“Eu acho que há uma certa miopia da UE”, diz Carlos França ao Finantial Times

O chanceler Carlos França / Getty Images e o texto em inglês do título da matéria no Finantial Times, deste domingo (28/11)


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

O jornal inglês diz que o Brasil se irritou com Bruxelas por conta da proposta de aplicar uma lei que suspende importações de produtos de áreas desmatadas

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, fez ataques à UE (União Europeia) acusando-a de “protecionismo comercial” e “miopia” depois que o bloco propôs a proibição das importações agrícolas de áreas desmatadas, destacando a França por críticas específicas sobre subsídios agrícolas, diz matéria no jornal inglês Finantial Times, neste domindo (28/11).

O Parlamento Europeu, em Bruxelas, propôs este mês, uma lei para forçar as empresas a vender carne bovina, soja, óleo de palma, café, cacau e madeira no bloco para provar que as commodities não foram produzidas em terras que foram desmatadas ou degradadas depois de 2020.

O Brasil é um grande exportador de muitos dos produtos visados ​​e a iniciativa da UE reacendeu tensões de longa data com o governo do presidente brasileiro de extrema direita, Jair Bolsonaro, que vê segundas intenções por trás da proposta do bloco.

França, em entrevista ao Finantial Times, afirmou que não pode “aceitar que o meio ambiente seja usado como forma de protecionismo comercial“. O chanceler disse ainda que “é ruim para o consumidor, o fluxo comercial. Eu acho que há uma certa miopia da UE”.

O projeto de lei do Parlamento Europeu foi publicado pouco antes da revelação de novos dados de satélite mostrando que a destruição da Amazônia brasileira atingiu seu pico em 15 anos, gerando novas questões sobre o compromisso do governo de proteger a maior floresta tropical do mundo.

Mais de 13.200 quilômetros quadrados foram arrasados ​​nos 12 meses até julho – uma área mais de oito vezes o tamanho de Londres, escrevem os jornalistas Michael Stott e Michael Pooler.

O aumento representa um salto de 22 por cento em relação ao ano anterior, de acordo com dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Foi a taxa mais rápida de desmatamento na Amazônia brasileira desde 2006.

Os números ofuscaram os aplausos que o Brasil ganhou pelos compromissos que assumiu na cúpula sobre mudança climática na COP26, neste mês em Glasgow, como, por exemplo, a promessa de reduzir o desmatamento ilegal até 2028, além de outra meta mais ambiciosa até 2050.

Um diplomata ocidental em Brasília, cujo nome não foi revelado pelo Finantial Times, afirmou, segundo o jornal, que “os números [do desmatamento] são chocantes. O Brasil tem um sério problema de credibilidade”.

Enquanto isso, França tentou minimizar a situação afirmando ao FT que os últimos dados de destruição florestal, apesar de “surpreendentes”, “não são tão ruins quanto parecem” porque houve uma melhora desde julho. Os dados do Inpe de agosto, setembro e outubro deste ano sugerem uma redução de 28% no número de incêndios florestais.

Não há vontade do brasileiro de esconder o problema”, acrescentou o ministro das relações exteriores, Carlos França. “Quando há desmatamento ilegal, muitas vezes está vinculado a outros crimes, como infrações trabalhistas, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. Estamos tratando isso como um assunto policial e isso está gerando resultados”, afirmou.

O Brasil se orgulha de seu setor agrícola tecnologicamente avançado e altamente produtivo, e as autoridades costumam enfatizar que a vasta maioria das exportações agrícolas do país vem de terras devidamente manejadas no centro e sul do país, e não de florestas desmatadas ilegalmente na Amazônia.

França destacou, nas críticas, o apoio estatal da França ao setor agrícola.

Eu entendo as razões políticas internas que o governo francês tem para apoiar seus agricultores. Não é ambientalmente correto que eles deem subsídios“. A terra e a água são recursos escassos e operá-los de forma ineficiente não é sustentável.

É melhor plantar aqui no Brasil, onde a agricultura está cada vez mais avançada tecnologicamente, do que produzir na França”, disse o chanceler ao Finantial Times.

Os atritos entre o Brasil e seus homólogos europeus contribuíram para um impasse na ratificação de um acordo comercial cuidadosamente negociado ao longo de 20 anos entre a UE e o Mercosul, bloco que também inclui Argentina, Paraguai e Uruguai.

Bruxelas está relutante em avançar na ratificação do acordo por causa da forte oposição de alguns Estados membros que acreditam que o Brasil em particular não está fazendo o suficiente para combater o desmatamento.

França concordou que o pacto comercial “não estava avançando”.

Um porta-voz do Itamaraty acrescentou: “Não somos a parte que está obstruindo o negócio, o Brasil está pronto para seguir em frente”.

Carlos França – um diplomata de carreira discreto, descreve o Finantial Times, que serviu por períodos nos Estados Unidos, Bolívia e Paraguai, foi anteriormente chefe de protocolo no palácio presidencial de Bolsonaro.

Foi nomeado ministro das Relações Exteriores em março, no lugar de Ernesto Araújo – um ideólogo declarado do movimento bolsonarista conhecido por sua admiração por Donald Trump, antipático ao “globalismo” e acusado de hostilidade à China.

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