Relatos das vítimas de Pedro Duarte Guimarães a jornal são fortes, como toques íntimos, e ocorreram durante viagens financiadas pelo banco
Nos bastidores da Caixa Econômica Federal, já há algum tempo correm relatos de que seu presidente, Pedro Duarte Guimarães, coleciona episódios de assédio sexual dentro do banco, diz texto de Rodrigo Rangel, Fabio Leite e Jeniffer Gularte, no Metrópoles.
“No fim do ano passado, um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar. Cinco concordaram em dar entrevistas, com identidades preservadas, e disseram que durante compromissos de trabalho se sentiram abusadas, prossegue a matéria.
“Os depoimentos são fortes“, previnem os jornalistas. “As mulheres relatam toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis” com o cargo de Guimarães. Uma investigação está em andamento, diz o jornal, sob sigilo, no Ministério Público Federal.
Vários dos episódios de assédio sexual ocorreram em viagens promovidas pelo banco, quando funcionários e funcionárias ficam hospedados em hotéis.
Leia alguns relatos:
“Dono das mulheres”
Ana afirma que, a depender da proximidade que tem com algumas das mulheres, Pedro Guimarães passa a se sentir “dono” delas. “É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço. Já aconteceu comigo e com várias colegas”, diz. “Ele trata as mulheres que estão perto como se fossem dele.” A reportagem teve acesso a registros que corroboram o relato, mas optou por não exibi-los para não expor a funcionária envolvida. Ana relata que, diante de negativas das subordinadas, ele insiste: “Ele já tentou várias vezes avançar o sinal comigo. É uma pessoa que não sabe escutar não”. “Quando escuta, vira a cara e passa a ignorar. Quando me encontrava, nem me cumprimentava mais”, completa.
“Discos voadores”
Dentro da Caixa, uma prática apontada como comum na atual gestão deu origem a um epíteto: “discos voadores”. Assim são chamadas as mulheres que, durante as viagens pelo país, despertam a atenção do presidente do banco a ponto de ele chamá-las para atuar em Brasília. Por vezes, diz uma das mulheres, funcionárias são promovidas hierarquicamente mesmo sem preencher os requisitos necessários e acabam transferidas para a sede, por conveniência de Guimarães.
“Mulher bonita é sempre escolhida para viajar”
A escolha das mulheres que integram a comitiva de Pedro Guimarães nas viagens do programa Caixa Mais Brasil é feita diretamente pelo gabinete dele, denunciam as funcionárias. As selecionadas são comunicadas, segundo Ana, como quem recebe a notícia de que acabou de ganhar um prêmio. E o critério da seleção, diz Valéria, outra funcionária, é definido de acordo com as preferências de Guimarães: “Tem um padrão. Mulher bonita é sempre escolhida para viajar”. “Ele convida para as viagens as mulheres que acha interessantes”, afirma.
“Você gosta de sauna?”
Entre os relatos há algo que aparece em mais de uma oportunidade: convites, durante as viagens, para as funcionárias irem à piscina ou à sauna na companhia do presidente do banco nos horários de folga na agenda. “Ele me chamou para ir para sauna com ele. Perguntou: ‘Você gosta de sauna?’. Eu disse: ‘Presidente, eu não gosto’. Se eu tivesse respondido que gosto, ele daria prosseguimento à conversa. De que forma eu falo não? Então, eu tenho que falar que não gosto. É humilhante. Ele constrange”, diz Thaís. Ela afirma que, na mesma viagem, Guimarães a beliscou. Thaís diz que aquela foi uma das primeiras vezes em que foi destacada para viajar com o presidente da Caixa. “Ele praticamente nunca tinha me visto antes.” Beatriz, mais uma das funcionárias que se sentiram assediadas, relata que, depois de Guimarães puxar conversa sobre suas habilidades de nadador (na juventude, ele chegou a participar de competições), também recebeu um convite que classifica como estranho para nadar. “Eu falei que não ia”, diz. Ela afirma que recusou por ter entendido que havia segundas intenções no chamado.
“E se o presidente quiser transar com você?”
Cristina diz que, em outra viagem, duas funcionárias da equipe foram chamadas para ir à piscina do hotel encontrar Pedro Guimarães. Ao chegar lá, entenderam qual era a ideia. Primeiro, elas se sentiram constrangidas a assistir à performance dele na piscina. “Ele parecia um boto, se exibindo. Era uma espécie de dança do acasalamento”, diz ela. Depois, afirma, uma das mulheres ouviu uma proposta indecente, feita por uma pessoa bem próxima a Guimarães: “E se o presidente quiser transar com você?”.
Chamados para ir ao quarto
Outro ponto presente nos relatos são os chamados – tarde da noite, inclusive – para funcionárias irem ao quarto de Pedro Guimarães. Duas delas dizem já ter recebido pedidos para que levassem a ele itens dos quais estava precisando com suposta urgência: remédio, carregador de celular, bolsa que havia ficado no carro. “Ele pede carregador de celular, sal de fruta, remédios”, diz Beatriz. Ao chegar ao quarto, dizem as funcionárias, vem o constrangimento.
“Toma um banho e vem aqui para a gente conversar”
Beatriz relata que, em uma dessas situações, esteve na porta do quarto de Guimarães para entregar o que ele pedira e, então, foi convidada a voltar na sequência para “discutir a carreira”. “Ele falou assim: ‘Vai lá, toma um banho e vem aqui depois para a gente conversar sobre sua carreira’. Não entendi. Na porta do quarto dele. Ele do lado de dentro (do quarto) e eu um metro para fora. Falei assim: ‘Depois a gente conversa, presidente’. Achei aquilo um absurdo. Não ia entrar no quarto dele. Fui para meu quarto e entrei em pânico”. Em outra ocasião, ao atender o chamado, a funcionária encontrou Guimarães de samba-canção: “Ele abriu a porta com um short, parecia que estava sem cueca. Não estava decente. A sensação que tinha era que estava sem (cueca). Muito ruim a sensação”. “É hostil”, diz Ana, a outra funcionária que relata já ter sido chamada à noite para ir ao quarto de hotel em que Guimarães estava para entregar um carregador de celular. Beatriz afirma que tem crises de pânico quando é escalada para novas viagens. “Tenho pânico de ter que trabalhar com ele. Tenho medo da pessoa. Agora eu tento literalmente me esconder nas agendas”, afirma. “Agora, quando viajo, coloco cadeira na porta do quarto. Fico com medo de alguém bater.”

Isso não é de hoje que acontece.Sempre haverá os políticos dando as cartas,daí começa uma escala hierárquica em todas as repartições e agências