imprimir maior dinâmica nas relações de cooperação bilateral, que permita desenhar um modelo de cooperação com reciprocidade de vantagens.
Acordos assinados dinamizam produção agrícola
Lourenço deposita “grande esperança” nos resultados que advirão da execução dos sete instrumentos jurídicos assinados durante a visita.
Os acordos entre os governos dos dois países ajudarão a dinamizar a produção agrícola, nomomento em que a crise alimentar afeta praticamente todos os países do mundo.
Lourenço disse também que Angola esteve no Brasil, na sétima Comissão Mista, para avaliar o desempenho da cooperação mútua. O encontro serviu para projetar ações futuras que serão materializadas com a assinatura dos acordos e programas setoriais que abarcam os setores da Educação, Saúde e Agricultura.
João Lourenço ainda agradeceu o fato de o Brasil ter disponibilizado, no passado, uma linha de financiamento que “contribuiu bastante” para a construção de “importantes” infra-estruturas de produção de energia eléctrica e a recuperação de estradas, bem como outros projectos essenciais, cujo valor da dívida foi completamente liquidada dentro dos prazos acordados.
“Gostaríamos de negociar uma nova linha com outros termos e condições para financiar outras infra-estruturas, nomeadamente escolares, hospitalares, estradas, aeroportos, redes de transportação de energia de alta tensão e respectivas subestações, bem como sistemas de produção, adução e distribuição de água potável”, disse o presidente de Angola.
Fundo de Apoio ao Investimento Privado
O angolano considerou que o ambiente de negócios entre os dois países produz um quadro “saudável”.
O presidente de Angola manifestou o desejo de ver o Brasil tomar a iniciativa da criação de um Fundo de Apoio ao Investimento Privado, que deverá ser usado por empresários interessados em realizar negócios em Angola, nas áreas do Comércio, Agricultura, Indústria, dos serviços e outras de sua conveniência.
Lourenço se referiu também ao quadro da cooperação no atual contexto das trocas comerciais “desfavoráveis” que Angola e o Brasil mantêm com o Norte industrializado e desenvolvido.
João Lourenço elogiou o regresso em força do Brasil no cenário político internacional, tendo em conta o “papel de destaque” deste país na América Latina.
Conflito Rússia/Ucrânia ameaça segurança alimentar
O presidente angolano falou ainda sobre os “graves efeitos” incidentes sobre a segurança alimentar, energética e humanitária, devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
“Este tema deve preocupar a todos que diante de tão séria ameaça defendem a construção de uma arquitectura de segurança mundial, que salvaguarde os interesses de toda a humanidade”, defendeu.
Lourenço disse que a comunidade internacional deve ter a capacidade de persuadir a Rússia a terminar a guerra, encorajando as partes a estabelecer um cessar-fogo que permita dar início a uma ronda de negociações que conduza a uma paz duradoura.
O Chefe de Estado de Angola solicitou, também “máxima atenção” aos conflitos Israelo-palestiniano, sudanês, ao terrorismo internacional na região do Sahel, onde acontecem sucessivos golpes de Estado, bem como à instabilidade em regiões da África.
João Lourenço considerou que o momento é “adequado” para o Conselho de Segurança das Nações Unidas dar o “passo certo” de se submeter a “reformas profundas”, quanto ao seu papel de garantir a paz mundial, começando por admitir novos membros permanentes de continentes que não se encontram representados na organização internacional.
Encontro de alto nível entre SADC e Mercosul
Pelo fato de Angola e o Brasil assumirem, respectivamente, a presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e o Mercado Comum Sul-americano (Mercosul), o Presidente João Lourenço recomendou um encontro de alto nível entre os dois blocos regionais, para analisar formas de cooperação econômica, as medidas de proteção do ambiente, bem como explorar o “grande potencial e afinidades” existentes entre ambos.
A Southern Africa Development Community, como é chamada oficialmente, é um bloco econômico formado pelos países da África Austral. São eles: África do Sul, Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malaui, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue.
O chefe de Estado angolano defendeu o reforço dos investimentos brasileiros em Angola, assim como dos angolanos no Brasil.
“Queremos que o Brasil se sirva de Angola como a porta de entrada para as regiões Austral (SADC) e Central do continente, da mesma forma que gostaríamos de ver o Brasil como nossa porta de entrada para a região do Mercosul”, afirmou João Lourenço, acrescentando que os dois países devem apoiar-se mutuamente.