“Com o uso indevido da mídia, a presunção de inocência acabou”
O Ministro Sebastião Alves dos Reis Júnior (STJ) esteve na sexta (15) em uma congregação de juristas no Instituto Vitor Nunes Leal onde, em palestra a vários ex-integrantes do Supremo Tribunal Federal e do próprio STJ, foi muito direto na crítica à Operação Lava Jato atingindo em cheio o juiz de Curitiba Sérgio Moro:
“Não posso admitir e concordar com juiz (Moro) emitindo nota para a imprensa, vídeos na internet, filme com tapete vermelho, dando entrevista para falar não de casos que poderá vir a apreciar, mas de casos que já está examinando naquele momento.
Hoje em dia, não é mais necessário ter coragem para prender alguém, mas para absolver um inocente. “Começa a decidir de acordo com o que o povo quer ouvir, no que a imprensa quer ouvir, naquilo, vamos dizer, chamado de politicamente correto, mesmo que não seja o que está imposto na lei, não reflita o que está no processo”.
O Ministro também declarou ao site jurídico Conjur que “O Ministério Público e a polícia usam a imprensa com o intuito claro de criar pano de fundo favorável à acusação em processos e para defender projetos de lei absurdamente imorais, aproveitando-se da sanha acusatória que toma conta do país. Com isso, qualquer um que discorde dos órgãos de acusação é taxado como inimigo, cúmplice de bandido e favorável à corrupção. Há um silêncio “assustador” em órgãos que deveriam protestar contra essa atuação, mas se calam e, pior, muitas vezes aplaudem e incentivam esse tipo de procedimento. Vejo a Ordem dos Advogados do Brasil se calando e em várias oportunidades pedindo que documentos ocultos sejam tornados públicos.”
O ministro Sebastião foi aplaudido por todos os presentes, entre eles, os ministros aposentados do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso, Ayres Britto e Sepúlveda Pertence. Ele lamentou que esse tipo de prática também esteja presente no Judiciário e citou casos em que tornam público um documento porque ele já foi divulgado de forma informal.
“É um contrassenso, pois dizem que não adianta preservar como oculto algo que já foi noticiado, mas nenhuma atitude é tomada em relação ao vazamento, [nem para investigar quem é o responsável ou, ao menos, medidas para complicar, controlar esse tipo de situação. A omissão das instituições, levou o Brasil a uma situação absurda, onde as pessoas precisam ter coragem para defender o que acham justo.”
A presunção de inocência, segundo ele, acabou. E um dos motivos disso é uso indevido da mídia por instituições. “Quem é exposto na imprensa, independente se de maneira justa ou injusta, do dia para noite está condenado”.
Aos poucos a verdade vai se instalando. É muito importante divulgarmos o contra-ponto. O povo tem o direito à melhor informação.