Agonizou por mais de uma hora no chão, sem que a polícia ou a GCM permitissem que fosse socorrida
GCM diz que usou apenas armamento não letal, mas os Jornalistas Livres flagraram agentes com pistolas nas mãos, prontas para ser usadas
“Os policiais vieram tirar as barracas onde a gente mora, como todo dia, mas pediram pra gente correr. Quando viramos as costas, obedecendo, houve uma chuva de balas em nós”, afirma um morador. Ele mostrou pelo menos duas perfurações em seu casaco.
A polícia esteve ontem durante quase o dia todo aterrorizando usuários de drogas na Cracolândia. São pessoas fracas, debilitadas, desprovidas de tudo, que foram atacadas e obrigadas a correr desesperadas enquanto eram atingidas por tiros.
A polícia diz que usava arma não letal mas vai ter que explicar por que três pessoas foram atingidas por balas de verdade, uma delas na cabeça. A velha desculpa de que quem atirou foram os usuários não cola. Nenhum agente ou policial militar foi atingido por qualquer disparo de arma de fogo.

A jovem, até agora identificada apenas como “Aline
foi atingida por volta das 14h15 na cabeça. Tiro pelas costas. Ela ficou agonizando por mais de uma hora no chão, sem que a polícia ou a GCM permitissem que fosse socorrida. Ela só foi dar entrada na Santa Casa de Misericórdia , no bairro da Santa Cecília, vizinho à Cracolândia, às 15h30. Às 20h30, ela deixou esse mundo de sofrimento. Morreu.
Varias testemunhas disseram que a jovem ficou muito tempo sangrando estendida no chão à espera de socorro. “Bala de borracha não faz o estrago que fez na moça. Ela ficou sangrando muito no chão”. Na rua onde a polícia fez a ação, os Jornalistas Livres mostraram os resíduos de sangue no asfalto – apesar de o local já ter sido lavado por caminhões da prefeitura.
No local, os frequentadores do fluxo, como é conhecida área que reúne dependentes químicos em situação de rua, escreveram a palavra “PAZ” e “Direitos Humanos”. O tratamento desumano e covarde a que a Prefeitura e o Estado de São Paulo submetem aquela gente tão frágil e desvalida é um crime e tem que acabar.

No centro, um policial segura uma pistola
Nota da assessoria de imprensa da Santa Casa:
“Na tarde de hoje recebemos uma paciente nessas características: mulher sem identificação, atingida em confronto na Cracolândia. Informamos que a vítima está com ferimento na cabeça e em estado grave, sendo acompanhada por equipe do pronto-socorro.
Recebemos também um homem sem identificação, ferido por tiro na perna e seu estado de saúde é estável.
Bruna Pedroso
Assessora de Imprensa e Relações Institucionais
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo”
De acordo com os moradores, houve uma “guerra” logo pela manhã. “Uma mulher levou um tiro no meio da rua e ficou agonizando por mais de uma hora sem que ninguém pudesse socorrer”, diz uma testemunha. Há foto desta mulher com o rosto caído no chão, atingida pelas costas. Segundo as testemunhas, ela já estava morta quando foi socorrida por bombeiros.
“Os policiais pediram pra gente correr e quando viramos as costas, obedecendo, houve uma chuva de balas em nós”, afirma outro morador. Ele mostrou uma perfuração em seu casaco.
Na rua onde a polícia fez a ação, os Jornalistas Livres mostraram os resíduos de sangue no asfalto – apesar de o local já ter sido lavado por caminhões da prefeitura.
No mesmo chão, os frequentadores do fluxo escreveram a palavra “PAZ” e “Direitos Humanos”.

Por Laura Capriglione e Cecília Bacha, especial para os Jornalistas Livres
via Jornalistas Livres
Se fosse arma não letal, Aline não teria morrido.