A facada de Adélio Bispo Oliveira em Bolsonaro ainda é um mistério à procura de uma explicação. É o fato político mais importante da década, porque viabilizou uma mudança radical na política brasileira.
Via GGN – Os efeitos políticos da facada nas eleições eram tão óbvios que, no dia seguinte, Bolsonaro já havia se tornado o franco favorito.
Seria possível simular um atentado tão arriscado, a ponto da vítima correr um risco de vida calculado para viabilizar um projeto político?
Há duas versões para o atentado.
- A versão oficial é que um sujeito, desequilibrado óbvio, decidiu matar Bolsonaro e foi mal sucedido.
- A versão conspiratória é que foi um ato planejado visando garantir a vitória eleitoral de Bolsonaro.
Bolsonaro comparecia a todos os eventos com um colete à prova de balas e de facadas e tinha uma cirurgia marcada, para remover um câncer. Portanto, bastaria simular a facada, conduzir Bolsonaro com segurança a um hospital local e depois transferi-lo para um hospital em São Paulo, para efetuar a cirurgia contra o câncer.
Após o atentado circularam vídeos pelas redes sociais mostrando a extraordinária desenvoltura com que Adélio infiltrou-se pela multidão e passou pelos seguranças até enfiar a faca em Bolsonaro.
Há um complicador nessa versão: o fato de duas equipes de hospitais conceituados, a do Sírio Libanes e a do Alberto Einstein. Ambas foram a Juiz de Fora e Bolsonaro optou pelo atendimento no Alberto Einstein.
Há uma explicação para o ferimento: a de que a faca resvalou por uma brecha no colete, ferindo efetivamente Bolsonaro. O que seria, nessa versão, um acidente de percurso.
Entre essas duas hipóteses, há uma série de evidências que não batem com a versão do crime comum bancado por um psicopata.
São os seguintes fatos.
- A ida anterior de Adélio ao Clube de Tiro frequentado por Eduardo Bolsonaro.
Como um sujeito limítrofe, que trabalhava em um açougue, localiza o clube de tiro em Santa Catarina e vai até lá. E vai para quê? Até agora não houve uma resposta satisfatória.
Análise de probabilidade:
- Hipótese 1 – foi até lá combinar os detalhes do atentado: 70% de probabilidade
- Hipótese 2 – Foi até lá para conhecer o ambiente de treinamento do filho de Bolsonaro, sabe-se lá para quê: 30% de probabilidade
- A ida de Adélio à Câmara Federal para uma visita a um deputado do PSOL.
O sujeito, que hipoteticamente planeja um crime de repercussão nacional, vai até a Câmara e deixa um registro oficial de visita a um parlamentar do PSOL. Depois, se descobre que ele nunca teve nenhuma relação com o PSOL.
Análise de probabilidade:
- Hipótese 1 – foi com a intenção de criar um falso vínculo com o PSOL para estabelecer uma motivação política para o atentado: 50% de probabilidade.
- Hipótese 2 – tinha uma simpatia política pelo PSOL: 50% de probabilidade.
- O papel dos advogados de defesa.
Da noite para o dia aparecem advogados de Belo Horizonte, indo de jatinho a Juiz de Fora, para defender Adélio. Fazem mais do que isso: isolam-no completamente de qualquer contato com a imprensa. E demonstram tal influência, que conseguem manter o isolamento total até hoje.
Ou foram bancados por grupos bolsonarista, visando manter Adélio a salvo da óbvia falta de vontade de cobertura da mídia; ou por grupos ligados à Igreja de Adélio, que jamais foram identificados.
Tempos depois, o deputado federal Fernando Francisquini, uma das pontas de lança do bolsonarismo, entrou com ação na Justiça para impedir Adélio de dar uma entrevista.
Análise de probabilidade:
- Hipótese 1 – foram bancados por grupos bolsonaristas: 70% de probabilidade.
- Hipótese 2 – foram bancados por grupos que queriam a morte de Bolsonaro: 25% de probabilidade. Se houvesse qualquer indício de conspiração contra Bolsonaro, não haveria como não ser descoberta.
- Hipótese 3 – foram bancados por grupos ligados à igreja de Adélio: 5% de probabilidade.
- O papel da Polícia Federal.
As investigações concluíram pela ação individual de Adélio. Bolsonaro reagiu com fúria, não aceitando as conclusões do inquérito – mas nada fez para avançar nas investigações.
Não bate. O presidente controla completamente a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Qual a razão, até agora, para jamais ter se chegado aos financiadores dos advogados de Adélio? Respeito às prerrogativas de advogados? Com Sérgio Moro? Conte outra!
O carnaval de Bolsonaro, exigindo novas investigações, criticando o fato de não se chegar aos financiadores dos advogados, não bate com o poder de polícia quase ilimitado de seu Ministro da Justiça. Se houvesse vontade política, o caso seria resolvido e a identidade de quem contratou os advogados seria levantada em dois tempos. E não haveria nenhuma força oculta capaz de demovê-lo dessa empreitada. Não se levantaram os nomes dos responsáveis porque não é de interesse de Bolsonaro levantar. Simples assim.
A versão da conspiração contra Bolsonaro seria muito complexa de administrar porque envolveria outros personagens e situações, incluindo inúmeras variáveis que poderiam ser desmentidas, em qualquer falha de narrativa. Apontar Adélio como único responsável resolveria a questão e mataria qualquer tentativa de aprofundar o inquérito.
Análise de probabilidade.
- Hipótese 1 – ocultar as motivações políticas pró-Bolsonaro: 70% probabilidade.
- Hipótese 2 – aceitar como verdadeiras as conclusões do inquérito, de ação individual de um alucinado: 30% de probabilidade.`
Pode ser que tudo não passe uma teoria da conspiração. Mas a sucessão de fatos sem respostas sugere que há mais segredos entre o céu e a terra do que supõe a vã teoria dos idiotas da objetividade.