PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO
A socióloga especialista afirma, sobre ensaio de antropólogo e historiador, que “racismo reverso não existe“
Em uma matéria publicada na Folha de S. Paulo, neste domingo (16/1), o antropólogo e historiador, Antonio Risério, argumenta sobre a existência do ‘Racismo de negros contra brancos‘ e diz que ele ‘ganha força com identitarismo‘, conforme disposto no título. Ele acrescenta, no subtítulo do texto, que ‘sob discurso antirracista, o racismo negro se manifesta por organizações supremacistas‘.
A socióloga da Unb, pesquisadora de Representação Política Negra, Nailah Neves, afirma: “O que jornal está fazendo é propagando fake news e anticiência descaradamente atrás de like“.
De fato, a abordagem do autor chama a atenção por ser expressiva, mas se torna exponencialmente forte quando ele relaciona o tema a ‘identitarismo‘ e ‘supremacia‘, amplificando a mensagem do tema a níveis extremos, cuja intensidade é pouco compreensível para muitos.
Para se ter alguma clareza sobre os assuntos, o primeiro, o movimento identitário, popularizou-se na Europa pós-Segunda Guerra Mundial entre a extrema-direita e reivindicava o direito dos europeus e povos de origem europeia a uma cultura e territórios pertencentes exclusivamente a eles. Isso remete à xenofobia e à defesa da criação de estados étnicos brancos.
Mas, apesar do nome, o movimento carece até hoje de uma boa definição. Desde seus idealizadores até os seus simpatizantes que o herdaram e hoje o mantém ativo, ora condenou-se o racismo e promoveu-se uma sociedade etnopluralista, ora criou-se definições relacionando comportamentos a grupos específicos de pessoas e povos, cujas teorias foram inspiradas em teorias nazis, e ora defendeu-se o racialismo – concepção da divisão natural da espécie humana em raças que correspondem a categorias biológicas ostensivamente distintas.
Quanto à supremacia, o racismo contra os negros, sendo origem, está em seu DNA, centrando-se na crença de que a raça branca é superior a outras origens raciais e que, portanto, ele deve governar politicamente, economicamente e socialmente tendo poder sobre as pessoas que não sejam daquela raça.
Explicados os termos que compõem o texto do ensaísta Risério, que é como o próprio autor também se rotula, a matéria da Folha, segundo Nailah Neves, não passa de opinião de “branco vitimista“, porque não tem “dados estatísticos, dados de políticas públicas“.
Nailah diz que basta “olhar os dados do IBGE em Desigualdade Sociais por Cor ou Raça no Brasil” e os “dados do CNJ sobre a cor do Poder Judiciário“.
A doutoranda em Sociologia da universidade da capital federal acrescenta que “o racismo, a estrutura de hierarquia de poder racial, explica cientificamente porque racismo reverso não existe” e que “racismo se analisa com estudos científicos“.
Na plataforma social, ela retuitou mensagem do advogado, acadêmico e professor de direito e direitos humanos, Thiago Amparo, que também afirma: “não existe racismo reverso“.
Mestre e doutor pela Central European University, com lugar garantido em coluna da própria Folha, o também jornalista é figura de destaque no debate público sobre diversidade e inclusão no Brasil.
O Doutor Amparo acrescenta que “racismo é sistema de poder – econômico, jurídico, midiático, social, físico“, sendo “fundado na ideia de que não somos humanos” e, categoricamente, diz que “nunca houve no Brasil negros com poder oprimindo brancos. Afirmar o contrário, com anedotas, é desonesto na medida em que é cruel“.
Por fim, a pesquisadora Nailah compartilha algumas poucas, mas expressivas, linhas do piauiense lavrador e pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, uma das principais vozes do pensamento das comunidades tradicionais do Brasil.
“Mesmo que queimem a escrita, Não queimarão a oralidade. Mesmo que queimem os símbolos, Não queimarão os significados. Mesmo queimando o nosso povo, Não queimarão a ancestralidade.” (Nego Bispo)
O poeta, escritor, professor, ativista político e militante do movimento social quilombola e de direitos pelo uso da terra, tem como uma das principais mensagens de sua bandeira a luta pela dignidade dos povos originários (indígenas) e os afrodiaspóricos no Brasil.
Nêgo Bispo tem dito por aí: “Sempre fomos tratados de forma coisificada. Os indígenas são vistos historicamente como selvagens, e os afro, como pertencentes a organizações criminosas”.