Publicado em 31/05/2013 na Gazeta do Povo
Certa vez, a capa de uma revista nacional trouxe a seguinte manchete: “Se você não fala inglês, você está fora”. A reportagem “destruía” quem não sabia inglês e afirmava que, se você fosse um deles, iria ficar sem trabalho. Isso foi há uns 15 anos. Uma bobagem, pois o Brasil tem perto de 85 milhões de pessoas trabalhando e apenas 3% da população fala inglês.
Não se trata de menosprezar a importância de saber inglês, mas é preciso ir com calma. A pergunta é: dentro de uma organização – empresa ou órgão público – quantas pessoas precisam realmente do inglês para cumprir suas tarefas? Aliás, há muitos que aprenderam inglês e falam com deficiência justamente porque as oportunidades de usar o idioma são muito poucas.
Outra famosa publicação dizia em sua capa que “se você tem mais de 40, você está velho para o mercado de trabalho”. Na época, eu já passava dos 40 anos e, por um momento, senti-me desprezível e desprezado. Entre outras coisas, a reportagem dizia que, se precisar procurar emprego aos 60 anos, você irá colher uma via-sacra de humilhação e desprezo dos jovens recrutadores dos departamentos de RH.
Portanto, não há nada mais errado do que a sentença “se você tem mais de 40, você está fora”. Recorro, mais uma vez, a uma passagem de Peter Drucker, em seu livro de 1999 intitulado Management, Challenges for the 21st Century. “A instituição que primeiro tiver êxito atraindo e mantendo trabalhadores de conhecimento além da idade tradicional de aposentadoria, tornando-os produtivos, terá uma vantagem competitiva tremenda.”
Contratar gente da terceira idade não será uma escolha; será uma imposição da realidade demográfica do país. Há apenas 70 anos, ali pelo fim da Segunda Guerra, a expectativa média de vida do brasileiro não passava de 40 anos. Em 2010, o censo do IBGE constatou que a expectativa média já chegara aos 73,1 anos. Por aí dá para entender que essa é a realidade que vai ditar os rumos do emprego e dos sistemas de aposentadoria.
Vale a pena continuar lendo e ouvindo os gurus, pois eles nos ensinam coisas interessantes. O que não dá é para acreditar piamente neles sem questionar e sem pesquisar. Quem não estuda e apenas repete o que dizem os famosos e as revistas de prestígio renuncia à capacidade de pensar e aliena a favor de terceiros o órgão mais precioso que temos: o cérebro. Agir assim é confinar a si próprio em uma prisão intelectual. Aprenda com os outros, mas seja você mesmo seu próprio guru!
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.