Ex-comandante do Exército chama guru do presidente de ‘Trótski de direita’

Militares reagem e dão recado a Bolsonaro em crise com ala ideológica – generais avaliam haver omissão do mandatário na disputa

O agravamento da crise entre os militares e a chamada ala ideológica do governo Jair Bolsonaro (PSL) levou a uma reação do Alto Comando do Exército, que considera o presidente omisso na disputa e quer estabelecer um limite ao que vê como desrespeito institucional.

O recado foi dado pelo mais respeitado general da reserva, uma vez que oficiais da ativa não poderiam se manifestar.

Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército de 2015 até o começo deste ano, chamou o escritor Olavo de Carvalho de “Trótski de direita”, ao criticar o patrono da ala ideológica associando-o ao líder comunista soviético Leon Trótski.

“Mais uma vez o senhor Olavo de Carvalho a partir de seu vazio existencial derrama seus ataques aos militares às Forças Armadas, demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia”, escreveu.

Para ele, Olavo é um “verdadeiro ‘Trótski de direita’, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”.

Villas Bôas hoje é assessor do também general da reserva Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional, e sua fala reflete o que pensa a maioria do Alto Comando do Exército, mais importante colegiado militar brasileiro.

O grupo já tinha reunião administrativa rotineira marcada para a segunda-feira (6), e a crise foi debatida.

O atual capítulo da crise gira em torno das críticas de Olavo ao general Carlos Aberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo e responsável pela Secom (Secretaria de Comunicação).

Há semanas Olavo critica Santos. O escritor é a principal influência sobre Carlos e Eduardo, os mais vocais filhos de Bolsonaro, e de um grupo no governo integrado pelos titulares do Itamaraty e do Ministério da Educação.

Para o escritor, Santos Cruz e os militares em geral são um entrave às mudanças sociais propostas pelo bolsonarismo.

No fim de semana, as redes bolsonaristas replicaram uma crítica feita pelo humorista Danilo Gentili.

Ele viu numa frase de Santos Cruz durante entrevista em abril a sugestão de censura às redes sociais.

Na verdade, o ministro falava em legislação acerca de abusos. Mas foi o suficiente para que Olavo se manifestasse, postando: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda”.

No final de semana, o presidente postou no Twitter uma frase pregando a liberdade de expressão na internet, o que levou Santos Cruz a se queixar pessoalmente com ele.

Segundo a Folha apurou junto a interlocutores de ambos, a conversa na noite de domingo (5) foi dura. Bolsonaro e Santos Cruz se conhecem há três décadas e, segundo um oficial, nunca haviam se estranhado tanto.

Isso dito, combinaram de tentar abafar a crise, e Santos Cruz manteve uma agenda na Amazônia na segunda.

O próprio Bolsonaro falou sobre o tema. “Temos coisas muito mais importantes para discutir no Brasil. Aqueles que, por ventura, não têm tato político, estão pagando um preço junto à mídia. Mas não existe grupo de militares nem grupo de Olavos entre nós, é tudo um time só“, afirmou.

Já o vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão, foi menos diplomático. “Esses ataques [do escritor] são totalmente sem nexo. Se nós ignorarmos, será muito melhor para todo mundo”, disse.

Mourão era o alvo principal das críticas de Olavo até há pouco tempo. Na semana retrasada, a crise havia atingido outro pico com as críticas diretas de Carlos Bolsonaro, que é vereador pelo PSC do Rio, ao general. Ele o considera um candidato a usurpar a cadeira do pai.

Bolsonaro não enquadrou o filho, mas a ação de oficiais como Heleno acabou por reduzir a intensidade dos atritos —até este final de semana, como a manifestação de Villas Bôas deixou claro.

A novidade é que a crítica do ex-comandante veio após Bolsonaro tomar partido contra Santos Cruz no episódio da suposta censura às redes sociais. Isso é um indicativo do desconforto de oficiais da ativa, que gostariam de ver uma defesa mais assertiva da corporação.

No Planalto, a ordem é baixar a fervura. Cogita-se a saída da Secom —comandada por um empresário próximo de Bolsonaro, Fábio —Wajngarten da alçada de Santos Cruz.

Há divergências sobre os rumos da comunicação. Carlos, gestor da estratégia digital do pai, já fez críticas diretas ao setor. No entorno familiar do presidente, há queixas sobre o poder do general da ativa Otávio do Rêgo Barros, o porta-voz do Planalto.

via Folha de São Paulo

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