OCDE tinha razão sobre interferência de Bolsonaro na Justiça, e que deveria-se manter sua autonomia para lutar contra a corrupção
“Onde estão todos aqueles indignados que, com suas empregadas puxando os carrinhos das crianças, vestiram orgulhosamente a camisa da CBF e foram pedir um Brasil melhor e sem corrupção?”, pergunta Jamil Chade, no UOL, referindo-se aos protestos contra Dilma Rousseff, em março de 2016.
O jornalista lembra que, em 2020, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) criticou a entrada do Brasil no grupo devido à frequente “interferência de Jair Bolsonaro na Justiça“.
A entidade “elaborou um documento ainda em 2020 em que tecia críticas à interferência do presidente Jair Bolsonaro sobre instituições que deveriam manter sua autonomia para lutar contra a corrupção“, escreve Chade.
A OCDE defendeu que “aumentar a eficiência dos gastos públicos não será possível sem mais melhorias no combate à corrupção e aos crimes econômicos” e que “a aplicação de leis é um elemento necessário para evitar a impunidade e garantir a credibilidade e legitimidade das instituições”.
“Os progressos na estrutura legal e institucional de aplicação da lei no Brasil têm sido fundamentais para o sucesso recente. Isso inclui leis e instrumentos-chave anticorrupção, tais como acordos de leniência, em combinação com o fortalecimento de órgãos de execução como a polícia federal, a unidade de inteligência financeira, o Ministério Público, o órgão fiscalizador da concorrência e as autoridades fiscais“, dizia o texto dos representantes do grupo.
“Fortalecer a autonomia desses órgãos e isolá-los contra interferências políticas será fundamental para a construção de avanços no passado“, defendeu ainda, a OCDE.
Mas o alerta da OCDE era claro: “Recentemente, a autonomia de facto de todos esses órgãos tem sido questionada por interferências presidenciais incomuns no processo de seleção de postos-chave“, indicou.
“Evitar interferências políticas no futuro através de processos seletivos baseados em regras e formalizar a autonomia operacional e orçamentária desses órgãos será crucial para evitar contratempos na luta contra a corrupção“, sugeriu.
“A suspeita, agora, é de que tal “interferência presidencial” possa ser uma realidade. Pena que isso caiu justamente em ano de Copa do Mundo. Não podemos culpar a ausência das camisas da CBF nas ruas. Afinal, estão guardadas para celebramos juntos que somos brasileiros “com muito orgulho, com muito amor”, enquanto rezamos para que o menino milionário de 30 anos que veste o número 10 cumpra finalmente sua função de adulto“, escreve Jamil Chade.
“A indignação seletiva seria a prova de que nunca foi a corrupção que de fato levou as pessoas às ruas naqueles anos de protestos? Ou o silêncio é apenas o estrondo de um país esgotado? Seja qual for a explicação, os áudios não revelam quem é Bolsonaro. Eles escancaram quem nós somos hoje“, pontua o jornalista.
