A opressão aliada contra o povo alemão no pós-guerra

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WIKIMEDIA Soldados alemães na Frente Oriental (1942)

Logo após a vitória na Segunda Grande Guerra, os aliados criaram questionários absurdos para caçar nazistas escondidos entre os cidadãos alemães. Eles desgastaram a população da Alemanha com perguntas sem sentido. Muitos morreram de fome sem ajuda de provisões, a arte foi saqueada e as mulheres estupradas.

MANUEL P. VILLATORO 19/01/2015

Em Maio de 1945, após batalhas na África, Europa e Ásia, os aliados conseguiram entrar em Berlin levando a Alemanha a se render incondicionalmente. Dias antes, os comandantes da coalizão receberam uma grande notícia: o Führer preferira meter uma bala de sua Luger na cabeça a ter que enfrentar soldados soviéticos com sede de vingança por todas as humilhações causadas pelos nazistas. Eram momentos de alegria para britânicos, americanos, russos e para a maior parte dos alemães subjugados por Adolf Hitler e suas mentiras, quando foram finalmente libertados.
Ao menos, era o que pensávamos até hoje a respeito da libertação do povo alemão, mas a realidade foi outra: os aliados que ocuparam a Alemanha submeteram sua população a uma pressão insuportável com o fim de desnazificar os civis. Criaram questionários absurdos e repetitivos para saber se alguém era ou não seguidor de Hitler. Além disso, muitos cidadãos alemães sofreram represálias de americanos e russos. Durante anos eles se vangloriaram de ter interrompido o abastecimento de alimentos de vários locais, o que foi agravado pela situação econômica de uma população arrasada pelo conflito. A fome severa dizimou uma grande parcela dos cidadãos alemães.

O patrimônio cultural também sofreu perdas de alto valor pois centenas de obras de arte alemãs foram roubadas e transportadas para os Estados Unidos e a União Soviética com o fim de serem exibidas como troféu numa demonstração orgulhosa da vitória sobre um antigo e perigoso regime que ceifou a vida de milhões de inocentes. E o pior de tudo: na ocupação aliada, soviéticos estupraram mulheres alemãs após a queda de Berlim. Essa violência sexual foi o que mais chamou a atenção por sua barbárie, desnecessária em tempos de guerra ou de paz. O abuso contra os fracos é incompreensível. Parece que o mal convive com o bem em qualquer situação.

Mas qual o motivo dessas humilhações terem sido permitidas em silêncio pelo povo alemão de uma forma amplamente passiva? Só há uma resposta: um complexo de culpa coletiva abateu os ânimos da sociedade alemã, pois Hitler não chegou ao poder através da violência, mas pelo consentimento popular através das urnas . Havia uma sensação generalizada de ter criado o monstro que o mundo conheceu. Isso permitiu que muitas cidades alemãs fossem destruídas , como Dresden – que foi arrasada pelos aliados na sua quase totalidade – e as pessoas permaneceram completamente mudas. Essa vergonha sentidad no âmago de cada alemão foi a verdadeira responsável pela “desnazificação” da Alemanha .

Como foi o processo de “desnazificação”? Os americanos elaboraram, sob o comando e a aprovação de Roosevelt, um plano para acabar com a ideologia nazista. A estratégia foi baseada principalmente na directiva JCS 1067 – Junta de Chefes de Estado -que dava, aos Estados Unidos, plenos poderes no judiciário, legislativo e executivo da Alemanha ocupada. Mais tarde foi modificada para impor uma paz punitiva, derrubando para reconstruir, e ajudando os alemães apenas quando necessário para prevenir doenças ou distúrbios. Isso foi o que faltava para gerar uma abordagem desumana dos americanos. Os americanos estabeleceram que desmilitarizariam, desnazificariam e eliminariam os recursos econômicos da Alemanha para impedir que um evento como a Segunda Guerra Mundial acontecesse novamente. Para os EUA, o povo alemão era culpado pelo surgimento do nazismo na Europa. A JCS, com base nos pontos de vista, entre outros, de Henry Morgenthau – o secretário do Tesouro dos Estados Unidos – recomendou: “Deve ficar claro para os alemães que a ofensiva implacável e a resistência nazista com todo o fanatismo destruíram a economia alemã transformando-se em caos e sofrimento inevitáveis e que não poderiam fugir dessa responsabilidade. A Alemanha não será ocupada com a finalidade de libertação, mas como uma nação inimiga derrotada”.

Assim, com a ideia de buscar vingança mais do que regenerar e ajudar o povo a esquecer Hitler, os Estados Unidos começaram sua “desnazificação”. O primeiro passo foi encontrar e processar qualquer um que tivesse algo a ver com o regime nazista. Isso foi muito árduo a princípio. No entanto, vários especialistas no país ofereceram aos comandantes militares fórmulas mágicas para executar esta tarefa alegando que, através delas, eles podiam distinguir nazistas como grãos em meio à palha por meio de um teste denominado “Fragebogen”. Era um documento contendo um questionário com dezenas de perguntas estranhas, sutis ou não, em que acreditavam que acabariam por revelar os seguidores do Führer. Foram impressos não menos que treze milhões de formulários, os quais foram direcionados aos alemães que tiveram um passado obscuro ou que estavam à procura de emprego. Um alemão não poderia ser entregue a uma vida normal enquanto o seu questionário não estivesse devidamente preenchido, entregue e verificado. Até então, ele estava em uma espécie de purgatório que o deixava fora da lei. Todos eram tratados como possíveis nazistas e tinham que enfrentar uma espécie de Inquisição até o momento de se libertar do “Fragebogen”. Não preenchê-lo poderia significar perder o emprego ou os cupons do racionamento de alimentos organizado pelos americanos, absolutamente necessários para a economia alemã diminuída daqueles tempos. Por outro lado, se o “candidato a civil” alemão fosse declarado suspeito ele poderia ser enviado como prisioneiro de guerra aos novos campos estabelecidos pelos libertadores.
O Fragebogen consistia de 12 páginas entre 133 e 150 perguntas (dependendo da fonte histórica). Caso fosse encontrado algum suspeito de participação nazista ele recebia a seguinte mensagem: “A falsa informação resultará em uma ação processual pelos tribunais do governo militar”. Mas os norte-americanos não sabiam se que o que eles estavam respondendo era verdade, mesmo assim isso funcionava para instilar o medo. Entre suas primeiras linhas, o “Fragebogen” incluia perguntas absurdas como o número da conta bancária e CEP do entrevistado, a cor de seus olhos , o peso ou sua religião. Os aliados também queriam saber, por exemplo, se o bombardeio havia afetado a saúde, o trabalho ou o sono do entrevistado, além de informações sobre companhias de seguros, esgoto e energia. Outras perguntas curiosas eram : “Você esperava a vitória alemã?”, “Você descende de família da aristocracia alemã?”, “Apoiou a ascensão de Adolf Hitler ao poder votando nele em 1932?” Muitos sentiram o quão absurda era esta pergunta do voto porque era mais fácil mentir.

Depois de determinar que os alemães eram culpados por ter impulsionado Hitler ao governo e tê-lo seguido em tempos de guerra, os norte-americanos estabeleceram a necessidade de punir. Assim começou uma campanha para boicotar os suprimentos e ocasionar fome, ignorando todos os pedidos da Cruz Vermelha e do resto do mundo para impedir que o povo alemão morresse. Sir Bernard Montgomery insistiu que nenhum alimento fosse enviado da Grã-Bretanha. A fome era um castigo . Montgomery passou a dizer que três quartos dos alemães ainda eram nazistas , mas não revelou a fonte de sua informação. Os alemães só podiam culpar a si mesmos, e deveriam ocupar o último lugar na fila. Para os americanos, a fome era uma punição justa.

Somente através da intervenção de alguns intelectuais judeus, como Victor Gollancz, um pouco de comida chegou finalmente à Alemanha. Ele conseguiu mobilizar a sociedade depois de fazer um estudo que concluiu que eram necessárias 2.650 calorias para sobreviver fazendo trabalho físico, ao passo que os alemães comeram em março de 1946 apenas entre 1200 e 1500 na área do país controlada por os britânicos, 950 na dos franceses e 1.270 na dos EUA. Os alemães tiveram que recorrer a todos os tipos de “receitas originais” para sobreviver. “Os ratos e sapos , junto com os caracóis , compunham as sopas que enchiam suas barrigas . O cavalo era um prato relativamente comum. Mas o “Fragebogen” e a fome não eram a única retaliação dos exércitos aliados da Alemanha. Na verdade, eles aproveitaram cada minuto de sua estadia para saquear e roubar tudo o que podiam. O maior saque ocorreu no mundo das artes, com americanos e soviéticos levando para seus respectivos países tudo o que era digno de ser apreciado por seus cidadãos.

Mas como é possível que tudo isso tenha acontecido na Alemanha? Quando as pessoas começaram a ver o fim do Reich dos mil anos, começaram a tomar conhecimento da existência de campos de concentração. Daí começou a nascer essa culpa. Perceber que a pessoa em quem você votou e continuou a seguir seus apelos foi responsável pela morte de seis milhões de judeus é um peso enorme. Portanto, a vingança aliada foi aceita e entendida como um flagelo merecido, com estupros, assassinatos e internamento de alemães inocentes em campos de concentração.

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1 comentário em “A opressão aliada contra o povo alemão no pós-guerra”

  1. Andrew Fonseca Donitz

    Não concordo com essa conclusão,isso não justifica fazer isso comno inimigo derrotado,até pq sei pq teve essa guerra.Se fosse com Israel a certeza que ia ser hipocrita essa conclusão.

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