Líderes brasileiros se preparam para nova rodada de protestos

By SIMON ROMERO (NY TIMES)

São Paulo – Os líderes políticos da maior cidade do Brasil se preparam para mais uma rodada de manifestações nesta terça-feira à noite em um movimento cada vez mais poderoso que cresceu a partir de queixas sobre as tarifas de ônibus bem como um amplo desafio à corrupção política, além de insatisfação com os projetos de estádios luxuosos em contrapartida ao custo de serviços públicos e à baixa qualidade de vida.

A presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil “acordou mais forte” após os protestos na segunda-feira à noite.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reuniu-se nesta terça-feira de manhã com representantes do movimento de protesto, mas avisou que não seria possível revogar o aumento das tarifas de ônibus, alegando restrições orçamentárias. Na capital do país, Brasília, funcionários pareciam estar ávidos aderir ao movimento cujos protestos classificam-se entre os maiores e mais ressonantes desde a ditadura militar do país que terminou em 1985.

“Essas vozes, que vão além dos mecanismos tradicionais, partidos políticos e da própria mídia, precisam ser ouvidas”, a presidente Dilma Rousseff disse em um discurso nesta terça-feira de manhã. Dilma, que tem sido alvo de críticas de alguns manifestantes, disse que o Brasil “acordou mais forte” após os protestos na segunda-feira à noite: “A grandeza das manifestações de ontem eram a prova da energia de nossa democracia.”

Gilberto Carvalho, um dos principais assessores de Dilma, disse que as autoridades estavam esperando estabelecer um diálogo para responder a um movimento de ampliação que parece te-los apanhado de surpresa. “Seria uma presunção pensar que nós entendemos o que está acontecendo”, disse ele nesta terça-feira de manhã. “Nós precisamos estar cientes da complexidade do que está ocorrendo.”

Os manifestantes apareceram aos milhares nas maiores cidades do Brasil na segunda-feira à noite em uma notável exibição de força para uma agitação que começou com pequenos protestos sobre as tarifas de ônibus.

Dezenas de milhares de pessoas se reuniram em São Paulo e outros grandes protestos desdobraram-se em cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Belém e Brasília, a capital, onde os manifestantes fizeram o seu caminho para a rampa do Congresso.

Compartilhadas paralelamente com protestos antigovernamentais na Turquia, as manifestações no Brasil se intensificaram após a dura repressão policial na semana passada que surpreendeu muitos cidadãos. Em imagens compartilhadas amplamente na mídia social, a polícia foi vista batendo em manifestantes desarmados com cassetetes e dispersando multidões com disparos de balas de borracha e gás lacrimogêneo.

“A violência veio do governo”, disse Mariana Toledo, 27, uma estudante de graduação da Universidade de São Paulo, que estava entre os manifestantes na segunda-feira. “Tais atos violentos por parte da polícia dão medo e, ao mesmo tempo, uma maior vontade de protestar.”

Em Belo Horizonte a polícia anti-motim dispersou manifestantes com spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Em Porto Alegre, no sul do Brasil, os policiais também usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

No Rio de Janeiro, onde uma estimativa independente calculou que o número de manifestantes era em torno de 100.000, imagens televisivas mostraram pessoas mascaradas que tentam invadir edifícios públicos, incluindo o legislativo estadual, uma parte do que foi incendiada.

Em Brasília, a polícia parecia ter sido pega de surpresa por manifestantes que dançaram e cantaram na rampa do Congresso, no edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Esses amplos protestos são relativamente incomuns no Brasil, com alguns analistas políticos brasileiros descrevendo o que parecia ser uma cultura política de não aceitação dos elevados níveis de desigualdade de longa data e os serviços públicos precários, mais do que os de alguns países vizinhos na América do Sul.

“O Estado tentou esmagar os manifestantes sob os cascos dos cavalos da polícia de São Paulo mas não conseguiram. Finalmente estamos vivos”, disse a escritora Eliane Brum em um ensaio sobre os protestos.

O Brasil agora parece estar em direção a uma nova fase de interação entre manifestantes e líderes políticos com as ondas de protestos, em Porto Alegre. Lá, um grupo defende menores tarifas de transportes públicos com manifestações organizadas contra o aumento das tarifas de ônibus.

Os aumentos vieram em um momento de crescente preocupação com a inflação, que continua alta mesmo e com o crescimento econômico diminuindo consideravelmente. A raiva sobre o aumento também reflete a indignação com sistemas de transporte público em São Paulo e em outras grandes cidades, marcadas por ineficiência, superlotação e crime.

“Os protestos  são o resultado de anos e anos de insatisfação com o transporte caótico e caro”, disse Érica de Oliveira, 22 anos, estudante que estava entre os manifestantes.

Um grande número de manifestantes em São Paulo na segunda-feira eram estudantes universitários, mas trabalhadores de meia-idade e os pais com crianças em carrinhos também estavam presentes. A cena parecia ao mesmo tempo medonha e festiva. Alguns manifestantes haviam se coberto com bandeiras brasileiras sobre os ombros, um segurava um cartaz que dizia: “O Brasil Colônia, até quando?”

Enquanto os protestos em Brasília incluiram fortes críticas aos líderes do Congresso, em São Paulo não foi diferente bem como em várias outras cidades focando símbolos de poder do governo. Em São Paulo, eles marcharam para o palácio do governador, no Rio, para o legislador estadual, e em Brasília, para o Congresso.

Fabio Malini, um estudioso que analisa padrões de dados em mídias sociais na Universidade Federal do Espírito Santo, disse que ficou impressionado com a recusa do movimento a ser definida por um único objetivo e por sua ampla utilização das mídias sociais, o que lhe permitiu evoluir rapidamente em resposta a várias fontes de tensão social e política no Brasil.

Uma questão surgindo à tona envolve raiva sobre projetos de estádios em várias cidades antes da Copa do Mundo de 2014, que o Brasil está se preparando para sediar. Alguns d0s projetos foram impedidos pelo excesso de custos e atrasos tendo estruturas inacabadas de pé como testemunho de uma injeção de recursos em arenas esportivas num momento em que as escolas e sistemas de transporte público precisam de atualizações.

“Os maiores protestos estão acontecendo em cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo”, disse Malini. “Os brasileiros são a mistura de futebol e política de uma forma que é nova, e as vozes minoritárias estão a fazer-se ouvir.”

New York Times

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