O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice presidente Geraldo AlckminImagem: Pedro Ladeira/Folhapress
Veja os pontos principais do artigo de Lula e do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin
Nesta quinta-feira (25), é celebrado o Dia da Indústria. No entanto, o setor não tem muito o que comemorar, uma vez que o Brasil vem vivendo um processo de desindustrialização precoce.
No ano passado, indústria brasileira registrou queda de 0,7% e passou a operar no mesmo patamar registrado em janeiro de 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê uma redução de 0,5% da atividade industrial em 2023.
Samantha Cunha, gerente de política industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destaca que a indústria brasileira ela vem perdendo espaço tanto no mercado doméstico, quanto no mercado internacional.
“Até 2014, a gente estava entre as 10 maiores indústrias do mundo. Hoje, nós estamos na 15ª posição e a gente vem perdendo posição para países emergentes como nós, como, por exemplo, o México, a Indonésia e a Turquia”, afirma. Ela afirma que a indústria tem uma importância de 20% no Produto Interno Bruto (PIB) aqui no Brasil. No entanto, em países em desenvolvimento, essa taxa tende a girar em torno de 30%.
Motivos da desindustrialização
Na prática, a indústria é um dos setores que mais puxa o crescimento econômico. Pelas contas da CNI, quando R$ 1 é produzido no setor industrial, ele tem um efeito multiplicador de R$2,67 na economia como um todo. No entanto, o setor perdeu competitividade e produtividade ao longo dos anos.
Segundo Samantha, o motivo que está levando a essa desindustrialização é o chamado “Custo Brasil”, que se refere a um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que influenciam negativamente o ambiente de negócios, encarecendo os preços dos produtos e custos de logística.
A estimativa é que o Custo Brasil custe R$ 1,7 trilhão por ano para as empresas, de acordo com o estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC).
“A nossa infraestrutura ineficiente, o excesso de burocracia que existe, problemas de insegurança jurídica, a complexidade do sistema tributário e a baixa qualidade da educação. Esses são os fatores que afetam o ambiente que as empresas operam e que geram desvantagens para as empresas nacionais. Outra questão são as exportações: os nossos produtos de alta densidade tecnológica perderam participação de forma acentuada nos últimos anos, e, ao mesmo tempo, a gente vê o crescimento da importância das commodities”, afirma a executiva da CNI.
Além disso, o cenário econômico também não facilita. A pandemia gerou uma pausa nas cadeias produtivas e acelerou a inflação e valorização do dólar. Samantha ainda lembra que o setor enfrenta quarta revolução tecnológica, os desafios da mudança climática e a rivalidade industrial entre os países.
Por outro lado, a indústria brasileira também tem lá suas vantagens. O setor é um dos que mais tem fontes de inovação: pelo menos 70% dos investimentos empresariais em pesquisa e desenvolvimento é feito na indústria.
Além disso, a estrutura industrial brasileira é diversificada. “A nossa estrutura é mais diversificada que a média dos países da OCDE. Significa dizer que a gente tem desde a indústria extrativa, a indústria de base, até as indústrias de alto valor agregado”, destaca Samantha.
Outras vantagens que também são ligadas às características do Brasil que são relevantes diante da tendência de descarbonização, como a abundância em recursos naturais com uma matriz elétrica limpa e de fontes renováveis e a participação importante na biodiversidade do mundo.
Retomada da indústria
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) publicaram nesta quinta-feira (25) um artigo no jornal O Estado de S. Paulo defendendo a reindustrialização do país, com a participação do agronegócio e a necessidade de uma reforma tributária.
Com o título de “Neoindustrialização para o Brasil que queremos”, o texto defende que “a indústria será, nos próximos anos, o fio condutor de uma política econômica voltada para a geração de renda e de empregos mais intensivos em conhecimento, inclusive no setor de serviços”.
Veja os pontos principais do artigo de Lula e Alckmin:
Reindustrialização da economia: O artigo destaca a importância da exportação de matérias-primas, mas ressalva que a atividade é mais vulnerável aos ciclos de preços internacionais. Com isso, aponta para uma economia baseada no conhecimento, que depende de recuperação do setor industrial.
Aposta em setores-chave: O texto afirma que a neoindustrialização brasileira requer iniciativa, planejamento e gestão. Para isso, a diversificação precisa ser criteriosa, a partir dos setores em que o Brasil possui know-how e capacidade de ser competitivo.
Conselho Industrial: Segundo o artigo, o caminho para a neoindustrialização passa pela escuta da sociedade por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), de onde vão sair as missões a serem dadas à indústria.
Brasil Verde: O texto também destaca o potencial verde da economia brasileira. Um exemplo citado é a redução do uso de combustíveis fósseis na indústria automotiva por meio do carro elétrico, mas também com biocombustíveis. “Podemos exportar carros ou motores flex para mercados aptos a usar etanol na Ásia, na África e na América Latina”, cita.
O agro é pop: Segundo o artigo, a força do agronegócio brasileiro vai permitir criar uma cadeia de suprimentos que reduza a dependência externa com o Plano Nacional de Fertilizantes. O estímulo à agroindústria, ao financiamento de exportações de maquinário agrícola e de novas tecnologias que estão surgindo no Brasil para atender o campo também são citados no texto.
Reforma tributária: O texto ainda enfatiza a necessidade de políticas horizontais – como uma tributação eficiente e justa. “É a reforma tributária, para destravar, desburocratizar e simplificar processos que prejudicam a indústria. A reforma, desenhada para reduzir a cumulatividade e os conflitos, estimulará o investimento privado, elevará as exportações nacionais, combaterá as distorções alocativas e melhorará o ambiente de negócios, reduzindo o custo Brasil”, diz.
Capital humano e políticas sociais: O texto destaca a necessidade de investir nas pessoas, “afinal a indústria só prosperará com capital humano bem formado”, diz. “Por isso, celebramos os investimentos no novo Bolsa Família, que passa a privilegiar mais as crianças; na educação básica, que ruma para o ensino integral; e na valorização do salário mínimo”.