Brasil emana um terrível fedor de situação pré-ditatorial. Por Rui Tavares, de Portugal
É possível também admitir que o tempo de Lula na política brasileira já poderia ter sido encerrado pelo próprio e pelo PT, para dar lugar a uma nova geração de políticos que contribuíssem para um Brasil menos polarizado.
O mito de Lula é desmesurado, e ao mesmo tempo que gera ódios insanos, também acaba por secar a sua própria área política.
E isto é independente do famoso processo do “triplex do Guarujá”, que segundo a investigação do juiz Sérgio Moro teria sido oferecido a Lula pela construtora OAS em troca de favores políticos mas de que comprovadamente nem Lula nem a sua família usufruíram (além de, claro, não terem nenhum título de propriedade dele em seus nomes — o que em si pode não ter significado caso houvesse um usufruto indireto através de um testa de ferro).
Mas o processo do “triplex” não está ainda fechado, de forma que teremos de esperar para ver se configura, ou não, corrupção.
É admissível até, como já vi nas páginas do PÚBLICO, perceber os argumentos a favor da decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a prisão após confirmação de uma sentença em segunda instância e perceber os argumentos de quem diz que a metodologia do processo contra Lula tem, a vários momentos, laivos indesmentíveis de perseguição política: vejam-se as escutas libertadas para a imprensa antes de validação judicial, com o intuito de influenciar a opinião pública.
É certo que o Brasil está muito polarizado.
Nós não temos de estar polarizados com ele.
Custa-me a entender que haja gente tão obcecada com Lula que não tenha tempo para reconhecer que a forma como Sérgio Moro investiga, sentencia e vem para as redes sociais lançar foguetes é tudo menos típico de um juiz sério num estado de direito.
O que não é de todo possível, parece-me, é olhar para o que se está a passar no Brasil e não estar preocupado com o presente e o futuro da democracia brasileira.
Já não é de hoje que da situação política brasileira emana um terrível fedor a situação pré-ditatorial.
O ponto de viragem foi a vitória de Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
Desde que ela tomou posse começaram as manobras para a destituir sob qualquer pretexto — e o pretexto que foi encontrado não foi mais do que a utilização de um critério de ornçamentação comum a muitos governos no mundo, de que todos os seus adversários já se esqueceram e que nem eles sequer jamais levaram a sério.
Mas esse foi o pecado original.
Como no Macbeth de Shakespeare, a vontade de poder justifica que se cometa o primeiro crime político: todos os outros cadáveres servem para justificar o primeiro.
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Urbs Magna via DCM