Mentiras de Bolsonaro sobre a Amazônia são para ocultar dados ‘alarmantes’

Em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro chamou os povos árabes de “amigos” e “irmãos” e garantiu que o país recupera confiança e está de portas abertas para investimentos | Foto de Clauber Cleber Caetano/PR


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

Os números revelados sobre o desmatamento na floresta, que segundo o presidente “não pega fogo“, foram ocultados e teve a divulgação evitada antes da COP26, diz Folha

Agora se entende melhor por que o governo Jair Bolsonaro evitou divulgar antes da COP26 o dado anual de desmatamento em 2021: o número continua a crescer de forma alarmante. Não combinaria com a imagem de país comportado ensaiada na recém-concluída cúpula do clima anunciar 13.235 km² de devastação na Amazônia Legal“, diz o início do editorial intitulado ‘Desmate Pelado‘, da Folha de S. Paulo deste sábado (20/11).

Enquanto isso, o presidente segue desafiando as informações sobre a verdade dos dados com mentiras fajutas que acabam lhe rendendo má fama no meio mais esclarecido da sociedade, como o absurdo que contou a investidores árabes em Dubai, de que “a Amazônia é ‘virgem’ desde 1500“. E em sua live nas suas redes ontem, o presidente voltou a afirmar que “a Amazônia não pega foto porque é úmida“.

Na quinta-feira (18/11), o jornal divulgou que “o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal foi de 13.235 km2 entre agosto de 2020 e julho de 2021“. A estimativa é do Prodes (Projeto de Monitoramento por Satélite) do desmatamento na Amazônia Legal, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O crescimento em relação ao período anterior foi de 21,97%, quando o desmate na região havia atingido 10.851 km2. Neste ano, o estado do Pará liderou o ranking de áreas desmatadas no período, com 5.257 km2, seguido por Amazonas (2.347 km2), Mato Grosso (2.263 km2) e Rondônia (1.681 km2).

Diferentemente do que ocorreu em anos anteriores, o governo federal não criou uma agenda para o anúncio dos dados, que foram publicados no site do Inpe, sem ação de divulgação.

Na última quarta (17), uma nota do SindCT, o sindicato dos servidores públicos federais do setor aeroespacial, denunciou a imposição de sigilo da direção do Inpe sobre o resultado da estimativa anual do Prodes. Segundo a nota, a equipe técnica do Inpe havia submetido o relatório ao governo em meados de outubro, mas o sigilo impedia que a tramitação do processo fosse acompanhada pelos servidores.

A assinatura do documento divulgado pelo governo nesta quinta (18) informa a data de 27 de outubro. No último dia 10, em discurso na COP26, a conferência de mudanças climáticas da ONU, o ministro Joaquim Leite (Meio Ambiente), escolheu citar dados do boletim mensal do Deter/Inpe dos meses de julho a setembro.

“O governo mentiu na COP. Usou dados que apresentavam uma leve queda para anunciar que o governo estava no controle e escondeu os dados do Prodes, que desde 2005 são apresentados antes ou durante as COPs”, afirmou João Paulo Capobianco, ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade.

“Este é o Brasil real que o governo Bolsonaro tenta esconder com discursos fantasiosos e ações de greenwashing no exterior”, afirma Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil. “O que a realidade mostra é que o governo Bolsonaro acelerou a rota de destruição da Amazônia”.

O editorial da Folha diz que “algo como 750 milhões de árvores foram ao chão em 12 meses, enquanto o governo se aliava à banda mais atrasada do agronegócio, manietava Ibama e ICMBio, paralisava demarcações de terras indígenas e quilombolas estipuladas na Constituição e arrancava nacos das unidades de conservação“.

O próprio setor rural, e com ele o país, deverá sentir no bolso as consequências da ação política temerária. Um dia antes de desovar os números atrasados do desmatamento, o governo de Bolsonaro viu a Comissão Europeia propor o banimento de importações de soja e carne ligadas a desmatamento“, prossegue a edição.

E a Folha segue expondo que, “aprovada a moção, o ônus da prova recairá sobre produtores e “traders”: evidenciar que suas commodities não cresceram em terras oriundas de desmatamento, suas próprias ou de terceiros. A pecuária, mais afeita ao negacionismo ambiental e climático, já enfrentava dificuldade com a recusa chinesa a receber carne brasileira, sob alegação de dois casos isolados de doença da vaca louca”.

Agora são os EUA que ameaçam seguir a mesma trilha da pressão“, escrevem os redatores sobre a notícia de que os norte-americanos querem impedir a entrada de carne bovina brasileira em seu território, depois que os chineses fizeram o mesmo, usando qualquer pretexto disponível para pressionar Brasília.

O lobby dos produtores americanos alega que o Brasil não se compromete a informar com a devida presteza eventuais problemas sanitários“, mostra o editorial.

Bolsonaro e seu ministro Joaquim Leite talvez tenham achado que iriam engabelar chefes de Estado e de governo em Glasgow com a mesma facilidade com que inundam as redes sociais com notícias fraudulentas e delirantes. Estão aí os dados para desmoralizá-los“.

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