A Ciência, enfim! Natalia Pasternak: por que todos estão apaixonados por ela? “A gente só não testou em emas porque elas fugiram”

Não funciona em células do trato respiratório, não funciona em camundongos, não funciona em macacos e também já sabemos que não funciona em humanos. A gente só não testou em emas porque elas fugiram“, ironizou a microbiologista, no Senado Federal, sobre a droga não recomendada por cientistas


A pesquisadora da Unicamp, Sabine Boettger Righetti, afirma que Natalia Pasternak é “musa”. No Twitter, ela repete uma das frases mais impactantes de seu depoimento na CPI da Covid: Não é uma questão de ser adversário do governo, mas é de ser a favor de políticas baseadas em ciências. Quando as políticas ignoram a ciência eu preciso me posicionar, é obrigação dos cientistas se manifestar“.

O epidemiologista Pedro Curi Hallal disse: “Olhem a diferença quando chega uma cientista na CPI. Parabéns Natalia, nos representa muito!

O médico e deputado federal Henrique Fontana reproduziu resposta da microbiologista ao senador negacionista Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que tentava atribuir mais de 15 milhões de pessoas curadas da Covid ao “tratamento precoce“. Natalia Pasternak disse que “dizer que temos que comemorar 15 milhões de curados é lembrar que são 15 milhões de acometidos por uma doença que traz dor, sofrimento e sequelas“. Fontana comemorou a frase dizendo que “finalmente alguém disse para o Heinze que ele está comemorando o alto índice de infectados com essa placa“.

Felipe Neto pediu seguidores para Pasternak e a chamou de heroína: “Por favor, sigam a Natalia – ela foi a corajosa mulher que falou hoje [ontem] na CPI. Disse coisas maravilhosas, espetaculares, que a colocam na linha de frente de opositores a esse desgoverno genocida. Conte comigo pra tudo, Natalia. Você foi heróica!

A seguir, o YouTuber postou trecho de uma entrevista, para a mídia alemã DW, na qual cita declarações de Natalia Pasternak na CPI da Covid:

Ao lado do médico sanitarista Cláudio Maierovitch, a microbiologista Natalia Pasternak encerrou os depoimentos na CPI da Covid no fim da tarde desta sexta-feira (11) ganhando a admiração dos brasileiros. Tanto ela quanto ele apontaram consequências graves do chamado tratamento precoce contra a doença e de outras medidas defendidas pelo Palácio do Planalto que contrariam evidências científicas e que agravaram o descontrole da pandemia no Brasil. 

O uso da cloroquina foi um dos principais temas abordados na comissão. Os dois especialistas ouvidos reforçaram que o medicamento não tem eficácia comprovada para curar ou reduzir os efeitos da Covid-19 em pacientes que contraíram a doença.

A CPI pretende responsabilizar integrantes do governo que tenham agido a favor desse tratamento. Além disso, os integrantes da comissão querem apontar um cruzamento ilegal de ganhos abusivos de farmacêuticas com a venda de remédios do chamado ‘kit covid’, como hidroxicoloquina e invermectina, diz matéria do Correio do Povo, que destaca falas mais relevantes dos especialistas.

Na fala inicial, a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak adotou um tom crítico ao uso de medicamentos para a Covid-19. A especialista indicou erros na defesa da cloroquina contra o coronavírus devido à falta de evidências científicas a favor do medicamento e afirmou que o fármaco nunca teve a probabilidade de funcionar contra a doença.

Não funciona em células do trato respiratório, não funciona em camundongos, não funciona em macacos e também já sabemos que não funciona em humanos“, disse, afirmando que foram esgotadas as opções de testes para o medicamento. “A gente só não testou em emas porque elas fugiram“, ironizou Pasternak, em menção a um episódio em que o presidente Jair Bolsonaro foi fotografado correndo atrás do animal com uma caixa do medicamento.

Aliados de Bolsonaro apresentaram argumentos favoráveis ao uso do medicamento, mostrando dados de quem tomou e se recuperou da doença. Luiz Carlos Heinze (PP-RS) declarou que os médicos pró-cloroquina estavam sofrendo bullying. Para os especialistas, porém, a correlação não significa que a cura foi efeito do remédio.

Para o momento, nós temos evidências suficientes para saber que a cloroquina não produz efeitos benéficos em relação à Covid-19“, disse Cláudio Maierovitch, sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os movimentos contra o isolamento social e o atraso na compra de vacina foram apontados como outras atitudes do governo que prejudicam o combate à pandemia. “Esse negacionismo da ciência perpetuado pelo próprio governo mata“, afirmou a pesquisadora.

A audiência ocorreu um dia após o presidente Jair Bolsonaro anunciar um estudo para desobrigar o uso de máscaras para quem se vacinou ou teve a Covid-19 no País, apesar de a pandemia ainda estar em descontrole. A tese foi rebatida pelos especialistas. 

A recomendação do uso de máscara é essencial enquanto se continua observando número de casos e óbitos, que é preocupante. Só podemos deixar de usar quando grande porção da população estiver vacinada e quando a curva nos disser que isso é seguro. Não temos nem que olhar percentagem de vacinados, mas a curva da Covid“, disse a microbiologista.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro ajustou o discurso e disse que a decisão sobre dispensar ou não a máscara cabe a Estados e municípios. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou a necessidade de vacinar a população antes de orientar pela retirada da proteção facial. A falta de coordenação nacional no combate à pandemia e a aposta na imunidade de rebanho foram classificadas como negligência do governo pelo ex-presidente da Anvisa.

É uma atitude que, se a gente olhar do ponto de vista racional, é uma atitude suicida. As pessoas estão sendo impelidas a desejos suicidas“, disse Maierovitch, defendendo a organização do plano de vacinação. “O plano de imunização que tivemos é um plano pífio.

Durante o depoimento, o médico sanitarista criticou o comportamento de colegas de profissão que integram o chamado ‘gabinete paralelo’ de assessoria ao presidente Jair Bolsonaro em assuntos da pandemia. Sobre a médica Nise Yamaguchi, que à comissão negou fazer parte de um assessoramento “paralelo“, Maierovitch disse ter ficado “espantado“. “Fui colega de faculdade. Sabendo da experiência anterior, agora assumindo posições e defesa de atitudes anticientíficas, eu estranhei muito“, afirmou o sanitarista.

Sobre o virologista Paolo Zanotto, Maierovitch fez as mesmas considerações e ainda pontuou que, apesar de o médico opinar com frequência sobre tratamento precoce, essa não é a área de estudo de Zanotto. “Com todo respeito, ele é um biólogo, virologista, não foi formado para tratar pessoas“, disse o médico. Ele ainda classificou o deputado e ex-ministro Osmar Terra (MDB-PR) como alguém hoje mais atuante na política do que na medicina.

Cláudio Maierovitch afirmou que o governo federal investiu na tentativa de alcançar uma “imunidade de rebanho” contra Covid-19 através do “custo de vidas“. Senadores da CPI investigam se o governo federal teria tentado alcançar a imunidade da população contra Covid-19 por meio da contaminação de pessoas.

Em crítica a este tipo de teoria o médico disse: “Nós não somos rebanho, e não existe nenhum coletivo da palavra ‘pessoa’ ou ‘gente’ que seja traduzido como rebanho. Rebanho se aplica a animais, e fomos tratados dessa forma. Acredito que a população brasileira tem sido tratada dessa forma ao se tentar produzir imunidade de rebanho às custas de vidas humanas“.

Natalia Pasternak ainda classificou a desinformação com relação a pandemia da Covid-19 como algo que possa ter contribuído com o número de mortes pela doença no País. Mas, segundo ela, não é possível “mensurar quantas pessoas morreram de desinformação“, disse.  Ela criticou a falta de adoção, principalmente do presidente Jair Bolsonaro, do uso de equipamento de proteção, como máscaras, para tentar conter a disseminação do vírus.

Ainda ontem, sexta-feira (11), enquanto Natalia Pasternak argumentava no Senado, a seção ‘Ciência‘, do jornal O Globo, publicou um artigo seu intitulado ‘Contra o obscurantismo, transparência. O texto aborda a segurança química dos alimentos. Leia a seguir:

“Não existe alimento natural. Essa falácia está na base de um negacionismo muito perigoso, que movimenta um mercado bilionário que promete alimentos “sem químicos, sem modificações genéticas, e cultivados sem pesticidas.

A modificação genética de alimentos não é recente. É a base da agricultura: começa quando deixamos de ser caçadores-coletores nômades e começamos a domesticar plantas e animais. No momento em que passamos a praticar agricultura, passamos também a selecionar as plantas mais fáceis de colher, mais suculentas, mais saborosas. Fazemos cruzamentos entre plantas que tinham essas características, criando híbridos.

À medida que o conhecimento foi avançando, percebemos que podíamos provocar modificações com ajuda de produtos químicos e radiação. Diversos alimentos que temos na mesa hoje – que não só não são considerados transgênicos, como são aproveitados na agricultura orgânica – foram obtidos por mutagênese induzida por agentes químicos como etil-metano sulfonato, ou radiação gama. Esses produtos modificam o DNA ao acaso, gerando vários cultivares diferentes, dos quais podemos escolher aquele que tem as características melhores (para nós).

Claro que junto com o sabor, às vezes vem uma mutação indesejada, como no caso da batata dos Andes, que foi cruzada com uma modalidade americana para produzir uma versão que, frita, ficasse mais crocante. Realmente fritava que era uma beleza, mas com o efeito colateral de dar uma bela dor de barriga nos consumidores.

Hoje, temos técnicas mais modernas e precisas de modificação genética. Conseguimos escolher e alterar genes individuais, com muito mais precisão e sem correr o risco de trazer mutações indesejadas na carona. Mas as técnicas modernas de modificação genética, e seus produtos – os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), ou “transgênicos” – são demonizadas.

A confusão com o tipo de manejo da terra parece ser o maior problema. Os OGMS costumam ser associados, na cabeça das pessoas, a um maior uso de pesticidas, o que não é necessariamente verdade. O feijão transgênico brasileiro, por exemplo, por ser resistente ao vírus do mosaico dourado transmitido por moscas, reduz significativamente a aplicação de inseticida nas lavouras.

Também não é verdade que exista algum manejo que, ao proibir o cultivo de OGMs, dispense também qualquer uso de pesticidas. A chamada produção orgânica apenas proíbe pesticidas criados em laboratório, mas acolhe os chamados “naturais”. Só não se explica que esses pesticidas naturais são, muitas vezes, mais tóxicos para a saúde e o ambiente do que os sintéticos.

O fato é que decisão sobre a segurança de produtos geneticamente modificados, sejam alimentos ou vacinas, precisa ser feita caso a caso. Não há por que demonizar a técnica. E a agência regulatória, que no caso dos OGMs é a CTNBio, poderia seguir o exemplo da Anvisa, fazendo suas avaliações de maneira pública e transparente, aproveitando a oportunidade para educar e esclarecer a população sobre a regulamentação destes produtos no Brasil”.

Usuários das redes sociais resumem a atuação de Natalia Pasternak na CPI e a apontam como uma excelente ministra da saúde em um governo sério. “Ela é rápida na resposta. Inteligente. Didática. Antenada com a política do país”.


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