Et Urbs Magna, 29 de setembro de 2018, 12:10 GMT
Ludimilla Teixeira passou a receber ameaças por telefone, redes sociais e não sai mais sozinha à noite
A rápida e crescente adesão das integrantes fez com que a hashtag #Elenão–que surgiu de uma campanha organizada dentro do grupo para escolher a melhor forma de protestar– ganhasse notoriedade internacional
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Do Metrópoles – A moça que conseguiu reunir 3,8 milhões de mulheres contra um candidato a presidente acha que sequer vai votar nas eleições 2018. “Não digo que todos os políticos são corruptos, sei que existem pessoas sérias, mas quando estão em um partido ficam muito limitadas, precisam reforçar o ideal do partido”, diz Ludimilla Teixeira, 36 anos, que há um mês criou o grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro no Facebook. “O que eu sei é em quem eu não vou votar”, completa a funcionária pública baiana que se diz anarquista.
A rápida e crescente adesão das integrantes fez com que a hashtag #Elenão–que surgiu de uma campanha organizada dentro do grupo para escolher a melhor forma de protestar– ganhasse notoriedade internacional. Nesta sexta-feira (28/9), a cantora Madonna postou uma mensagem de apoio. “Eu chorei quando vi”, conta Ludimilla. Atualmente, 10 mil mulheres por minuto pedem para entrar no grupo, que não aceita homens.
Também dentro da página foram marcados os protestos contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) que ocorrem neste sábado (29) em várias cidades do País. Ludimilla pede licença para usar um neologismo e chama as integrantes do grupo de “membras”. Credita a força do movimento a elas e às 110 administradoras do grupo –que passam a noite respondendo a milhares de mensagens, postando informações e aprovando integrantes.
Eu só acendi o fósforo para explodir o barril de pólvora da indignação coletiva feminina“, diz Ludimilla Teixeira.
Ela conta que nunca participou ativamente do movimento feminista nem se filiou a nenhum partido. Envolveu-se no movimento estudantil durante a faculdade de Publicidade e participou do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2002. Aos 20 anos, foi a primeira vez que saiu da Bahia, lembra, e que teve contato com “discussões políticas fundamentadas”.
A ideia de criar o grupo nasceu de uma conversa com uma amiga numa noite em que se questionavam sobre o que fazer para alertar a população sobre as ideias de Bolsonaro, que considera “fascistas e machistas”. Ludimilla se recusa a pronunciar o nome do candidato, a quem chama de “inominável”.
“Às 6h25 da manhã acordei e criei a página, fui adicionando as minhas amigas sem avisar.” Nas primeiras 48 horas, já tinham 6 mil integrantes. “Acho que as mulheres estavam carentes de um espaço para debate. Vai além da candidatura, a luta é muito maior.”
Depois que o grupo começou a crescer, representantes de candidatos a procuraram, mas, segundo ela, não houve conversa porque “os partidos não queriam dialogar com o grupo e, sim, meu apoio individual”. “Agradecemos a menção e o apoio de todas as frentes, mas nossa proposta é suprapartidária.” Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) usaram a hashtag em suas propagandas eleitorais e políticos de vários partidos se programaram para participar dos protestos deste sábado.
Família
Ludimilla nasceu em uma família pobre da periferia de Salvador, no bairro de Cajazeiras, conhecido pelo alto índice de mortes violentas e pela grande população negra. A mãe, auxiliar de enfermagem, sustentava a família. Ela tem dois irmãos e um deles pretendia votar em Bolsonaro. “Acho que ele vai mudar de ideia.”
Quando o grupo chegou a 2 milhões de integrantes, ele sofreu uma invasão de hackers. Membros foram apagados, outros incluídos e o nome foi mudado para “Mulheres com Bolsonaro”. O ataque foi feito diretamente nas contas de Ludimilla, que, depois disso, teve de trocar de aparelho e operadora de celular e até hoje não recuperou sua conta de e-mail. Com a ajuda do Facebook, a página voltou ao ar da mesma forma e com membros do dia anterior ao hackeamento. A invasão está sendo investigado pela polícia.
Ludimilla também passou a receber ameaças por telefone e redes sociais. Não sai mais sozinha à noite e usa seguranças. Ela é solteira e divide a casa com dois gatos e um cachorro. Advogadas que conheceu pelo grupo estão a orientando sobre como proceder.
A mãe de Ludimilla não entendeu a expressão “ataque cibernético” quando contaram o que a filha havia sofrido. “Ela achou que tinham me atacado fisicamente, ficou muito preocupada”, conta. “Eu tenho medo, principalmente depois do que aconteceu com a Marielle (Franco, vereadora assassinada no Rio). Mas acho que eu e essas 4 milhões de mulheres podemos estar mudando o futuro do País.”
A HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DO GRUPO:
As notificações não param de chegar: nove administradoras e 50 moderadoras se desdobram para gerenciar o grupo fechado Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, no Facebook. São mais de 10 mil pedidos de adesão por minuto. Criada em 30 de agosto, a página teve uma explosão, com 600 mil novas usuárias, entre os dias 9 e 10 de setembro: já são quase 800 mil membros até a publicação desta matéria (*).
“Até o final da semana seremos 1 milhão. Nós vamos decidir essa eleição, vamos fazer história, a imprensa internacional falará de nós e nunca mais nenhum outro político ousará menosprezar a figura feminina”, escreveu uma das administradoras.
O texto de apresentação do coletivo diz:
“Grupo destinado à união das mulheres de todo o Brasil (e as que moram fora do Brasil) contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores. Acreditamos que este cenário, que em princípio nos atormenta pelas ameaças às nossas conquistas e direitos, é uma grande oportunidade para nos reconhecer como mulheres. Esta é uma grande oportunidade de união! De reconhecimento da nossa força! O reconhecimento da força da união de nós mulheres pode direcionar o futuro deste país! Bem-vindas aquelas que se identificam com o crescimento deste movimento”.
As motivações para criar o grupo são ideológicas. “Não recebemos pagamento ou comissão para estar aqui, estamos trabalhando duro porque acreditamos num propósito viável e importante para nós mulheres”, afirmou outra moderadora.
Entre os depoimentos compartilhados no grupo, há relatos dos mais diversos perfis: mulheres de direita, mas que não concordam com as ideias de Jair Bolsonaro, e de esquerda – que combatem com veemência o discurso violento propagado pelo candidato do PSL.
Uma delas afirmou: “Sou esposa de um coronel do Exército e esse Bolsonaro não nos representa. Ele não tolera as minorias e somos pais de um filho autista. Ele trata deficientes, mulheres, negros, homossexuais com deboche e desprezo”.
O grupo tem regras, como a proibição do discurso de ódio e da exposição das mulheres que integram a página. Apoiadores de Bolsonaro criaram uma versão falsa do grupo para confundir as participantes. Trata-se do Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (reserva).
O eleitorado feminino será pedra no meio do caminho para o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada nessa segunda-feira (10/9), o postulante o militar da reserva possui 17% da intenção de voto do eleitorado feminino e é rejeitado por 49% delas. Nenhum outro concorrente tem tanta discrepância em porcentagem de eleitores por gênero.
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MANUELA D’ÁVILA PROVA QUE, JUNTO COM HADDAD, FARÁ A MELHOR DUPLA DE PRESIDENTES QUE O BRASIL JÁ TEVE. ASSISTA:
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Todo apoio a essas bravas mulheres do Brasil. O bostanaro já era. Haddad presidente.