Dois mil prefeitos pedem ajuda contra covid e influenza enquanto apagão de dados prossegue

O presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em imagem de Isac Nóbrega / PR


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

Gestão de Bolsonaro deixa todo o país sem informações sobre a pandemia sem que se saiba ao certo como está a disseminação do vírus, nem quantos são os mortos por dia

Um grupo de mais de 2 mil prefeitos enviou um ofício ao Ministério da Saúde na última quarta-feira (05/01) solicitando ajuda ao governo federal contra o aumento de casos de covid-19 e gripe influenza. Os gestores querem o apoio da pasta para a estruturação do atendimento ambulatorial, compra de testes rápidos de Covid-19 e de remédios antigripais, que estão em falta em várias cidades do Brasil, conforme divulgado no jornal O Globo, desta quinta-feira (06/01). Enquanto isso, a gestão de Bolsonaro deixa todo o país sem informações sobre a pandemia e o Brasil vive um apagão nos dados da pandemia, sem que se saiba ao certo como está a disseminação do vírus, nem quantos são os mortos por dia.

A situação é alarmante. Precisamos de mais testes, mais estrutura e medicação“, disse o prefeito de Florianópolis (SC), Gean Loureiro, aos jornalistas. “Estamos assistindo a um crescimento vertiginoso do número de casos de Covid e influenza. Pedimos ao Ministério medidas emergenciais e apoio aos municípios. O governo federal não pode se omitir se os municípios não têm estrutura para atender a uma demanda inesperada“.

O grupo ressalta que o aumento de novos casos de Covid-19 em conjunto com os de Influenza tem onerado sobremaneira os serviços de atendimento ambulatorial.

As unidades de atendimento à população, por mais que tenham tido a expansão necessária, estão sendo demandadas para além de sua capacidade de atendimento”, diz o documento.

Em Canoas (RS), 40% dos testes feitos este ano deram positivo, segundo o prefeito Jairo Jorge (PSD).

Apenas nos últimos dois dias, a cidade testou mil pessoas, muito além da média 170 diagnósticos por dia registrada em semanas anteriores. Diferente da última onda da doença, em que casos graves demandaram profissionais na UTI e mais leitos de enfermaria, o atual cenário requer reforço na atenção primária, ou seja, nas unidades básicas de saúde“, diz Jorge.

Precisamos de recursos. Vamos ter que ampliar unidades básicas, contratar médicos, enfermeiros, pagar horas extras. Em 2020, tivemos recursos importantes do Ministério da Saúde, mas no ano passado as cidades se viraram com recursos próprios. Precisamos de apoio, senão teremos um desequilíbrio“, afirmou ainda o prefeito. “Em determinado momento não teremos mais capacidade de comprar testes ou pagar por essas demandas“.

No documento encaminhado ao governo Jair Bolsonaro, os prefeitos ainda dizem: “Pedimos o reforço do envio de teste de antígeno, bem como o apoio a estruturas fixas e móveis de testagem, seja na forma de equipamentos ou financiamento para garantir a contratação das estruturas e das equipes temporárias para apoio da testagem”.

O Consórcio também ressalta que a intensa demanda no atendimento ambulatorial gerou um esgotamento dos estoques do . Em alguns locais, já há um apagão destes remédios.

Este medicamento [Oseltamivir, medicamento usado para tratar casos graves de influenza] está em falta em diversos pontos da cidade, seja na assistência farmacêutica pública ou até mesmo nas redes privadas. Desta forma, seria de grande valia o envio de estoques adicionais do referido medicamento ou de recursos especiais para que as cidades possam fazer a aquisição.”

Apagão de dados começou em setembro

Em um posicionamento equivocado do Ministério da Saúde, a pasta dificultou a notificação dos dados da pandemia. Na sequência, “ataques hackers” derrubaram os sistemas de vigilância epidemiológica.

Após mais de um mês, nada de normalização. Tudo isso, enquanto o mundo enfrenta um momento crítico da pandemia. E com o peso do fim do isolamento social em muitos locais e aglomerações típicas do fim de ano.

O professor de estatística da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Rafael Izbicki, avalia a situação, conforme mostrou o Brasil de Fato: “Com qualquer governo sério, no mínimo haveria alguma comunicação transparente sobre quais são os obstáculos e quando deve normalizar. Aqui dá a impressão que ou é proposital, ou não fazem questão de arrumar. Em um mês dava para ter feito um novo sistema do zero”.

O médico infectologista do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Alexandre Zavascki também mostra indignação com a situação: “Inaceitável o apagão de dados no Brasil em um momento crítico da pandemia. Pior ainda é não sabermos o que está acontecendo e aparentemente nenhuma preocupação maior em saber”.

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