“O vírus mata por sua natureza; Bolsonaro faz o mesmo por deslealdade ao papel que lhe foi dado”

Imagem do cemitério público no bairro Tarumã/Foto de Bruno Kelly/Amazônia Real

Colunista da Folha diz que “há mais do que crimes de responsabilidade à mercê de uma CPI, há crimes contra pessoas. Tal coleção de crimes talvez encontre comparação nos abutres que agiram em porões da ditadura”


“Os 61 mortos por asfixia à falta de oxigênio por si sós justificam a CPI”, diz Jânio de Freitas: “esse horror sofrido em hospitais do Amazonas está envolto por quantidade tão torrencial de horrores que uma CPI é insuficiente para dar-lhes as devidas respostas”, escreve em sua coluna deste domingo (11).

Freitas coloca em dúvida se a CPI buscará, de fato, as responsabilidades pelo morticínio”, haja vista o “jogo duro do governo, sobre os parlamentares, para dominar tudo que se refira à CPI” decorrente de “um potencial alto de agravamento e de incidentes sob a nova” e “mal conhecida disposição de forças” após as “alterações em ministérios e em cargos e correntes militares”.

Tais “forças” seriam os novos ministro da Defesa, general Braga Netto, comandante da Força Aérea, brigadeiro Baptista Jr., ministro da Justiça, delegado Anderson Torres, diretor da PF, delegado Paulo Maiurino, e AGU, “o pastor extremado” André Mendonça. Todos prontos para servir a Bolsonaro que, segundo Freitas, “está claro tratar-se de parte de um dispositivo político e armado”, pois “a pandemia e a mortandade não são preocupações nem dentro da própria Presidência, onde se aproximam de 500 os servidores colhidos pela Covid, com taxa de contaminação 13% maior que a nacional”.





“A “ordem do presidente” continua a ser “contra lockdown”, e pela cloroquina”, diz o colunista que acrescenta: a possibilidade da CPI iniciou a discussão de táticas para dela poupar Bolsonaro”, resguardando, assim, o agente principal da calamidade. O vírus leva à morte porque esse é papel que a natureza lhe deu. Bolsonaro fez e faz o mesmo por deslealdade ao papel que lhe foi dado e aos que o deram. E, de quebra, ao restante do país”. Ou seja, o “restante do país” é a maior parte, aproximadamente dois terços da população brasileira, que não direcionou seu voto para Bolsonaro em 2018.

“Há mais do que crimes de responsabilidade, numerosos, à mercê de uma CPI”, diz Jânio de Freitas. “Há crimes contra pessoas. Há crimes contra a humanidade. Tal coleção de crimes talvez encontre comparação nos abutres que agiram em porões da ditadura”, diz. “Ou talvez só se compare aos primórdios da ocupação territorial, com a escravização e as mortandades em massa”.

“O choque não descansa: são 4.000 mortos por dia”, diz, sem precisar lembrar da fatalidade que nos colocou como uma ameaça do mundo.

“É razoável suspeitar que não haja, nem sequer em número próprio de uma CPI, gente com caráter para enfrentar uma criminalidade assim e ao que a ampare, como o ódio e a facilitação de armas letais”, pontua Freitas em mais outro texto indignado que se soma aos muitos já produzidos, que se misturam à dor de famílias que viram entes terem a vida abreviada inesperadamente, o que subtrai, também, a esperança de interrupção destes tempos sombrios.

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