Digitar no teclado de um computador é algo ainda relativamente recente. Não possui a mesma representação quase fisiológica da escrita manual com papel e caneta, por mais que estes dois objetos tenham evoluído e, em especial, este último. Na primeira forma de externalização há a tentativa da expressão exata do que vai no pensamento e/ou na alma com requisitos de alguma habilidade extra, uma vez que tecnologias atuais estão distanciadas a apenas alguns cliques e são disponibilizadas em páginas de internet amplamente acessíveis, o que pode atrapalhar a concentração necessária para que as portas da percepção se mantenham no foco da ideia original. E talvez eu tenha tal temor por não ser um dos filhos desta evolução informatizada, tendo nascido em uma época em que até mesmo os telefones celulares eram produtos de ficção. Há muito perdi o contato com o método mas imagino que o discurso seja o mesmo visto que o sentimento continua dentro do coração do homem. A propósito, as emoções e suas peculiaridades foram preservadas como alvos de exercício do capital (sim, aquele de Marx), mas esta percepção não convém ser comentada ainda. Temo agora, tão somente, o fato do discernir focado, sem distrações e evasivas que possam comprometer o desenvolvimento de uma ideia. Seria possível efetuar a construção de tal literatura não sendo um gênio? É fato que, antes de iniciar a elaboração deste tema, muni-me de papel e caneta como nos bons tempos do cólera cultural com o qual as pessoas eram acometidas. Pergunto-me (à vocês também) se eu teria chegado ao fim de uma página sendo o Word o instrumento principal ao invés deste caderno velho e desta caneta encontrada em uma caixa com mais de cinquenta outras. Creio que sei a resposta pois não levou muito tempo para chegar até aqui, neste fim de página do caderno. Minha intenção é comparar a performance fisiológica com a tecnológica e entender melhor este efeito, pois tenho andado preocupado com o poder destas ferramentas da nova comunicação das duas últimas gerações. A velocidade com que o aperfeiçoamento da web modifica a estrutura mental dos jovens me impressiona e decepciona. Minha filha tem 12 anos de idade e já leu A Revolução Dos Bichos, de George Orwell. Não tenho sido muito tolerante com programas de TV e conteúdos fúteis. Penso que há cem anos atrás o homem ainda tinha a possibilidade de se tornar um gênio qualquer, mas hoje o vejo desacreditado como um porco que consome sua lavagem diária e não contribui em nada com a evolução da espécie. Darwin entraria em depressão diante deste colapso evolutivo. É muito difícil entender qual rumo a humanidade tomará. Lembrando que ainda estou no caderno velho e que, possivelmente, esta caneta durará mil anos quando eu a largar. Tenho essa impressão.
Darwin, Marx e o colapso evolutivo
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