O que se abandonou por completo no sistema judiciário brasileiro é a noção dos três pilares filosóficos da justiça, as leis, a jurisprudência e os costumes
Vale repetir uma sentença inúmeras vezes, para que uma verdade se torna realmente uma verdade. O maior legado da Lava Jato é a abertura da caixa-preta do judiciário. De uma hora pra outra, a população se deu conta do poder carcomido e velho que é o judiciário.
Parecendo com uma casta social do antigo período imperial, juízes vivendo em suas comarcas, com salários que os colocam dentre a aristocracia mais rica do país, os deuses de toga se tornam incapazes de se conectarem com a realidade.
O distanciamento da sociedade, próprio das aristocracias, tornam suas decisões completamente desprovidas de base social, já que estão muito distantes da sociedade real, essa, miserável.
O que se abandonou por completo no sistema judiciário brasileiro é a noção dos três pilares filosóficos da justiça, as leis, a jurisprudência e os costumes (em linguagem simples).
As leis, firmadas pelo legislativo representativo; a jurisprudência, que são as decisões tomadas anteriormente por outros juízes em diversas cortes, tomando força de argumentação interpretativa das lacunas das leis e os costumes, que se configura na compreensão do modelo social, bem como suas práticas, limitações, classes sociais e outros fatores de cunho cultural.
São essas as bases do direito, mas, será que o nosso judiciário é capaz de compreender algo fora de seus gabinetes?
Bem, o discurso de Cármen Lúcia, que preferiu atacar as pessoas que estão pregando a desobediência civil como forma de resistência democrática é a prova de que os gabinetes do judiciário têm janelas muito pequenas e, geralmente, cobertas por cortinas espessas.
A lei interpretada ao pé da letra é um porrete sobre a sociedade mas, a completa alienação legal dos tribunais, bem como o distanciamento dos costumes, que são os fatores sociais, torna o judiciário uma ditadura da aristocracia togada.
É uma mistura tóxica, poder quase ilimitado, impunibilidade no exercício da função, salários e privilégios que somam até R$ 230 mil, em alguns casos, a garantia de estarem sempre à frente nas políticas públicas e um legislação que hipertrofia o poder dos juízes e diminui o valor do povo e do voto, começa a formar Deuses super-poderosos.
Onde já se viu? Um juiz tem mais poder que um presidente, embarga nomeações, obras e ações de um poder independente do judiciário.
Porém, uma prisão do ex-presidente Lula teria consequências profundamente deletérias na sociedade, dados os seus costumes. Isso mesmo, costume.
Mesmo que a mídia insista em separar povo de militantes, em geral, militante é parte do povo e o povo, ao qual a mídia se refere, não passa de uma pequena parcela de alienada da sociedade, conhecida como classe média B e judiciário, que assiste Jornal Nacional, se afina com esse pensamento.
É aí, que a liderança do ex-presidente Lula, que foi julgado por um tribunal de exceção, expõe toda a latrina que se tornou o judiciário.
Por todos os motivos listados, a força política de Lula, inverteu a lógica, se o ex-presidente for preso, o tornará um Mandela, aos olhos internacionais mas, para que isso ocorra, o judiciário terá sido condenado em seu julgamento.
Sim, por que quem está em julgamento não é o ex-presidente, mas o judiciário, uma vez que o brasileiro escolheu votar em Lula, independente de estar preso ou não.
Como quem atribui o poder ao judiciário é a crença filosófica da existência de um judiciário e de seu poder, quem julga o judiciário é sim, o povo.
Alguém sabe prever as consequências de um povo descrente no judiciário? Por isso, que o discurso de Cármen Lúcia é de uma ingenuidade útil sem tamanho.
Se o povo não cumprir as determinações legais, acabou a justiça. Se o povo não atribuir o poder ao judiciário, o que será dos deuses de toga?
Uma lição importante emerge daqui, a arrogância cega para a realidade, a vaidade inviabiliza o ser humano e deuses são uma criação dos homens.
Afinal, tudo que é sólido se desmancha no ar.
Urbs Magna via A Postagem