O magistrado afirmou que as FFAA têm sido “orientadas” a atacar o sistema eleitoral e o general da pasta disse que declaração é “irresponsável” e uma “ofensa grave”
PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO
Após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) afirmar, neste domingo (24/4), que as Forças Armadas estão sendo “orientadas” a atacar o sistema eleitoral, o general ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira emitiu nota julgando a declaração “irresponsável” e uma “ofensa grave”. Mais tarde, o colunista do UOL, Josias de Souza, afirmou que a reação do militar foi por “ordem expressa” do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O presidente declarou em fevereiro que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), então presidido por Barroso, “ficou em silêncio” ao receber “dezenas de vulnerabilidades” identificadas pelo Exército no sistema eletrônico de votação, lembra o colunista.
Depois, o ministro da Corte acusou Bolsonaro de rodar um “filme repetido” e disse que ele “não precisa de fatos, a mentira já está pronta: Antes, o presidente dizia que tinha provas de fraude. Intimado a apresentá-las, não havia coisa alguma. Essa é uma retórica repetida. É apenas um discurso vazio“.
Por este motivo, Souza concluiu que, na nota do gestor da pasta Bolsonaro, se recorda desse embate de dois meses atrás e diz que Barroso agora está “obrigado” a exibir provas:
“Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas instituições nacionais permanentes do Estado brasileiro. Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições“, diz trecho do documento.
No Dia do Exército, Bolsonaro disse que “não podemos jamais ter eleições no Brasil que sobre ela paire o manto da suspeição. E esse compromisso é de todos nós. Presidentes dos Poderes, comandantes de Forças, aqui, obviamente. Direcionado ao trabalho do senhor ministro da Defesa. Todos nós somos importantes. Todos nós somos agentes desse processo.”
O colunista diz que “foi como se o presidente da República desejasse reiterar que as urnas são suspeitas. Mais que isso: Bolsonaro insinuou que os comandantes militares, equiparados por ele aos chefes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, são vitais para evitar hipotéticas fraudes que comprometam a “tranquilidade” e a “transparência” do sistema eleitoral“.
Em setembro, Barroso convidou um militar para integrar a Comissão de Transparência das Eleições e o ministro da Defesa de então designou para a função o comandante de Defesa Cibernética, general Heber Garcia Portella, que preparou questionário para que Bolsonaro cobrasse resposta do TSE sobre as supostas “vulnerabilidades” detectadas nas urnas pelas Forças Armadas.
As respostas divulgadas por Barroso demonstrariam que havia no papelório citado por Bolsonaro apenas perguntas técnicas, não indícios de “vulnerabilidades”.
Souza aponta que, na avaliação do ministro, as instituições resistem no Brasil a despeito do “esforço contínuo” em desmerecê-las e que o Congresso derruba vetos do presidente, rejeita medidas provisórias que considera inadequadas. E, ainda, que Barroso soou como se acreditasse na manutenção da pena a Daniel Silveira: “Há um episódio recente que ainda vai ser colocado em discussão, mas as decisões do Supremo, como regra geral, foram cumpridas“.
Barroso considerou que a “politização das Forças Armadas” são “um risco real para a democracia” e fez questão de mencionar que, desde a redemocratização do país, as Forças Armadas tiveram “comportamento exemplar”, e de lembrar que, sob Bolsonaro, militares “profissionais” e “respeitadores da Constituição” foram expurgados. O magistrado observou que isso “não é comum isso” e que “nunca havia acontecido. É preciso ter atenção a esse retrocesso cucaracha de voltar à tradição latino-americana de botar Exército envolvido com política“.
Souza pontua seu texto observador afirmando que Barroso, oportunamente, injetou a Venezuela na sua prosa, com sabedoria, ao declarar que as Forças Armadas do país bolivariano foram jogadas no “varejo da política” acarretando em corrupção e empreguismo:
“Hoje, a Venezuela é uma ruína. Tenho fé que as lideranças militares saberão conter esse risco de contaminação indesejável“.
Por todos estes motivos, Josias de Souza conclui e opina que “Bolsonaro ordenou resposta da Defesa a Barroso“.