Bolsonaro pode ter inspirado livro “A Fábrica de Impostores”, de autoria de psicanalista francês



Em sua postagem mais recente (28/12) intitulada “Balance de 2019: el imperio de la impostura“, escrito em espanhol, o filósofo Leonardo Boff aborda a impostura do presidente Jair Bosonaro:

Instalou-se aqui o império da impostura. Um presidente que deveria dar exemplo ao povo de virtudes que todo governante deve ter, realizou atos acintosos que na linguagem religiosa, bem entendida por ele, são verdadeiros pecados mortais.”, diz Boff no início de seu artigo.

Na publicação, o também teólogo Boff, faz duras críticas a Bolsonaro e à sua equipe de Governo, que saem ganhando com uma crise imposta ao Brasil em detrimento dos mais pobres.

No transcurso da matéria em seu site, Leonardo Boff liga o perfil de nosso governante com perfis de outros líderes políticos descritos por “um psicanalista francês, Roland Gori[que] escreveu um instigante livro “La fabrique des imposteurs” [A fábrica de impostores] (Paris 2013).

Segundo Roland Gori, “o impostor é aquele que prefere os meios aos fins, que nega as verdades científicas, que distorce a realidade solar, que não se rege por valores porque é apenas um oportunista, que afirma algo e logo depois o nega conforme suas conveniências, que pratica a arte de iludir as pessoas ao invés de emancipá-las pelo pensamento critico, que despreza o cuidado pelo meio ambiente, que passa por cima das leis, que culpabiliza os pobres e que não demonstra  amor nem  piedade.

Leonardo Boff acrescenta: “O que transcrevi aqui está referido no livro “La fabrique des imposteurs” e representa um retrato da atmosfera de impostura reinante nas mais altas instâncias políticas do Brasil.

Leia a transcrição completa da matéria de Boff:

“Afora os grandes empresários que aplaudem calorosamente o ministro Paulo Guedes porque ganham com a crise, o balanço de 2019 na perspectiva das vítimas dos ajustes fiscais, dos que perderam direitos na reforma da previdência e dos resistentes é repudiável.

Instalou-se aqui o império da impostura. Um presidente que deveria dar exemplo ao povo de virtudes que todo governante deve ter, realizou atos acintosos que na linguagem religiosa, bem entendida por ele, são verdadeiros pecados mortais.

Pela moral cristã mais tradicional é pecado mortal caluniar certas ONGs, bem como ator Leonardo di Caprio, culpando-os de incentivar os incêndios da Amazônia ou difamando o reconhecido educador Paulo Freire e o cientista Ricardo Galvão ou mentir contumazmente mediante fake news e alimentar ódio e rancor contra homoafetivos, LGBTI, indígenas, quilombolas, mulheres e nordestinos.

A lentidão no julgamento do massacre de Brumadinho-MG e de Mariana-MG está mostrando a insensibilidade das autoridades.

Algo parecido ocorreu com o derrame ignoto(?) de petróleo em 300 praias de 100 municípios do Nordeste.

Não cabe a ninguém julgar sua intenção subjetiva. Isso é coisa para Deus. Mas cabe fazer um juízo  sobre fatos e atos, portanto, realidades objetivas e concretas para as quais cabe um juízo ético e teológico.

Tal atitude imoral foi entendida por muitos como carta branca para desmatar mais, assassinar lideranças indígenas e a polícia tornar-se mais violenta e até assassina.

Estamos vivendo sob o império da impostura no campo nacional e no internacional.

Um psicanalista francês, Roland Gori escreveu um instigante livro “La fabrique des imposteurs”(Paris 2013).

O impostor é aquele que prefere os meios aos fins, que nega as verdades científicas, que distorce a realidade solar, que não se rege por valores porque é apenas um oportunista, que afirma algo e logo depois o nega conforme suas conveniências, que pratica a arte de iludir as pessoas ao invés de emancipá-las pelo pensamento critico, que despreza o cuidado pelo meio ambiente, que passa por cima das leis, que culpabiliza os pobres e que não demonstra  amor nem  piedade.

Roland Gori

O que transcrevi aqui está referido no livro “La fabrique des imposteurs” e representa um retrato da atmosfera de impostura reinante nas mais altas instâncias políticas do Brasil.

As medidas contra a educação, a saúde, a ciência, ao meio ambiente e aos direitos humanos concretiza a mais rude impostura contra tudo o que se construiu de positivo nos últimos decênios.

Somos conduzidos a um estágio regressivo, anterior ao iluminismo, numa mentalidade fundamentalista com viés fascistóide.

Talvez o ato para nós mais humilhante foi o gesto de vassalagem explícita do atual governante [Bolsonaro] ao presidente dos USA, oferecendo-lhe o que podia sem receber nada em troca.

Risível e ridículo foi quando, numa recepção de chefes de estado ele diz a Trump “I love you” e recebe apenas 17 segundos de atenção.

A impostura grassa veemente, em primeiro lugar, nos USA onde o presidente Trump, segundo repete Paul Krugman, Nobel de economia, constitui um perigo para a humanidade.

Mente a mais não poder e se justifica ao dizer que são “verdades alternativas”. Igual impostura ocorre nos países ultra neoliberais onde o povo se rebela como no Chile, no Equador,na Colômbia, culminando com um golpe de estado contra a população indígena e seu representante na Bolívia, lançando o povo na fome e no desespero.

Perigosa impostura ocorreu na COP25 em Madrid que contra todas as evidências e dados científicos predominaram os negacionistas do aquecimento global, o Brasil incluído.

Contra eles o relatório final recolhe a advertência da ONU:”Se nada fizermos, no final do século, a temperatura pode aumentar de 4-5 graus”.

Com estes níveis, a vida que conhecemos não subsistirá. Será um verdadeiro Armagedom ecológico.

Nossa espécie correrá perigo.

Não obstante esta atmosfera tenebrosa cabe celebrar a libertação de Lula, vítima da aplicação da law fare, instrumento de perseguição política com o objetivo de prendê-lo.

O que ocorreu.

Termino com as palavras severas do prêmio Nobel de medicina de 1974, Christian de Duve:

A perspectiva não é apenas preocupante: é aterrorizante. Se não conseguirmos conter o crescimento demográfico (poderia dizer o aquecimento global) racionalmente, a seleção natural fará isso por nós irracionalmente, às custas de privações sem precedentes e de danos irreparáveis ao meio ambiente. Tal é a lição que quatro bilhões de anos  nos oferece a história da vida na Terra”(Poeira vital 1997,369).



Cristian de Duve

Bem o enfatizava o Papa Francisco em sua encíclica ecológica:”as previsões catastróficas não se podem olhar com desprezo e ironia”(n,161).

A impostura nos faz surdos a estes clamores. Por causa disso, o destino humano dificilmente escapará de uma tragédia.

Leonardo é teólogo e filósofo e escreveu: ‘A saudade de Deus-a força dos pequenos’, Vozes 2019.

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