A “música” intitulada “Passinho do Volante”, famosa pelo refrão onomatopaicamente cantado “ah lelek lek lek” de MC Federado e os Leleques, composta em fins do ano de 2012, tornou-se um meme nacional. Sua postagem na internet, em forma de vídeo clipe, já teve mais de 35 milhões de visualizações até a conclusão desta matéria.
Até a consagrada montadora de veículos Mercedes-Benz utilizou o funk carioca em uma propaganda numa tentativa de popularizar seu Classe A entre as camadas mais jovens da sociedade brasileiratransformado-o num hatch invocado, mesmo tendo um preço médio elevado, algo em torno de R$100.000,00.
Por conta de tanto sucesso as empresas Furacão 2000 Produções Artísticas e a Lek Produções brigaram judicialmente no mês passado pelos direitos de reprodução do funk alegando serem as responsáveis pela formação do grupo que estourou na internet em fevereiro e até teve a coreografia imitada por Neymar em campo. Na verdade a segunda lançou os rapazes na mídia mas a primeira, prevendo um assombrosso sucesso, contratou-os e venceu na justiça mais tarde.
Por quê Passinho do Volante se tornou meme?
Num outro dia recebi um relato de um morador da Cidade de Curitiba indignado com um cara que dirigia pelo centro da cidade tendo uma menina de uns 4 anos de idade sentada no banco da frente do carro. E para piorar o mal-estar de assistir àquela infração de trânsito o sujeito ouvia um funk “venenoso” em som altíssimo que falava muito palavrão, especialmente sobre as partes íntimas femininas subjugando em demasia as mulheres de um modo geral. Uma verdadeira exaltação pública ao profano, louco e sem significado mundo da desclassificada tendência musical carioca que parace ser imortal, o que deixava os transeuntes com ânsia de vômito e indignação. Sim, Curitiba é uma grande colônia.
Todos sabem da má fama dos bailes funk do Rio de Janeiro e conhecem as letras horrendas que fazem exaltação ao tráfico de drogas, armas e sexo. Mas parece que apenas poucos sabem que esse tipo de cultura afeta gravemente o desenvolvimento da inteligência e do caráter humano. Não é difícil imaginar, por exemplo, qual será o provável futuro daquela menina sentada no carro ao lado de seu pai inconsequente.
Mas “O Passinho do Volante” não tem nada disso. Parece que inspira tão somente uma saudável alegria de uma juventude que está sendo libertada aos poucos da violência urbana de suas comunidades. A letra é ingênua demais, e se não fosse pelo alívio de não ter que ouvir outro funk imoral poderia ser considerada como mais um atentado à música nacional devido à péssima qualidade da composição, o que é tremendamente verdadeiro. Perdoemos, no entanto, MC Federado e os Leleques, desta vez, por trazer de volta a tranquilidade refrescante de uma insinuação ritmada desprovida da maldade do tempo dos assombrosos bandidos que um dia dominaram toda a cidade de uma forma imperiosa e impiedosa. Que o refrão “Ah, lelek, lek, lek…” se faça mais e mais reproduzível até cansar o corpo dos adolescentes, a mente dos homens idôneos e a Música Popular Brasileira. Até que um dia a sociedade possa, talvez, estar curada para sempre (o que pode ser uma utopia) da trágica consequencia cultural decorrente da ausência de uma boa política (principalmente habitacional) nos estados que receberam grande leva de emigrantes nordestinos em meados dos anos 50. Mas isso é outra história.