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Argentina enfrenta fuga inédita de capitais após 22 anos de saldo positivo

    Multinacionais abandonam setores estratégicos, gerando perdas bilionárias e questionamentos ao modelo econômico atual, em um cenário de instabilidade que afasta divisas essenciais para o crescimento

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    O presidente
    O presidente da Argentina, Javier Milei, chora no Muro das Lamentações, em Israel / Imagem reprodução

    Buenos Aires, 26 de dezembro 2025

    A Argentina registrou, pela primeira vez desde 2003, um saldo negativo na Inversión Extranjera Directa (IED), marcando um ponto de inflexão na relação do país com o capital internacional.

    De janeiro a novembro de 2025, a saída líquida de capitais atingiu US$ 1,521 bilhão, transformando o que historicamente era uma fonte de ingresso de divisas em um canal de evasão de recursos.

    Esse fenômeno, inédito em mais de duas décadas, reflete uma modificação profunda nas dinâmicas econômicas, com implicações que vão além dos números frios e tocam a estabilidade do modelo adotado pelo governo de Javier Milei.

    Comparações históricas revelam a gravidade do quadro. Entre 2016 e 2019, a IED média anual foi de US$ 3,235 bilhões; já no período 2020-2023, caiu para US$ 953 milhões.

    Em 2025, não só zerou como inverteu o sinal, configurando uma desinversão que contrasta com saldos positivos mantidos mesmo em crises passadas.

    Dados do Banco Central da República Argentina (BCRA) confirmam que, de dezembro de 2023 a outubro de 2025, o saldo negativo acumulado chegou a US$ 1,327 bilhão, período que coincide com a gestão atual, segundo o Página12.

    As causas dessa reversão apontam para um processo de desinversão por parte de multinacionais em setores chave.

    No energético, empresas como ExxonMobil, Petronas, TotalEnergies e Equinor venderam ativos na formação de Vaca Muerta1, citando reacomodamentos globais, mas influenciadas por incertezas locais, restrições cambiais e instabilidade institucional.

    No setor de consumo massivo, a Procter & Gamble transferiu operações para a Newsan; na telecomunicações, a Telefónica de España cedeu sua filial à Telecom Argentina por US$ 1,245 bilhão.

    Segundo o El Destape, essas movimentações resultam em perda de ativos e presença estrangeira, agravadas por um marco que, segundo consultorias privadas, “desalenta a permanência de inversores“.

    O contraste regional é eloquente, publicou o Primereando Las Noticias. Outros países da América Latina mantêm saldos favoráveis em IED, enquanto a Argentina enfrenta um “círculo vicioso” de retirada de capitais que questiona o discurso oficial de “chuva de investimentos“.

    “O saldo negativo da investimento estrangeira direta não é só um dado técnico: é uma sinal política e econômica de peso, que revela que a retórica de mercado não basta quando a realidade espanta os inversores“, destaca o análise do portal.

    As implicações econômicas são preocupantes. A formação bruta de capital fixo no terceiro trimestre de 2025 caiu 6% em relação ao trimestre anterior, apesar de um crescimento anual de 10,3%, impulsionado por importações de maquinário (aumento de 28,9%) e equipamentos de transporte (164,9%), mas com componentes nacionais em declínio.

    Esse desequilíbrio compromete as perspectivas de crescimento para 2026, em um contexto de recessão e dependência de fluxos externos.

    Críticas não faltam: em 17 de dezembro, a ex-presidente Cristina Kirchner atacou o governo, afirmando que “no le encuentra el agujero al mate2”, aludindo à ineficácia das políticas de Milei em atrair capitais.

    Segundo o Página 12, a líder opositora enfatizou que o negativo na IED desde a posse de Milei expõe falhas estruturais, como a dependência de especulação em detrimento da produção.

    Esse panorama, divulgado em 16/dez por veículos progressistas, sinaliza a urgência de revisar estratégias para reconquistar confiança internacional, sem ilusões retóricas.

    A economia argentina, em meio a esse êxodo de divisas, demanda ações concretas para inverter a tendência e fomentar um desenvolvimento sustentável.

    1. Vaca Muerta é uma gigantesca formação geológica de hidrocarbonetos não convencionais localizada na Bacia de Neuquén, no norte da Patagônia argentina. 
      Em 2025, ela é considerada o motor econômico da Argentina por conter:
      A 2ª maior reserva global de gás de xisto (shale gas).
      A 4ª maior reserva global de petróleo de xisto (shale oil). 
      Principais Características (Dados de 2025)
      Produção em Expansão: Em abril de 2025, a produção atingiu 442 mil barris diários, com projeção de superar 1 milhão até 2027.
      Técnica de Extração: Por ser uma rocha de baixa permeabilidade, o combustível é extraído via fraturamento hidráulico (fracking), técnica que injeta água e químicos sob alta pressão.
      Impacto Econômico: Projeta-se que em 2025 o setor gere um superávit comercial energético de aproximadamente US$ 8,5 bilhões, revertendo déficits históricos do país.
      Interesse Brasileiro: O Brasil assinou acordos para importar o gás de Vaca Muerta via gasodutos, visando reduzir os custos da energia e da indústria nacional. 
      A formação é frequentemente comparada à Bacia do Permiano, nos Estados Unidos, por sua vasta extensão de 30 mil km² e alto potencial de produtividade.  ↩︎
    2.  A expressão “no le encuentra el agujero al mate” significa que alguém não consegue ver a solução óbvia para um problema que está bem na sua frente, ou que a pessoa é inepta e não sabe como resolver uma situação. 
      O “agujero” (buraco) refere-se à abertura do recipiente de mate, que é a parte mais básica e essencial para começar a preparar e beber a infusão. Portanto, a pessoa que não encontra o buraco do mate é vista como alguém que não entende nem o fundamental de uma tarefa simples.
      A expressão é frequentemente usada em contextos políticos na Argentina para criticar a gestão de um governo ou líder, sugerindo que eles não conseguem encontrar o rumo ou a solução para os problemas do país. ↩︎
    Retrato de Alexandr Wang discutindo o futuro da colaboração homem-IA, capturado por Ethan Pines para Forbes.



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