Brasil pode se tornar ameaça global na Saúde e estagnar com pandemia passando de aguda a crônica

Monica de Bolle afirma que sem vacinas países com imunização lenta favorecem mais mutações despertando a preocupação de todo o planeta, mas somando-se a problemas na Amazônia o cenário se tornará ainda pior

A economista brasileira, Monica de Bolle, que se especializou em imunologia genética pela Universidade de Harvard e integra o Observatório Covid, alerta que uma vacinação desigual amplia as dificuldades de recuperação econômica de países emergentes.

Ela explica que, ao ficar sem vacinas, países mais pobres podem favorecer que mais mutações surjam, ameaçando todo o planeta. Para o Brasil, contudo, ela prevê um cenário ainda pior, com a ampliação do debate ambiental somado ao sanitário.

Em entrevista ao jornal O Globo, de Bolle afirma que “as diferentes velocidades de aplicação da vacina no mundo” provocam “defasagens de recuperação” e alguns países “correm o risco de estagnação, ou de uma recuperação muito aquém do que poderia ser com a vacinação no mesmo ritmo dos países desenvolvidos”.

Segundo a economista, “a ampliação da desigualdade entre os países já está ocorrendo, pela diferença na velocidade da vacinação” e “há o risco do aumento da pobreza relativa pelo mundo.

Isso porque “a epidemia descontrolada em alguns países amplia a chance de surgimento de novas variantes do vírus”, como é o caso no Brasil e em outras economias do mundo. Estamos nesta situação “devido à incrível falta de visão do governo, que poderia ter articulado mais vacinas”, afirma de Bolle acrescentando que “há a perspectiva de que vamos sair da pandemia aguda para entrar na pandemia crônica”.

Monica de Bolle diz que teremos debates sobre atualização de vacinas e fluxo de novas cepas em paralelo com a preocupação do surgimento de novos vírus. E aí entra a questão do meio ambiente.

“Quanto mais a gente entra nos habitats naturais, onde estão os repositórios naturais destes vírus, mais a humanidade fica exposta, de modo geral, ao contato de novos vírus. As atenções, em relação ao Brasil, vão estar cada vez mais voltadas ao desmatamento na Amazônia. Não se trata apenas de uma questão climática, tem a questão pandêmica. Está cheio de repositório viral na Amazônia”.

“O Brasil será visto não apenas como um país que não conseguiu controlar sua pandemia, atrasou na vacinação, mas como um país que está colocando o resto da Humanidade em risco, se continuar com as atuais políticas ambientais”, afirma a economista.

“É inevitável”, enfatiza. “Com a falta de vacina por problemas de planejamento, o isolamento do Brasil tende a ser maior, inclusive maior isolamento comercial”.

Sobre esta falta de vacina por planejamento, de Bolle diz que somente no início do segundo semestre deste ano será possível “ter uma ideia melhor de quantas doses de vacina irão sobrar nos países ricos. Então provavelmente haverá uma reordenação destas vacinas, o que pode suprir um pouco essa defasagem de doses em muitos países emergentes”.

Contudo, as coisas poderão piorar. Segundo de Bolle, “as vacinas dos países desenvolvidos usam um pedaço da proteína spike do vírus, não o vírus inteiro. E as mutações que temos visto até o momento alteram justamente esta proteína. Se surgir uma cepa com mutações a ponto de requerer uma atualização das vacinas, estamos falando de todas as vacinas dos países ricos”.

Mas, ainda que hipoteticamente, haveria uma possível exceção, segundo de Bolle, que seriam “as vacinas de vírus inativado, que usam o vírus inteiro e podem ter uma resposta melhor a mutações da proteína spike. Entre elas estão a Coronavac e as vacinas indianas. Se elas se saírem melhor, o mundo inteiro pode, enquanto estiver atualizando suas vacinas, ficar dependente da China e da Índia, atrasando toda a vacinação global e gerando uma nova disputa por imunizantes”.

Para de Bolle, o papel de Donald Trump, enquanto presidente, e aqueles que o seguiram, prejudicaram parte da estratégia mundial no combate à doença e a cooperação internacional teria sido melhor. Ela lembra que além de sua “posição negacionista” o ex-presidente também retirou os EUA da OMS (Organização Mundial da Saúde), que perdeu recursos.

Contudo, de Bolle acredita que se Trump não passasse pela Casa Branca tal cooperação não seria perfeita porque “nessas horas os países ficam com a mentalidade de cada um por si, a vacina vira uma questão de política interna, não tem jeito”. Para ela, a China, Índia e Indonésia ganharão espaço geopolítico pois estão ampliando a doação de vacinas.

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