Bolsonaro entrou em estado vegetativo terminal, diz Dorrit Harazim

O presidente Jair Bolsonaro em 17 de janeiro deste ano, em foto de Alan dos Santos / PR


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

“O presidente da República nem piscou para a despedida da mulher-raiz da alma nacional, Elza Soares, que ao contrário, deixa uma teimosa sinfonia de permanecer viva para sempre”, afirmou a colunista

A jornalista e documentarista croata, de nacionalidade brasileira, Dorrit Harazim, escreve, no jornal o Globo, que o presidente Jair Bolsonaro, apesar de aparentemente saudável, entrou “em estado vegetativo terminal e nem piscou para a despedida da mulher-raiz da alma nacional, Elza Soares, que ao contrário, deixa uma teimosa sinfonia de permanecer viva para sempre“.

Antes de argumentar sobre a política governamental, a jornalista aborda o poema “A era da ansiedade”, escrito em 1947 por W.H.Auden, destacando um trecho que em sua opinião cunhou o que nos define hoje: “Vivemos uma era da ansiedade continuada, pandêmica, agarrados ao que éramos sem saber se resta tempo para mudar“.

Ela destaca uma fala do personagem Quant, que diz que “o mundo também precisaria de um bom banho, além de uma semana de descanso, para se recuperar do que fazemos com ele“.

E sobre o que fazemos ou deixamos de fazer quando deveríamos ter feito, Dorrit diz que o que nos causa essa “passividade” é nossa vida “aos sobressaltos, alternando espasmos de assombro com as catástrofes da hora. Sequer temos tempo para digerir as várias dores, coletivas ou privadas, que a todo momento disputam nossa atenção“.

A ansiedade surda, pesada e pegajosa que dá poucos sinais de se dissolver sozinha ora nos coloca em alerta máximo à espera de um Godot, ora nos prostra em estado de sonambulismo cívico para poder digerir o que passou. Isso não é viver, convenhamos“, prossegue antes de afirmar que “merece admiração irrestrita quem consegue manter o foco e não se dispersa com o jorrar ininterrupto de notícias que se empilham e nos tapam a visão“.

Alguma narrativas (suprimidas, mas que não dispensariam atenção) depois, Dorrit conclui que “a instantaneidade e disseminação planetária do fluxo noticioso” é o motivo do que “nos desenraizou do viver de ontem, sem ainda aprendermos a viver no amanhã. Quanto ao presente, o sentimos em suspenso.

A jornalista também menciona a “ensaísta franco-cubano-americana Anaïs Nin, no primeiro volume do seu “Diário (1931-1934)”, que “se debruçou sobre outro tipo de desperdício humano: transitar por um mundo em que você hiberna pensando estar a viver e onde a ausência de prazer e alegria pode parecer uma doença inócua“.

“Milhões vivem assim (ou morrem assim ) sem sabê-lo”, transcreveu Dorrit sobre o que Nin escreveu. “Trabalham em escritórios. Dirigem carros. Passeiam no parque em família. Criam os filhos. Por vezes, até acordam graças a algum tratamento de choque — o encontro com alguém, a descoberta de um livro, a mágica de ouvir uma canção —e são salvos da morte. Mas alguns nunca despertam”.

Por fim, Dorrit chega ao governo brasileiro, o de Bolsonaro: “Preâmbulo longo para conclusão telegráfica: entrou em estado vegetativo terminal o presidente da República que nem piscou para a despedida da mulher-raiz da alma nacional, Elza Soares. Ela, ao contrário, deixa uma teimosa sinfonia de permanecer viva para sempre”.

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