“O jogo é sujo”: Armação de Moro sobre plano do PCC também é sentida pelo The Intercept Brasil

O portal responsável pelas publicações da Vaza Jato, que derrubaram o ex-juiz e o ex-procurador Dallagnol, emite nota após ser acusado de envolvimento com a facção criminosa – LEIA

O portal The Intercept Brasil, que divulgou a série Vaza Jato, com as mensagens trocadas via Telegram entre os procuradores da Lava Jato de Curitiba, incluindo o chefe da força tarefa, Deltan Dallagnol, e o ex-juiz Sergio Moro, emitiu nota pública negando a acusação de que recebeu dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), conforme publicado pela imprensa.

Nesta sexta-feira (24), o site denunciou a tentativa de envolvimento de seus editores no episódio em que Moro alega ser alvo de criminosos, após a deflagração da Operação Sequaz, da Polícia Federal, que foi chancelada pela juíza Gabriela Hardt, substituta do ex-juiz no fim de 2018 quando ele pediu exoneração para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro.

A magistrada assinou os mandados de busca e apreensão cumpridos na Operação Sequaz. Ela assumiu o caso, que está na 9ª Vara Criminal de Curitiba, após a magistrada titular sair de férias, conforme resume e publica o portal de notícias Fórum.

A extrema direita e outros setores políticos próximos do senador paranaense passaram a fazer uma ilação de que Lula estaria tramando a morte de Moro, tentando reavivar uma fantasiosa teoria de conexão entre o PT e facções do tráfico de drogas.

O episódio até foi tratado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como uma possível armação do ex-juiz para melhorar sua imagem e desgastar a do governo.

Leia a nota do Intercept na íntegra:

Mentiras sobre o PCC e o TIB. Estamos sob ataqueO jogo é sujo. Não recuaremos. Precisamos de você.

Ontem à noite, nossa equipe foi surpreendida por um e-mail do jornalista Marc Sousa, coordenador de jornalismo da Jovem Pan no Paraná e afiliado do R7. Ele afirmou que estava fazendo uma reportagem sobre supostas doações do PCC ao Intercept, descritas em um ofício da Polícia Federal. O documento faz parte dos autos da investigação sobre os supostos planos da facção paulista contra o ex-juiz Sergio Moro – que seria um dos alvos de um plano do PCC para sequestrar e assassinar autoridades públicas.

O jornalista pediu nosso posicionamento. Respondemos com a verdade: não, o PCC jamais pagou qualquer valor para o Intercept, e qualquer afirmação nesse sentido é mentirosa. O jornalista mandou as perguntas à noite, com menos de 12 horas para resposta. Ainda assim, nossa equipe trabalhou durante a madrugada para procurar os 17 nomes mencionados no relatório que consta no despacho.

Nenhum deles consta na nossa base de apoiadores.

Além disso, curiosamente, não há no relatório da PF menção ao nome da pessoa que teria escrito tal documento. Imediatamente após a referência ao Intercept, há linhas citando “assinaturas de 2 revistas internacionais” e “assinaturas de revistas nacionais” — fatos não citados na nota do jornalista, publicada em um site que faz parte do portal R7.

Mas, como era de se esperar, a nota foi ao ar. E nela sequer havia o posicionamento do Intercept, enviado 40 minutos antes da publicação do texto e dentro do prazo exigido pelo jornalista. O autor afirma que procurou o Intercept e “não teve resposta”. É uma mentira intencional ou uma falha grosseira dos padrões jornalísticos, se não ambos. Somente após uma conversa no WhatsApp, na qual exigimos que nossa resposta fosse publicada, o texto foi atualizado com nosso posicionamento horas depois.

É interessante notar que ??a juíza que quebrou o sigilo do relatório seja Gabriela Hardt, sucessora de Moro na Lava Jato que prometeu processar quem divulgasse suas mensagens na época da Vaza Jato. De acordo com a colunista d’O Globo Bela Megale, investigadores da PF “criticaram a medida e afirmam que a juíza expõe a investigação que ainda segue em curso e técnicas da PF em um tema sensível, como o combate às facções criminosas. Em parte da corporação, a ação foi vista como tentativa de ‘blindar’ Moro após as declarações de Lula”.

Também chama atenção que a acusação seja publicada pelo jornalista de um veículo que vem sendo alvo de sucessivas reportagens do Intercept – a mais recente delas, sobre a perda de R$ 838 mil em anúncios após uma campanha de desmonetização por a Jovem Pan “lucrar com discursos golpistas”. O Intercept também foi alvo de ataques do R7 e da Record em 2018, após revelar a pressão política para apoiar Bolsonaro nessas redações.

Em nossa história, já tivemos mais de 40 mil apoiadores, que contribuem com um valor médio de R$ 40. É uma comunidade potente e engajada, que acredita no nosso jornalismo. É o maior programa de membros da América Latina, que inspirou vários outros veículos de mídia independente a criarem iniciativas do tipo – um modelo que garante autonomia financeira por não depender de anúncios ou grandes corporações.

Temos duas coisas importantes a dizer. A primeira é que não aceitaremos tentativas maliciosas de manchar não apenas a nossa reputação, mas também a da nossa comunidade. Fazemos um jornalismo sério, baseado em evidências e não daremos nenhum passo atrás.

A segunda é que, infelizmente, não é a primeira vez que somos vítimas de ataques do tipo. Já fomos investigados em CPIs, ameaçados de prisão, gravados clandestinamente e tivemos nosso endereço espalhado nas redes, entre outros absurdos – apenas por fazer nosso trabalho sério, que pisa no calo de muita gente.

Na época da Vaza Jato, ataques orquestrados inventaram várias fake news a nosso respeito. Quem nos acompanha nas redes deve se lembrar do “Pavão Misterioso”, um perfil apócrifo que criou inúmeras mentiras contra nosso jornalismo e nossos profissionais, inclusive com tentativas de nos associar ao crime organizado.

A acusação de hoje, aliás, é bastante comum na esfera bolsonarista e lavajatista. Nos dias seguintes à sua morte, tentaram associar Marielle Franco ao traficante Marcinho VP em uma das mentiras mais sórdidas que já circularam na internet. Durante a campanha eleitoral e nas últimas semanas, isso também aconteceu com o presidente Lula, particularmente durante sua visita ao Complexo do Alemão, e com o ministro da Justiça Flávio Dino, em visita ao Complexo da Maré. Até mesmo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes é acusado de ter ligações com o PCC.

O jogo é sujo, nós sabemos. E achamos importante avisar a vocês também.

Nós repudiamos mais essa tentativa de criminalizar o nosso jornalismo e de associá-lo ao crime organizado.

Não recuaremos.

Abraços,

Andrew Fishman – Presidente e cofundador

Cecília Olliveira – Editora contribuinte e cofundadora

Flávio VM Costa – Editor-chefe

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