Evo Morales encerrou as atividades do Palácio Quemado, que foi aposentado depois de ter sido, durante mais de um século e meio, a sede da Presidência da República
Simultaneamente, Morales inaugurou o novo palácio presidencial, denominado “A Casa Grande do Povo”
Receba nossas atualizações direto no WhatsApp
Do Época – Com música indígena produzida por instrumentos de sopro e rituais da etnia aymará em homenagem a Pachamama — a deusa mãe-Terra das antigas civilizações andinas —, o presidente da Bolívia, Evo Morales, encerrou as atividades do Palácio Quemado, que foi aposentado depois de ter sido durante mais de um século e meio a sede da Presidência da República. Simultaneamente, Morales inaugurou o novo palácio presidencial, denominado “A Casa Grande do Povo”, de estilo moderno. A anterior sede do Poder Executivo — que no século XIX foi queimado duas vezes em rebeliões da população, fato que lhe valeu o nome peculiar — era detestada por Morales. Não à toa, o novo prédio dá as costas ao velho palácio.
A construção da nova sede presidencial, de 29 andares de altura, levou quatro anos. Conta com sete elevadores e heliporto. No 23º andar está o escritório presidencial. No 24º andar está a suíte para o presidente, de 1.068 metros quadrados. O gasto oficial da construção foi de US$ 34,4 milhões, mas a oposição afirma que passou dos US$ 40 milhões — cerca de R$ 160 milhões. Morales defendeu o gasto: “A Casa Grande do Povo é uma necessidade. E uma necessidade não é um luxo!”. A suíte presidencial necessária dispõe de sauna, hidromassagem, academia de ginástica e sala de leitura.
A oposição reclamou dos luxos na sede do Poder Executivo. Morales também deu outro argumento para construir um palácio presidencial novo: “O anterior era um palácio dos tempos colonialistas”. Na realidade, o palácio antigo, o Quemado, é de 1853, quando os bolivianos já acumulavam 28 anos de independência, pois encerraram o domínio colonial espanhol em 1825. O novo, em estilo moderno, foi criticado pelo tamanho e pela aparência: seria um “intruso” estilístico no meio do centro colonial de La Paz.
Dias antes da inauguração do novo palácio, Morales bateu o recorde de presidente boliviano com mais tempo no poder, ao chegar aos 12 anos, seis meses e 23 dias no cargo, ultrapassando por um dia a marca de permanência não contínua no poder de Víctor Paz Estenssoro, que foi presidente em quatro mandatos separados (1952-1956, 1960-1964, de 6 de agosto a 4 de novembro de 1964 e 1985-1989). Morales, em 2016, já havia ultrapassado o recorde de permanência contínua no poder, até aquele ano pertencente ao marechal Andrés de Santa Cruz, que havia estado uma década no comando da Bolívia (1829-1839).
Ao longo destes anos no comando do país, além da construção do novo palácio, Morales implementou medidas sui generis para se diferenciar do passado. Esse foi o caso quando, em junho de 2014, o relógio da cúpula do Palácio Legislativo em La Paz começou a girar em sentido anti-horário, isto é, para a esquerda. Na sequência, os pedestres perceberam que os números do quadrante também haviam sido invertidos — o 11 ocupando o lugar da 1 hora, o 10 no lugar das 2 horas, e assim por diante.
Na ocasião, o vice-presidente Álvaro García Linera explicou a decisão ressaltando que os relógios dos “colonizadores” seguiam o mesmo sentido da sombra do sol nos relógios solares, tal como é no Hemisfério Norte. “Durante séculos tivemos de fazer as coisas como fazem no norte. A mudança no relógio ajuda a mostrar de forma diferente e abre a mente!”, exclamou.
A permanência de Morales no poder é algo raro na história da Bolívia. Nos 193 anos de independência, o país teve 85 presidentes, o equivalente a um presidente a cada dois anos e três meses. Em quatro ocasiões, o país teve períodos — de cinco a 23 dias, dependendo dos casos — nos quais nenhum presidente esteve no comando.
A mudança da Carta Magna foi outra constante da Bolívia. Desde a independência, o país teve um total de 16 Constituições nacionais, além de cinco pequenas reformas adicionais às Cartas Magnas para adequar-se aos chiliques dos presidentes de plantão. Além das reformas, os presidentes eventualmente recorreram à via judiciária para driblar as Constituições.
Como presidente da República, segundo a Carta Magna, Morales tem prazo de validade até o dia 22 de janeiro de 2020. Ele quer esticar sua permanência no poder, no entanto, até 2025.
Se as eleições fossem hoje, segundo uma pesquisa da consultoria Mercados y Muestras, Morales teria somente 27% dos votos. Em seus calcanhares aparece o ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), seu opositor. Na hipótese de um segundo turno, Mesa teria 48% e Morales ficaria com 32%. Morales está tentando inabilitar Mesa na Justiça. Ele acusa seu potencial rival de ter expulsado “ilegalmente” uma empresa chilena de mineração durante seu breve governo.
NAS REDES SOCIAIS
Receba nossas atualizações no WhatsApp
Subscreva Et Urbs Magna no Youtube
Curta Et Urbs Magna no Facebook
Grupo no Facebook PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO
Et Urbs Magna no Twitter