Revelações chocantes, cassações atuais e futuras, buscas policiais e debandadas ameaçam o futuro da maior força da direita brasileira e geram incertezas no cenário político nacional
Brasília, 24 de dezembro 2025
Fundado em junho de 1985, logo após o fim da ditadura militar, o Partido Liberal (PL) emergiu como uma agremiação dedicada à defesa da livre concorrência, à abertura internacional do mercado e às eleições diretas – um pacote de ideias que soava promissor na época.
No entanto, ao longo das décadas, a sigla se consolidou como uma legenda intermediária do Centrão, apoiando governos variados, de Fernando Collor ao PT, passando por FHC, e mantendo uma bancada modesta de cerca de três dezenas de deputados.
Essa trajetória mudou drasticamente em novembro de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro se filiou ao partido, trazendo consigo a nova direita. O resultado? Nas eleições de 2022, o PL conquistou a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 99 parlamentares e acesso a 1 bilhão de reais anuais dos fundos eleitoral e partidário.
Mas, às vésperas de novas eleições, uma avalanche de reveses ameaça o voo eleitoral da sigla. Como destaca a Revista Veja em sua edição desta quarta-feira (24/dez), “tudo mudou em novembro de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro filiou-se ao partido, levando com ele a nova direita”, mas agora “uma série de reveses põe em risco o próximo voo eleitoral da sigla”.
O episódio mais recente envolveu uma operação da Polícia Federal na sexta-feira (19/dez), que cumpriu sete mandados de busca e apreensão contra líderes do partido no Congresso Nacional. Alvos incluíram o líder na Câmara, Sóstenes Cavalcante, e o vice-líder da oposição, Carlos Jordy, ambos do Rio de Janeiro.
A investigação apura um suposto esquema de desvio da cota parlamentar via empresas de aluguel de carros com indícios de serem de fachada. No flat de Sóstenes em Brasília, os agentes encontraram 470 mil reais em dinheiro vivo – uma imagem com alto potencial destrutivo em campanhas eleitorais.
Sóstenes Cavalcante defendeu-se alegando que o montante provinha da venda de um imóvel, mas admitiu não se recordar das datas exatas e justificou a ausência de depósito bancário por “lapso” e “correria de trabalho”.
A explicação gerou desconfiança, especialmente porque, em 2022, ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de apenas 4.926 reais em contas bancárias.
Posteriormente, afirmou poder provar a origem lícita e tentou contextualizar politicamente: “Essa investigação é mais uma para perseguir quem é da oposição, conservador e de direita. Daqui até a eleição vão tentar fazer todo tipo de cortina de fumaça”. A justificativa não convenceu e mandatos dos parlamentares estão em risco.
Essa ação policial não foi isolada: na mesma semana, Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem perderam seus mandatos na Câmara. Eduardo, cassado por excesso de faltas, é réu no STF por obstrução de Justiça a partir dos Estados Unidos, para onde se mudou.
Já Ramagem, ex-chefe da Abin e candidato à prefeitura do Rio bancado pelo clã Bolsonaro com 26 milhões de reais do fundo eleitoral, soma-se a Carla Zambelli, que perdeu a cadeira após condenações por invasão a sistema da Justiça e perseguição armada.
Um infográfico da Revista Veja intitulado “DESMONTE PARTIDÁRIO” ilustra o contraste: de 99 deputados eleitos em 2022, restam apenas 86 fiéis à sigla, representando a maior redução entre todos os partidos na Câmara.
Essa perda líquida de 13 cadeiras reflete migrações para outras legendas e cassações. Na seção “NA MIRA DA LEI”, são destacadas figuras chave: Carla Zambelli, presa em Roma aguardando extradição; Eduardo Bolsonaro, réu por obstrução; Alexandre Ramagem, condenado a 16 anos por tentativa de golpe e foragido nos EUA; Sóstenes Cavalcante, com dinheiro apreendido; e Carlos Jordy, alvo de buscas por fraude com verba legislativa.
Como sintetiza a publicação, “a imagem retrata uma crise dupla enfrentada pelo PL, o maior partido de direita do Brasil. Em menos de dois anos da legislatura, a bancada que era a maior da Câmara encolheu de 99 para 86 deputados, sofrendo a maior debandada entre as siglas”.
Em novembro de 2025, o PL suspendeu as atividades partidárias e o salário de Jair Bolsonaro, seu presidente de honra, em meio a pressões internas. Essa medida, exclusiva dessa fonte, reflete tensões financeiras e organizacionais agravadas pela prisão de Bolsonaro por tentativa de golpe.
A revista detalha uma semana de cerco ao partido, com acúmulo de operações da PF e avanços na responsabilização por golpismo, adicionando camadas ao desgaste judicial.
Um estudo da Agência Pública, por sua vez, revela que o bolsonarismo perdeu quase 90% de sua força nas ruas, com manifestações esvaziadas, o que impacta diretamente a mobilização eleitoral do PL. O encolhimento da bancada inclui saídas de campeões de votos como o ex-ministro Ricardo Salles (para o Novo) e Guilherme Derrite (para o PP), beneficiando legendas como PP e Republicanos.
Analistas ouvidos pela Revista Veja contextualizam: Murilo Medeiros, da UnB, observa que “O PL se tornou uma legenda fortemente personalista, ancorada na figura de Bolsonaro”.
Denilde Holzhacker, da ESPM, alerta que “ao trazer essa questão da corrupção para a direita, todo o campo perde”, enquanto Rodrigo Prando, da Mackenzie, aponta que valores como segurança pública ainda podem ser ativos, mas “a depender da exploração de temas como segurança, o PL pode manter a bancada, mas não sei se na mesma dimensão dos tempos áureos do bolsonarismo. O contexto agora é outro”.
esquisas internas do próprio PL, divulgadas em posts no X (antigo Twitter), mostram Lula em ascensão e desgaste de Bolsonaro pós-crise com os EUA, conforme análise de O Cafezinho.
Tradicionais mídias alinhadas à direita, como a Jovem Pan News, examinam a crise gerada pela postura de Eduardo Bolsonaro nos EUA, expondo rachas internos. Até a Gazeta do Povo destaca um racha na direita, com embates familiares e questionamentos sobre o futuro legal de Bolsonaro.
Esse inferno astral, iniciado com a derrocada de Bolsonaro, pode se estender, impactando Flávio Bolsonaro, escolhido para representá-lo na eleição presidencial com apoio exclusivo do PL.
Como nota a Revista Veja, “o fato é que a sequência de tropeços acende um alerta no PL”.
Em um cenário de fragmentação conservadora, a sigla enfrenta desafios para manter sua influência, mas a volubilidade da política brasileira sugere que reviravoltas ainda são possíveis.

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