Companhia de Água recebe poema de cliente reclamando do valor da fatura e empresa responde com poesia

A CAESB – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – recebeu um protocolo de reclamação, em sua página eletrônica de seu serviço de ouvidoria, bastante diferente do tradicional: um lindo poema pedindo providências.caesb

O Sr. Luiz Carlos Garcia de 64 anos, que reside sozinho em uma economia residencial de Brasília,  teve seus faturamentos mensais mais recentes calculados em valores muito além de sua realidade de consumo e a última conta chegou ao valor absurdo de R$ 1.150,00. Muito assustado com as quantias que já vinha desembolsando todo mês, não só para a fornecedora de água mas também para bombeiros hidráulicos que não solucionaram seu problema, Garcia resolveu reclamar através de um protesto brando. Escreveu um longo e belo poema onde expôs todas as dificuldades que vinha sofrendo valendo-se de seu talento para as letras. E, pasmem, a empresa respondeu com outro poema com qualidade  literária semelhante através do qual relatou detalhadamente todo o processo de inspeção das instalações na residência do reclamante. O caso foi encerrado com a solução da queixa do poeta, a qual foi recebida e conduzida por Aline Santos de 46 anos, culminando com a redução da fatura para R$ 127,00.

Entenda ao ler os dois poemas:

Luiz Carlos Garcia:

“Senhor Presidente
Venho mui respeitosamente à presença de vossa senhoria para apresentar e requerer o que se segue:

Venho à vossa senhoria / externar o que me aborrece / se não pode perseverar / aquilo que me entristece
O hidrômetro que marca e conta / a água que aqui consumo / é como fumaça que espalha / de um cigarro que não fumo
Desde que foi instalado / o novo tecnológico instrumento / a cada leitura nele feito / perco até os movimentos
Preocupado com a conta / que sempre me mostra aumento / até contratei uma empresa / que se diz caça-vazamento
Na verdade o que queria / na lucidez do momento / era encontrar uma forma / para estancar o tormento
E um trabalho dedicado / puseram-se os homens a fazer / na busca de saber se o indicado / eles poderiam resolver
Depois de muito procurar / em canos, válvulas e torneiras / disseram-me algo encontrar / que explicasse d’água a peneira
Puseram-se então a falar / na rede, este trecho é o problema / se os canos daqui, for trocar / resolvemos o seu dilema
Cem metros de cano comprei / cola, lixa e conexões / depressa do comércio voltei / atendendo as orientações
Fizeram toda tarefa / da rede modificar / depois foram-se embora / p’ra outras casas visitar
Grande foi a minha surpresa / que nem sei como contar / fui consultar o hidrômetro / e ver o que ele estava a marcar
Quando o olhei atentamente / com tudo na casa fechado / lá estava o renitente / a se mover, desesperado
Acreditar? já não podia / naquilo que ali, eu via / restou-me naquela agonia / me apegar n’alguma magia
Aqui moro sozinho / sem filhos, mulher, empregado / não lavo roupas, nem cozinho / só no banho, o líquido é usado
Nem para beber uso água / que da rede aqui deságua / das minerais me abasteço / e disso não guardo mágoa
Também não recebo visitas / que a água pudessem consumir / por isso procurar respostas / é no que preciso insistir
Minha casa é bem pequena / apenas cem metros quadrados / nela só faço dormir / e preservar meus guardados
Não levo os jardins a regar / nem carros eu deixo lavar / calçadas com a água esfregar / por onde esta água escoar?
Faxino a casa com balde / e um pano p’ra no chão passar / diz minha consciência em alarde / a água é p’ra se economizar
Uma coisa é verdade / que aqui preciso indagar / como pode uma só pessoa / tanta água no mês gastar?
Um mistério se formou / se esta água aqui entrou / se dela pouco se usou / a maior parte evaporou?
A vários vizinhos perguntei / e a pessoas que conheço: / da água que consomem por mês / na conta vem qual o preço?
Quando minha conta os mostrei / consternação demonstraram / ao sentir o quanto assuste, / procure a Caesb, falaram
Até mesmo em casas grandes / de famílias numerosas / os valores lançados nas contas / não são de montas onerosas
Em outros tempos diria / quando a rede era antiga / mesmo achando água cara / a conta era bem mais amiga
Depois dessa rede mudada / p’ra outra que diferença não vi / me chega a conta inusitada / a cobrar o que não consumi
Recibos passados eu junto / para sustentar o que escrevo / pois como um bom cidadão / sempre pago o que devo
A Caesb é empresa séria / não há dúvidas que eu levante / então nesta minha história / o hidrômetro é o meliante
Sei que não posso acusar / se provas me estão a faltar / mais se a suspeição está no ar / é preciso investigar
Peço a vossa senhoria / que mande me socorrer / pois se a conta assim ficar / de infarto posso morrer
Com licença, peço aos peritos / dessa Companhia honrada / para o indivíduo estudar / e esta situação aclarar
Com suas técnicas e instrumentos / sobre o dito cujo, aplicados / saberemos se seu trabalho / é correto ou é viciado
Se inocente estiver / desculpas já devo pedir / mais recolhido deverá ser / se nele a culpa recair
Se comprovado, o erro for / de quem o consumo media / devolva-me com prontidão / o que paguei e não devia
Ou se preferir modo outro / proponho a vossa senhoria / descontar o tal valor / quando faturar a Companhia
Pois se assim não for feito / outro caminho não há / se não o de ir a justiça / o meu direito reclamar
Rogo vossa senhoria / uma providência tomar / pois não é justo essa conta / eu ter que continuar a pagar
Assim, deixo o meu pedido / em forma de poesia / se escrever é uma arte / que me enche de alegria
E, antes que se faça tarde / neste tempo, o que pronuncia / antecipo meus agradecimentos / junto a vossa senhoria
Como nos ensina a lição / que nos vem d’antigamente / despeço-me no último verso / com um gentil, cordialmente.” 
Caesb
“Sr. Luiz Carlos Garcia
Em resposta à sua manifestação / Sob o n.º 1.723/2016 protocolada / Na qual nos chamou atenção / O brilhante uso da nossa língua falada
Vimos pelo presente documento / Apresentar os resultados apurados / Na esperança de que com esse intento / Encerremos os seus desagrados
A fim de verificar / A situação apresentada / Pusemo-nos a vistoriar / As instalações internas afetadas
E eis que ficou constatado / A ocorrência de um vazamento / Comprovadamente sanado / No mais curto espaço de tempo
Para assegurar um fornecimento / Contínuo, lhano e escorreito / Fora instalado um equipamento / De precisão, em seu conceito
E ao fim de 58h constantes / Registrou o importante instrumento / Não haver na rede pressões variantes / Que provocassem um derramamento
Desta forma, concluímos que o vazamento / Ocorrido em sua residência / Tratou-se de um fortuito acontecimento / Lamentável em sua essência
E, atendendo a Resolução da Adasa / Que norteia os procedimentos desta Casa / Foram concedidos os descontos possíveis / Aos casos de vazamentos imperceptíveis
Estão creditados para os próximos faturamentos / Valores resultantes das revisões das contas / Limitadas a dois consecutivos eventos / Com prazo de 12 meses para nova remonta
Mas sabendo dos hábitos conscientes / Por V. Sª praticados / Certamente não será recorrente / O evento outrora cessado
Pessoalmente quero aqui registrar / Minha admiração e meu mais profundo respeito / Posto que, lamentavelmente, não é comum encontrar / Quem faz do uso da palavra um belo feito
Compartilhando da mesma paixão / Me despeço com leniência / E digo com admiração / Receba minha reverência”
Gentileza Gera Gentileza, não é mesmo?

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