Sobre Guaidó e milicianos, com suposto apoio de Bolsonaro, terem invadido embaixada da Venezuela em Brasília



13:00h – A representação da Venezuela em Brasília, ao menos até essa madrugada, continuava sob comando de diplomatas ligados ao governo de Nicolás Maduro — que o Brasil não reconhece mais como mandatário do país, mas segue tendo apoio dos demais países do Brics.

O episódio tem potencial de elevar a tensão entre os membros do grupo durante a Cúpula.

Inicialmente, o Itamaraty disse que não estava claro se houve uma invasão ou se uma parte dos diplomatas que representam o governo Maduro desertaram e convidaram os apoiadores de Guaidó.

No entanto, em nota divulgada pouco depois pela Presidência da República, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) reconheceu que a embaixada foi invadida “por partidários de Guaidó” e negou participação do governo no episódio, que qualificou de “fatos desagradáveis”. Depois, o governo divulgou uma correção da nota em que retirou a menção a “apoiadores de Guaidó”.

“Como sempre, há indivíduos inescrupulosos e levianos que querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade; o Presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da Embaixada da Venezuela; as forças de segurança, da União e do Distrito Federal, estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade”, diz o comunicado atualizado.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela emitiu um comunicado condenando o que chamou de “ataque cometido por grupos violentos ligados à oposição política venezuelana”.

O texto atribui às autoridades brasileiras uma “atitude passiva” diante da invasão e cobra que o país cumpra suas obrigações como Estado signatário da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas “que estabelece a obrigação de proteger as sedes diplomáticas em qualquer circunstâncias”.

No momento, um diplomata e um policial do Batalhão do Rio Branco (unidade da Polícia Militar do Distrito Federal que cuida da segurança das embaixadas) estão no local mediando as negociações entre os lados e com objetivo de evitar conflitos, já que o Brasil é obrigado por leis internacionais a proteger a integridade de todos os estrangeiros em solo brasileiro.

A unidade consular continuou funcionando sob comando do governo Maduro devido à necessidade do Brasil de também manter sua unidade consular em Caracas dando apoio aos brasileiros que vivem na Venezuela.

Embora o governo de Jair Bolsonaro reconheça Guaidó como presidente da Venezuela, o Itamaraty não esclareceu qual o “desfecho” que interessa ao Brasil nessa mediação.

Em suas redes sociais, Bolsonaro repudiou no início da tarde a “interferência de atores externos” no episódio. Não ficou claro se foi uma crítica a deputados de oposição, como Paulo Pimenta (PT-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ), que foram à embaixada em apoio ao governo Maduro.

“Diante dos eventos ocorridos na Embaixada da Venezuela, repudiamos a interferência de atores externos. Estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, postou o presidente.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, já se manifestou algumas vezes pelo Twitter apoiando a invasão.

“Nunca entendia essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela por que a embaixadora Maria Teresa Belandria, indicada por ele, não estava fisicamente na embaixada? Ao que parece agora está sendo feito o certo, o justo”, postou logo cedo.

Um pouco mais tarde, já depois do governo brasileiro ter divulgado a primeira nota reconhecendo a invasão por partidários de Guaidó, o deputado escreveu novamente em sua rede social: “Embaixada da Venezuela mudou porque funcionários reconheceram Guaidó como presidente legítimo. Invasão é o que ocorre agora com os brasileiros esquerdistas querendo se intrometer na questão”.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu pela manhã com o presidente Jair Bolsonaro para discutir a situação. Às 11h, Bolsonaro teve um encontro bilateral com o presidente chinês Xi Jinping — ambos não mencionaram a Venezuela em breve pronunciamento depois do encontro.

Reconhecimento

María Teresa Belandria Expósito, reconhecida pelo governo brasileiro como embaixadora de Guaidó no Brasil, disse por meio de uma nota que “um grupo de funcionários da embaixada da Venezuela no Brasil se comunicou conosco para nos informar que reconhecem o presidente Juan Guaidó”.

“Eles abriram as portas e entregaram voluntariamente a sede diplomática à representação legitimamente credenciada no Brasil. Esta ação foi imediatamente comunicada ao Ministério das Relações Exteriores”, afirma ainda Belandria no comunicado.

A nota da embaixadora de Guaidó diz ainda que os demais funcionários da Embaixada foram covidados a continuar trabalhando na sede diplomática como representantes do governo autoproclamado.

Segundo a agência de notícias russa Sputnik, o governo de Maduro cobrou do Brasil que garanta a segurança da embaixada venezuelana, em acordo com a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas. 

“O apelo ao governo brasileiro é que ele garanta respeito à imunidade de nossa embaixada sob a Convenção de Viena. Esperamos que isso não se torne um precedente importante”, afirmou o vice-ministro para a Europa do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, ao Sputnik. 

“Não temos muita informação até agora, mas às 4 da manhã (no horário de Brasília) grupos irregulares vinculados a Guaidá entraram violentamente na embaixada na tentativa de ocupar o prédio”, acrescentou Gil, segundo a agência russa.

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