Chile convoca embaixador brasileiro após acusação “falsa” de Bolsonaro sobre Boric atear fogo em metrôs

Chanceler do país disse que as afirmações do presidente no debate da Band são “falsas” e “gravíssimas” 

O Chile convocou nesta segunda-feira (29/8) o embaixador brasileiro na capital do país, em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, para protestar contra as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o líder chileno, Gabriel Boric, feitas durante o debate presidencial de domingo (28/8), na Band TV. O atual ocupante do Palácio do Planalto, que acusou Boric de atear fogo em metrôs durante os protestos de outubro de 2019, fez afirmações “falsas” e “gravíssimas“, de acordo com a chanceler Antonia Urrejola: “Como governo nos parece que essas declarações são gravíssimas, obviamente são absolutamente falsas (…). Lamentamos que tirem proveito do contexto eleitoral para polarizarem as relações bilaterais através da desinformação e das notícias falsas“, disse a chefe das relações exteriores do país, conforme transcrição em matéria do jornal O Globo.

A fala de Bolsonaro sobre Boric veio no fim do debate, quando o presidente fazia suas considerações finais. Repetindo seus ataques frequentes a líderes de esquerda latino-americanos e tentando associá-los ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente citou o argentino Alberto Fernández, o recém-empossado mandatário colombiano Gustavo Petro e Boric: “Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo nosso Chile?”, afirmou o presidente. O governo chileno, disse Urrejola, está “absolutamente convencido de que esta não é a maneira correta de fazer política quanto se trata de dois chefes de Estado democraticamente eleitos”. Ela classificou a relação de Bolsonaro e Boric como “respeitosa, apesar da diferença ideológica”, mas disse que a desinformação “erode a democracia, e nesse caso também a relação bilateral”.

De acordo com o jornal chileno La Tercera, Boric procurou sua chanceler para elaborar uma resposta a Bolsonaro assim que soube dos comentários do presidente. A convocação de um embaixador não é algo corriqueiro na diplomacia: trata-se de um sinal político para expressar descontentamento. A China, por exemplo, convocou no início do mês o embaixador americano em Pequim para protestar contra a visita da presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, a Taiwan. Além de ser chamado, Pacheco também recebeu uma nota formal de protesto. Em uma nota emitida logo em seguida à imprensa (leia abaixo a íntegra), a Chancelaria chilena ressaltou os comentários de Urrejola, afirmando que os comentários de Bolsonaro “são inaceitáveis”. O comunicado diz que Boric “já manifestou publicamente as diferenças que o separam do presidente Bolsonaro, mas ao mesmo tempo sinaliza a importância de manter a relação bilateral”. Leia abaixo a íntegra do comunicado de imprensa emitido pela Chancelaria chilena:

“O governo do Chile considera que as declarações formuladas contra o presidente Gabriel Boric pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante um debate presidencial realizado no dia de ontem são inaceitáveis e não condizem com o trato respeitoso que deve haver entre chefes de Estado e nem com a relação fraterna entre dois países latino-americanos.
A utilização política da relação bilateral com fins eleitorais, com base em mentiras, desinformação e deturpações causa erosão não apenas no vínculo entre nossos países, mas também na democracia, prejudicando a confiança e afetando a irmandade entre os povos.
O presidente Boric manifestou publicamente suas diferenças que o separam do presidente Bolsonaro, mas ao mesmo tempo sinalizou a importância de manter as boas relações entre os Estados do Brasil e do Chile. Apesar das declarações infelizes, o governo do Chile manifesta sua convicção de que o nosso país e o Brasil tem não apenas uma História comum, mas também enormes desafios para enfrentarem de maneira colaborativa, razão pela qual esperar continuar a fortalecer os permanentes vínculos de amizade e cooperação entre nossos países.”

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