EUA desafiam Rússia com mísseis ‘bacanas’, novos e inteligentes que estão chegando à Síria



O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subiu o tom contra a Rússia nesta quarta-feira (11) e avisou que mísseis “bacanas, novos e inteligentes” estão chegando à Síria.

O anúncio da ação militar acontece quatro dias após o governo de Bashar Al-Assad ser acusado de lançar um ataque químico que matou dezenas na região de Guta Oriental, no sábado.

“A Rússia promete derrubar todos e quaisquer mísseis lançados contra a Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles estão chegando, bacanas, novos e “inteligentes”! Vocês não deveriam ser parceiros de um animal que usa gás para matar o seu povo e gosta disso”, afirmou Trump no Twitter, fazendo referência ao ataque ocorrido no sábado (7). As tropas de Assad teriam utilizado um gás tóxico na ação.

“Nosso relacionamento com a Rússia é pior agora do que nunca, e isso inclui a Guerra Fria. Não há razão para isso. A Rússia precisa de nos ajudar com sua economia, algo que seria muito fácil de fazer, e precisamos que todas as nações trabalhem juntas. Vamos parar a corrida armamentista?”, escreveu ainda o americano, num outro post no Twitter.

A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores russo respondeu ao pedido do americano dizendo que seria uma “grande ideia” acabar com a corrida armamentista. “Comecemos com as armas químicas dos EUA”, retrucou.

Logo após a declaração de Trump, o chanceler russo, Serguei Lavrov, também se manifestou, afirmando que os mísseis americanos deveriam ser direcionados a terroristas, não para um “governo legítimo”.

Nesta manhã, o governo russo já tinha feito uma advertência para o perigo de qualquer ação no país. “Como antes, esperamos que todas as partes evitem qualquer ação, que em nenhum caso seria justificável e que poderia desestabilizar a já frágil situação da região. A situação atual é muito tensa”, afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

O Ministério de Relações Exteriores da Síria acusou os americanos de usarem “invenções e mentiras” como desculpa para atacar seu território. “Nós não ficamos surpresos com uma escalada tão impensada por parte de um regime como o dos Estados Unidos, que financiou o terrorismo na Síria e ainda o faz”, disse a agência de notícias estatal Sana, citando uma fonte oficial do ministério.

O Observatório Sírio para Direitos Humanos, órgão com sede no Reino Unido que monitora a guerra síria, afirmou que forças pró-governo na Síria estão esvaziando importantes aeroportos e bases aéreas militares – o que dá indício de uma preparação para um possível ataque americano.

O Pentágono disse à agência Reuters que não comentará potenciais ações militares futuras.

Ameaça de ataque americano

americano

Trump vem ameaçando há dias dar uma resposta ao suposto ataque químico na cidade de Duma. Já no domingo (8), em uma mensagem no Twitter, ele afirmou que Rússia e Irã eram responsáveis por apoiar o “animal” Assad e que haveria um “grande preço” a pagar.

Na segunda-feira, o presidente americano anunciou que tomaria uma “decisão importante” sobre o assunto. “Estamos estudando a situação e falando com líderes militares, e tomaremos alguma decisão importante nas próximas 24 a 48 horas”, afirmou.

Nesta terça, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que estava estudando “questões técnicas” sobre uma possível ação militar contra a Síria junto com os EUA e o Reino Unido.

E, após o fracasso em um acordo nas votações de resoluções que propunham investigações sobre armas químicas na Síria no Conselho de Segurança da ONU, a possibilidade de um ataque americano se tornou ainda mais provável.

Primeiro ataque americano

Há um ano, em 6 de abril de 2017, os Estados Unidos já atacaram diretamente a Síria, em uma reação contra um ataque químico atribuído ao regime de Bashar Al-Assad, que havia deixado 86 mortos dois dias antes.

Naquela ocasião, forças americanas lançaram 59 mísseis Tomahawk contra a base aérea de Al Shayrat, perto de Homs. Os mísseis foram lançados de dois porta-aviões e tiveram como alvos “aeronaves, abrigos de aviões, áreas de armazenamento de combustível, logística e munição, sistema de defesa aérea e radares”.

O Pentágono afirmou que aproximadamente 20% do poderio aéreo das forças sírias foi destruído no ataque de abril de 2017, mas o governo local afirmou que a base já estava operando novamente dois dias depois.

EUA e Rússia em lados opostos

A guerra da Síria, que entrou em março no seu 7º ano, teve início com protestos inspirados pelas revoluções da Primavera Árabe, reagindo à prisão e tortura de dois adolescentes que tinham grafitado o muro de uma escola. Com a repressão violenta das forças de segurança, os protestos foram se espalhando pelo país e se transformando em uma revolta armada de vários grupos com o objetivo de derrubar o regime de Assad.

O mais recente balanço do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) indica que mais de 500 mil pessoas morreram.

No decorrer do conflito, ainda durante o governo de Barack Obama, os EUA mantiveram uma participação hesitante, possivelmente pelo temor de repetir o fracasso da intervenção no Iraque. Quando, em 2012, Assad chegou perto de uma derrota militar, Obama se recusou a um maior envolvimento, ainda que condenasse fortemente os ataques do governante sírio contra o próprio povo.

A política do presidente Donald Trump é igualmente hesitante. Seus objetivos declarados são a destruição do Estado Islâmico e a contenção da influência regional do Irã. É por isso que o envolvimento dos EUA se limita à presença de forças especiais e ataques aéreos individuais.

Assim, a participação americana na Síria não desempenha um papel realmente decisivo. Em vez disso, foi a Rússia que interveio na guerra civil, mas ao lado de Assad. Quando o ditador sírio se encontrava praticamente num beco sem saída, Moscou o ajudou.

Em 2015, deu início ao seu apoio militar ao regime sírio alegando ter o objetivo de lutar contra o terrorismo. Mas os ataques russos se dirigiram não somente contra o Estado Islâmico e outros grupos jihadistas, mas também contra muitos outros adversários de Assad.

Depois do isolamento da Rússia devido à crise da Ucrânia, Putin quis reposicionar seu país no cenário internacional, principalmente como potência atuante no Oriente Médio. E foi bem-sucedido nisso. O presidente sírio também lucrou com a intervenção russa reconquistando grande parte da Síria.

Os maiores sucessos militares dos russos aconteceram em Aleppo e Palmira. Nesse contexto, no entanto, o Kremlin ignorou diversas acusações de crimes de guerra contra civis. Além disso, a Rússia e o Irã compartilham o objetivo de diminuir a influência dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Urbs Magna via G1

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