“Lula é um homem capaz de pacificar o povo, depois que essa gangue tomou o Planalto”
Carta de Paris: Bresser Pereira e Marcos Azambuja – convergência de análises
O Brasil só vai voltar a crescer e a imagem do país só vai melhorar quando Lula for solto, diz ex-embaixador, que negava a existência da fome no país
Receba nossas atualizações direto no WhatsApp
Do Carta Maior – Decididamente, o Brasil não é para principiantes.
Nunca imaginei citar como defensor de Lula nesse contexto pré-eleitoral o ex-embaixador do Brasil em Paris, Marcos Azambuja, com quem tive uma única entrevista em tête-à-tête aqui, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Sendo ele um elitista, nunca pensei que o ex-embaixador faria declarações favoráveis ao ex-presidente Lula, um candidato que vem do povo e fez um governo voltado prioritariamente para o povo.
Marcos Azambuja – hoje um provecto senhor de 83 anos trabalhando em conselhos-diretores de empresas – passou parte de nossa conversa no salão-escritório da embaixada em Paris tentando me convencer de que não havia fome no Brasil.
Seus argumentos extravagantes não me convenceram, obviamente, e aquele digno representantes das elites brasileiras que sempre frequentou os salões dos poderosos passou a representar para mim o típico diplomata de punhos de renda, totalmente insensível à ideia de igualdade e justiça social.
Mas antes de continuar a falar da estupefação que me tomou ao ler uma entrevista recente do embaixador, quero assinalar que o Brasil vive momentos tão graves e o abismo é tão profundo que homens como Azambuja e o ex-ministro Luis Carlos Bresser Pereira se tornaram arautos da democracia, pregando o necessário desvio do atual caminho que está levando o Brasil a uma catástrofe social e econômica.
Em sua passagem por Paris, em novembro passado, Bresser Pereira fez uma palestra em elegante francês, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, no Boulevard Raspail.
Ele classificou o que se passa no Brasil como « uma inversão da luta de classes na qual vemos os financistas e capitalistas investindo contra os trabalhadores ». Na ocasião, o ex-ministro via um grande risco de que as eleições de 2018 não se realizassem.
Fundador do PSDB, ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, Bresser Pereira pensa hoje que a legenda tucana “é o verdadeiro sucessor da UDN no Brasil, e portanto é um partido golpista ».
Naquele mês de novembro de 2017 ele via o processo do apartamento de Lula como algo « ridículo » e os quase 40% de intenções de votos em Lula reforçavam o ridículo de uma futura condenação. Que, como vimos pouco tempo depois, acabou acontecendo.
« O impeachment foi um golpe de Estado parlamentar, a democracia foi totalmente desestabilizada e temos um presidente totalmente corrompido », disse sem meias palavras o ex-ministro da Economia para quem Lula é um personagem excepcional.
Ele analisou o governo Dilma com algumas reservas :
« Governar o Brasil é um desafio muito maior para a esquerda que para a direita. Dilma fez muitos erros do ponto de vista político e econômico, ela não tem a habilidade de Lula ».
Alguém resolveu arriscar uma pergunta difícil : « A quem interessa a eleição de Lula ? »
« Aos brasileiros. Lula é um homem capaz de pacificar o povo, depois que essa gangue tomou o Planalto », repondeu Bresser sem hesitação.
Para o ministro, no Brasil, a sociedade perdeu a coesão social.
« Vivemos uma polarização do ódio », disse Bresser Pereira. Segundo ele, a classe média tradicional fez uma forte deriva para a direita, por se sentir esquecida pelas políticas de governo. E citou algumas medidas dos governos petistas que beneficiaram os mais pobres e foram extremamente mal vistas pela classe média.
O engajamento de Bresser Pereira na reconstrução do Brasil levou-o a lançar, em março do ano passado, o Projeto Brasil Nação cujo manifesto foi assinado por intelectuais como Celso Amorim, Raduan Nassar, Kleber Mendonça Filho e Chico Buarque de Holanda, entre muitos outros.
Embaixador surpreende
No perfil do embaixador Azambuja, conhecido por seu otimismo militante, a jornalista Maria Cristina Fernandes escreve no jornal Valor Econômico o que pude constatar pessoalmente naquela conversa na embaixada :
« A profissão lhe trouxe o trato permanente com interlocutores que sempre lhe pintavam o quadro de um Brasil autoritário, pobre, injusto e desigual. O exercício permanente da contemporização o mantém confortável na posição de quem prefere manter o leme contra a maré ».
O que me surpreendeu no texto sobre uma pessoa que sempre vi como um bem instalado privilegiado, insensível aos brasileiros que têm carências básicas, foram suas opiniões sobre o ex-presidente Lula.
Vale a pena transcrever o texto da repórter :
“Não conheço quase ninguém, falando novamente de Brasil, que julgue viver pior hoje do que vivia 30 anos atrás.” Mas e se o relógio do tempo voltar cinco anos, a percepção não é de perda? A resposta a essa pergunta vem com a afirmação mais surpreendente de toda a conversa: “O Brasil só vai voltar a crescer e a imagem do país só vai melhorar quando Lula for solto”.
A jornalista frisa que ele não participou da formulação da política externa do governo Lula, sobre a qual faz evidentemente reservas. Nunca militou na esquerda e nunca votou em Lula nunca. E acrescenta que ele não pretende fazê-lo.
O texto assinala :
« Ao longo dos últimos meses, ex-presidentes e ex-primeiro-ministros de quatro países europeus, entre os quais José Luiz Zapatero (Espanha), François Hollande (França), Massimo D’Alema (Itália) e Elio Di Rupo (Bélgica), subscreveram um documento pela libertação de Lula. Até o papa Francisco fez um gesto de boa vontade ao enviar uma bênção ao ex-presidente ».
A jornalista escreve que Azambuja não vê como o Brasil possa retomar sua rota sem uma conciliação e não há como fazê-la com o ex-presidente preso.
« Lula era visto internacionalmente como o rosto do Brasil, cordial, risonho, afável. Seu governo produziu a ideia euforizante de que o país, finalmente, estaria chegando lá. Aquele era o ‘guy’, como dizia Obama. Com sua prisão, o Brasil saiu de moda ».
E acrescenta :
« Lula é uma das personalidades mais interessantes que surgiram no mundo em desenvolvimento nos últimos tempos. »
Decididamente, Lula está perto de se tornar uma unanimidade nacional.
Só falta agora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrar no time e passar a defender a libertação do prisioneiro de Sérgio Moro.
NAS REDES SOCIAIS
Receba nossas atualizações no WhatsApp
Subscreva Et Urbs Magna no Youtube
Curta Et Urbs Magna no Facebook
Grupo no Facebook PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO
Et Urbs Magna no Twitter