Lula está preso para que a elite não mais encontre, em seu caminho, os pobres resgatados pela mais bem-sucedida política de combate à pobreza e à miséria que se teve notícia em toda a América Latina [ou: como Sergio Moro se tornou ministro da justiça]
Para que um destino se cumpra, a vida exige seus sacrifícios. Fato corrente na história da humanidade, os homens e mulheres que mudaram de alguma maneira a forma de se ver o mundo pagaram com a vida sua ousadia.
Talvez a primeira grande vítima de uma justiça parcial e previsível, o grego Sócrates preferiu sucumbir à cicuta a negar seus ensinamentos. Num entardecer, aos pés da Acrópole, um dos pilares da filosofia universal tombava injustiçado pelo medo, pela ignorância e pela cobiça de seus juízes.
Séculos mais tarde, outro revolucionário sentia na carne o gosto amargo dos cravos. Conta as Escrituras que, traído por um dos seus mais próximos discípulos, o homem que não fez outra coisa a não ser pregar a paz, a compreensão e o amor, agonizou até à morte em meio ao júbilo ensandecido de uma multidão.
Por lutar pela independência de seu país, Joana D’Arc, a jovem filha de camponeses, após 20 meses de julgamento, ardeu nas chamas da inquisição acusada de bruxaria.
A lista, como sabem, é interminável. No Brasil não seria diferente. Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Olga Benário, enfim, todos aqueles que lutaram por um país livre, justo e igualitário foram tachados de criminosos por uma sociedade ainda hoje servil e preconceituosa.
Na esteira da história, cobraram de Lula – o primeiro operário a chegar à presidência desse país – o seu quinhão de culpa. Responsável pela mais bem-sucedida política de combate à pobreza e à miséria que se teve notícia em toda a América Latina, o retirante nordestino que escapou da fome e da seca ousou querer para o seu povo um destino que não fosse de servidão e subserviência.
Ao incluir os pobres pela primeira vez nos interesses do Estado, o torneiro mecânico desmantelou uma estrutura secular de dominação e privilégio que remonta ao Brasil escravocrata. Esse crime capital em particular não poderia ser perdoado e Lula passou a ser odiado pela elite desse país que apesar de não ter tido um único privilégio subtraído, não suportou a ideia de ter de compartilhar os “seus” espaços com pessoas cuja posição social até então não as autorizava.
Permitir que negros, mulheres, homossexuais, índios e minorias em geral passassem a ocupar um lugar de destaque e decisão, seja nos altos escalões do poder, seja na vida cotidiana de cada brasileiro, caracterizou-se como uma afronta pessoal a cada machista, homofóbico, preconceituoso e elitista de nossa peculiar classe média. Bolsonaro explorou muito bem isso. Não ele, que é um mentecapto talvez pior que seus eleitores, mas sua equipe que o promoveu nas campanhas.
E tudo, desde o golpe em Dilma Rousseff, foi alimentado pelo que há de pior em matéria de jornalismo, que foi irresponsavelmente praticado a exaustão pela grande mídia nacional a qual instigou, a níveis coléricos, uma horda de analfabetos políticos, muitos deles diretamente beneficiados pelas políticas inclusivas de Lula e que passaram a se autoproclamarem guardiões da moral tupiniquim e partiram para a mais insana defesa de um modelo de nação do qual eles próprios são excluídos.
Deposta ilegal e violentamente, a presidenta sucessora de Lula, a possibilidade real de o ex-presidente voltar ao poder fez com que todo e qualquer resquício da mínima aparência de normalidade institucional que tentaram manter fosse dado às favas. A cada pesquisa divulgada de intenção de voto, mais urgente se mostrava a diabólica “solução final”. Lula não podia, em hipótese alguma, ser candidato. Os inquisidores modernos foram acionados e danaram-se aparências: aceleraram os processos, atropelaram os ritos normais, forjaram atalhos. Lula não podia, em hipótese alguma, ser candidato. As fogueiras foram acesas em várias datas e queimaram as tantas possibilidades que existiam, cada qual a seu tempo, até então.
Os torquemadas da era moderna realizaram o mesmo processo que já foi de Sócrates, de Cristo, de Joana. Não julgaram um crime propriamente dito. Julgaram um homem. Mais do que isso, julgaram uma ideia, uma afronta ao establishment, uma desobediência ao estado “natural” das coisas.
Forjado por uma vida inteira de privações e necessidades, Lula, mesmo preso, faz exatamente o que se espera de um homem honrado e batalhador como ele: luta incansavelmente com as forças de um sertanejo que, apesar de tudo, não admite ser injustiçado. Lula sabe que não precisa mais da presidência da República para sua biografia. Duas vezes eleito e dono da maior aprovação que um presidente já teve em toda a história desse país, ele já entrou para a história. Lula precisava mesmo da presidência da República para dá-la novamente ao povo brasileiro, cuja maior parcela eleitoral (válida) acabou por traí-lo, e a seu candidato Haddad, vitimada por uma criminosa manipulação de mensagens influenciadoras disparadas pela equipe da mais recente peça do golpe 2016, Jair.
A segunda condenação de Lula agora age de modo a influenciar a opinião internacional, haja vista que a cotação para o Nobel da Paz é real e, caso aconteça, a direita estaria definitivamente desmoralizada com grande tendência ao enfraquecimento político. E isso traria de volta a esquerda progressista que não interessa em nada à nova ideologia voltada para a guerrilha comercial internacional de Donald Trump.
Sobre os processos de Lula, a justiça jamais esteve presente no momento de seu pronunciamento. A única possibilidade de reversão, ainda que em um tempo que já avançou e gerou muitas perdas, seria uma brutal mobilização dos movimentos progressistas nas ruas a partir de já.
À parte tudo isso, as condenações de Lula por um Tribunal de Exceção está servindo para consagrar a história de um homem que dedicou a sua vida a uma causa improvável: um Brasil para todos.
LULA NOBEL DA PAZ!
Postado originalmente no DCM 2017 e adaptado por Et Urbs Magna 2019

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