Um trabalho com este exótico e pequeno primata brindou a ciência com uma nova visão do genoma humano.
A análise do genoma do gibão, um exótico e pequeno símio que habita os bosques tropicais do sudeste asiático, oferece aos cientistas novas pistas sobre a origem de algumas enfermidades humanas como o câncer. Uma investigação dirigida por pesquisadores da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon (OHSU), do Centro de Sequenciação do Genoma Humano do Colégio Baylor de Medicina, em Houston, Texas, e o Instituto do Genoma da Escola de Medicina da Universidade de Washington, conseguiu, pela primeira vez, completar a sequenciação (todos os cromossomos). Graças ao trabalho publicado na revista “Nature” onde participaram pesquisadores do Instituto de Biologia Evolutiva (CSIC-UPF) e do Centro Nacional de Análise Genômica (CNAG), se sabe agora por quê este curioso macaco tem uma rápida taxa de reordenações cromossômicas.
Os cromosomos, essencialmente os que contém a informação genética armazenada na sequencia de DNA, são fundamentais para a função celular e a transmissão da inormação genética de uma geração a outra. Sua estrutura e função estão também intimamente relacionada com as enfermidades genéticas humanas, especialmente o câncer. “Tudo o que aprendemos acerca da sequencia do genoma deste primata em particular e outros analisados no passado recente nos ajuda a compreender a biologia humana de uma maneira mais detalhada e completa”, explica o autor principal do informe, o doutor Jeffrey Rogers, professor associado no Centro de Sequenciação do Genoma Humano em Baylor. Ao seu juizo, “a sequencia do gibão representa um ramo de árvore evolutivo dos primatas que fecha a brecha entre os macacos do Velho Mundo e os grandes símios e que ainda não foram estudados desta maneira. A nova sequencia do genoma fornece dados importantes de seus reordenamentos cromossômicos únicos e rápidos”.
Durante anos, os especialistas sabiam que os cromossomos do gibão, junto com os outros símios (oragotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos) os parentes mais próximos do ser humano, evoluíram rapidamente com muitas pausas reestruturadoras, mas até agora não havia explicação alguma, de acordo com Rogers. A sequencia do genoma, agora, ajuda a detalhar o mecanismo genético único dos gibões que resulta nestes reordenamentos de grande escala. O descobrimento também brinda a ciência com uma nova visão do genoma humano, levando-se em conta a similaridade genética entre macacos e humanos. “É o último símio a ser sequenciado e o fim de uma era genômica comparada”, afirma Tomás Marquès-Bonet. “Agora temos erramentas – os genomas – para todas as espécies mais próximas aos seres humanos”, acrescentou.
A sequenciação oi realizado pelo doutor Kim Worley, proessor do Centro de Sequenciação do Genoma Humano, e Rogers, ambos de Baylor, e os doutores Wesley Warren e Richard Wilson, da Universidade de Washington. A análise foi dirigida por Lucia Carbone, professora assistente de Neurociência do Comportamento na Escola de Medicina de OHSU e cientista assistente na Divisão de Neurociências do Centro Nacional de Investigação de Primatas da OHSU. “Fazemos este trabalho para aprender toda possibilidade acerca dos gibões, que são algumas das espécies mais raras do planeta”, afirma Carbone. “Mas também fazemos este trabalho para compreender melhor nossa própria evolução e obter algumas pistas sobre a orígem das enermidades humanas”, acrescentou.
Os cromossomos têm um papel essencial na construção do DNA, segundo Worley. “HÁ 3.000 milhões de pares de bases de DNA em todas as células e se constituem em 23 pares de cromosomos”, complementa Worley, também autor principal do informe, acrescentando que quando há reordenamentos nos cromossomos, os genes e a regulação dos genes quien añade que cuando hay reordenamientos en los cromosomas, los genes y la regulación de genes muitas vezes se desintegram ou quebram. “O câncer é claramente o maior exemplo médico do impacto dos reordenamentos cromossômicos. A sequência do gibão nos dá uma visão mais clara deste processo – celebra Worley. Também há um número de outras enfermidades genéticas que resultam destes eventos. O número de reordenamentos cromossômicos nos gibões é notável. É como se o genoma simplesmente explodisse e logo se agrupasse – disse Rogers. Até pouco tempo era impossível determinar como um cromossomo humano podia estar alienado a qualquer cromossomo do gibão porque há muitos reordenamentos”.
O projeto de sequenciação revelou um novo e único elemento de repetição genética (segmentos de DNA que se produzem em múltiplas cópias no genoma) que se insere nos genes associados com a manutenção da estrutura da cormatina. Os elementos de repetição têm a capacidade de alterar um gene e trocar sua função biológica, segundo Worley. Nos gibões, a equipe identificou o LAVA, un novo elemento repetido que apareceu exclusivamente nos gibões e preferentemente golpeia os genes implicados na segregação dos cromossomos (um passo essencial na división celular, onde os cromossomos se correspondem com seus cromossomos homólogos similares). “A leitura do DNA do gibão é um marco no campo da sequenciação genética porque é uma espécie com características extraordinárias que nos darão chaves para entender as reorganizações genômicas e transladar esse conhecimento à prática clínica”, concluiu Ivo Gut, diretor do CNAG e co-autor do artigo.