O regime de Pequim endurece a ação contra dissidentes por suspeita de corrupção, que “desaparecem” para interrogatório
Xi Jinping anuncia “uma nova era de socialismo ao estilo chinês“
Dois homens à paisana chegam ao escritório de um suspeito de corrupção e agarram o dissidente que, sem reagir, já sabe do que se trata. Estes são os métodos investigativos utilizados pelo regime comunista chinês que estão sendo cada vez mais intensificados por lá. “Fiquei preso em uma cela por onze dias sem que minha família soubesse e sem poder chamar um advodado” disse um empresário com suspeita de manter negócios ilícitos com autoridades distritais.
Na Europa e nos Estados Unidos, a primeira coisa que a polícia faz quando prendem um suspeito de corrupção é ler seus direitos e lembrá-los de que eles podem recorrer a um advogado e permanecer em silêncio. Na China acontece o contrário. Especialmente porque as prisões por corrupção não são feitas pela Polícia, mas por um grupo especial do Partido Comunista chamado Comissão Central de Inspeção Disciplinar.
Em uma ação conhecida com o nome de “shuanggui“, que ocorre normalmente independente do judiciário, os investigados são isolados em lugares secretos até confessarem. De acordo com a ONG Human Rights Watch, há muita tortura física e psicológica contra suspeitos de corrupção e foi relatado que onze morreram em interrogatórios.
O empresário suspeito detido revelou depois: “Eles não me alimentavam direito nem me deixavam dormir, cansando-me e me deixando nervoso. Eles não me bateram, mas eles me forçaram a ficar por horas na mesma posição, até que meus músculos ficassem entorpecidos“. O homem, que não quer revelar sua identidade, diz que implorava para ligar para os familiares e avisar que estava bem. “Eu era interrogado dia e noite, porque eles estavam investigando todas as possibilidades possíveis que um corrupto e corruptor podem se entender. Mas finalmente não confessei nada porque não havia nada para ser dito”, diz orgulhoso.
Após todo o tempo no calabouço, ele pôde ver a luz do sol novamente quando foi solto. Mas ele ainda está sendo investigado e ele sabe que os “homens de preto” podem retornar para a qualquer momento. Especialmente neste momento em que se celebra o Congresso do Partido Comunista em Pequim com renovação de toda sua cúpula.
Quando Xi Jinping assumiu o poder, primeiro como secretário geral do Partido em 2012 e depois como presidente da China em 2013, mais de um milhão de pessoas foram punidas por corrupção, sendo 200 em altos cargos. Xi tratou de eliminar seus rivais no governo para que ninguém possa enfrentá-lo em seu segundo mandato, que durará até 2022 mas com previsão de que seja ainda mais prorrogado.
Com essa mão de ferro, Xi Jinping esmagou todos os dissidentes. A crescente repressão também se espalhou para os grupos sociais, incluindo gays e lésbicas sem afiliação política, e grupos profissionais, como os advogados. Em 9 de julho de 2015, uma campanha, conhecida como “709”, que deixou cerca de 300 detidos, foi iniciada contra eles. Alguns deles, como o ativista cristão Hu Shigen e o advogado Zhou Shifeng, foram sentenciados a sete anos de prisão por “tentativa de subversão”. É o preço por ser contrário e enfrentar o regime chinês, cada vez mais autoritário com Xi Jinping.
Juntamente com a repressão aos dissidentes, as autoridades chinesas aumentaram a censura na internet para evitar a disseminação de conteúdos politicamente sensíveis que ameaçam seu poder. Graças ao seu progresso tecnológico, o “Great Firewall” conseguiu bloquear várias VPNs, conexões a servidores no exterior que permitem o acesso a páginas da Web proibidas na China. Com Facebook, Twitter e YouTube, e com o WhatsApp limitado e o Google Tradutor utilizado somente em empresas autorizadas.